Uma aula de como colocar uma equipe para correr e vencer foi o que a equipe Specialized fez com Victor Koretzky, Cristopher Blevis e Martin Vidaurre para tomar todo o pódio de Araxá. Pela primeira vez na história do MTB três brasileiros se colocam no top 15 da Elite e no feminino Samara Maxwell se torna a primeira neozelandesa a vencer uma etapa de XCO da Copa do Mundo. A Copa do Mundo começou com altas doses de emoção e com Schurter e Forster pulando a cerca e fazendo um pódio com 5

O traçado de Araxá revela sempre grandes disputas, e nesta abertura da temporada 2025 da Copa do Mundo, não foi diferente. Na prova feminina a troca geracional pode estar começando, a jovem Samara Maxwell soube ler os movimentos das adversárias para atacar no meio da prova, tomar a ponta abrir vantagem e ainda dosar energias para chegar com tranquilidade e vencer.
Na prova masculina o jogo da perfeição com a Specialized Factory Team – a dupla Koretzky/Blevins, a exemplo do que já havia feito no dia anterior no XCC – agora foi além e praticamente atacou desde o início abrindo terreno e se distanciando do grupo, mais atrás seu companheiro de equipe, o chileno Martín Vidaurre fez o ‘tampão’ segurando o pelotão, brecando investidas até o meio da prova quando deu sinais que perdia velocidade, manteve-se no grupo para ainda ter forças no final para fazer o 1,2,3 da casa californiana.
Na Elite feminina: a nova geração está chegando
Pouco a pouco a elite feminina do cross-country começa a fazer a troca geracional e a neozelandesa Samara Maxwell faz parte desse grupo que está chegando com força – que ainda tem a alemã Kira Böhm, a dinamarquesa Heby Pedersen e a canadense Emily Jhonston, a estadunidense Madigan Munro e a já consagrada Mona Mintterwallner.
No sábado Samara já havia conquistado a segunda posição no XCC, e só não venceu porque a campeã mundial – Evie Richards foi perfeita. No domingo ela soube se posicionar no grupo certo, entrou na ponta com a suíça Jolanda Neff e a sueca Jenny Rissveds que forçaram muito o ritmo na subida para tomar a ponta do pelotão seguidas por Savilia Blunk, Jennifer Jackson, e um grupo que se esticava pelo circuito, hoje com piso seco mais compactado e um pouco húmido em alguns trechos graças a chuva leve que caiu no dia anterior.

Na segunda volta, Rissveds assume o comando, porém com um ritmo mais controlado, enquanto Neff perdia posições após sofrer uma queda e Maxwell já se posicionando na disputa pela ponta do grupo, ao lado de sua companheira de equipe Savilia Blunk, e um grupo que apesar de esticado não perdia terreno e mantinha muitas favoritas agrupadas.
A sueca insistia em forçar o ritmo a cada passagem pela subida, e manteve-se muito forte até a quarta volta quando ela conseguiu se destacar e abrir uma boa vantagem de 15 segundos sobre o grupo onde estavam Maxwell, Nicole Koller, Blunk, a canadense Jenniffer Jackson e a sul-africana Candice Lill.
Savilia Blunk teve energia suficiente para aumentar o ritmo e encurtar a distância, sendo seguida pelo grupo a uma curta distância; em uma descida curta Blunk chegou a tomar a ponta, mas Rissveds respondia com força e mantinha-se no comando. Na sexta volta a neozelandesa assume a ponta levando em sua roda sua companheira de equipe Blunk, as suíças Koller e Keller, Lill e a canadense Jackson que sofria com o cansaço e as dores de uma queda no início da prova.
Na entrevista ao final da prova, Samara lembrou que chegou a pensar que essa vitória nunca viria. Afinal, ela fez uma pausa na carreira para lidar com um distúrbio alimentar que reduz seus níveis de energia.
“Eu realmente não consigo acreditar, Jenny ( Rissveds )] estava tão forte no começo e eu estava no limite o tempo todo. Nas descidas, tenho trabalhado muito duro tecnicamente durante o verão nas minhas habilidades. Então era só uma questão de chegar à frente e eu simplesmente consegui”, explicou a vencedora em Araxá.
Ao ser questionada sobre quando ela acreditou que venceria em Araxá, Maxwell respondeu: “Na linha de chegada. Sinceramente, eu não conseguia acreditar, eu só ficava dizendo a mim mesma ‘isso é para uma vitória na Copa do Mundo”.

E ainda revelou: “A equipe tem sido incrível para mim. Passei por momentos difíceis nos últimos anos e a equipe me apoiou e disse: ‘Não importa o que você faça, contanto que você coloque sua saúde e você mesmo como pessoa em primeiro lugar, nós o apoiaremos’.
Eles estavam dispostos a me apoiar me afastando do time de mountain bike por alguns anos para voltar saudável porque eles acreditaram muito em mim. Então, fazer tudo dar certo para essas pessoas incríveis é a parte mais especial.”, finalizou uma emocionada Maxwell
Masterclass de como dominar uma prova de MTB
Poucas vezes ao longo das 35 edições da Copa do Mundo foi possível assistir a um trabalho de equipe que flertou com a perfeição. A Specialized Factory Racing deu aula em Araxá. Se no dia anterior no circuito curto, repetindo o duelo de 2024 – Victor Koretzky e Christopher Blevins dominaram a prova, com o estadunidense superando o francês no sprint, no domingo além do domínio de ponta a ponta, eles contaram com a colaboração que para muitos pode ter passada despercebida mas que foi fundamental para que eles conseguissem ampliar a vantagem do seu companheiro de equipe, o chileno Martin Vidaurre.

A dupla Koretzky/Blevins partiu praticamente ‘de bandeira’ e ao final da primeira volta já tinham mais de 9 segundos de vantagem sobre o dinamarquês Simon Andreassen, e o suíço Schurter que tentavam dar combate; o sexto colocado estava a 15 segundos e um pelotão que se esticava e lutava para manter-se agrupado com o chileno Vidaurre neutralizando o ataque de Andreassen e Schurter já na segunda volta.
Blevins e Koretzky estavam correndo no que pode ser chamado de ‘tandem’ – havia um comum acordo: ritmo alto, troca de posições no tempo certo e abrir, abrir e abrir vantagem que na segunda volta era de 35 segundos sobre o grupo onde Vidaurre não deixava ninguém escapar, dando sempre combate a quem tentasse tomar a dianteira

Schurter aparentemente fora de jogo após um furo, perdeu contato com o grupo e foi parar em um bloco intermediário na 38ª posição.
A velocidade da dupla da Specialized não caia, pelo contrário parecia que só aumentava e a vantagem só aumentava, a margem na metade da prova era superior a 50 segundos para um grupo que apesar de muito combate com trocas constantes de posições, não tinha forças para encurtar a distância ou mesmo para furar o bloqueio ou as neutralizações de Vidaurre e do quarto homem da Specialized, o francês Adrien Boichis que esteve sempre dando combate ao grupo.
Nesse grupo principal, chegavam também os brasileiros, Ulan Galinski, Alex Malacarne e Gustavo Xavier. Na quinta volta, Galinski, homem da Caloi na corrida, chegou a ocupar a 9ª posição, oscilou um pouco, aproveitou trechos da dura subida entre raízes para ganhar posições colocando a bicicleta no ombro e ir pelo lado mais íngreme e curto.
As tentativas de quem buscava se desgarrar para atacar a dupla não vingavam, era muita gente querendo o único lugar que restava no pódio e isso já na penúltima volta, quando veio o primeiro sinal de que Blevins não conseguia manter o ritmo do seu companheiro quando este forçou o ritmo em uma das subidas e abriu um espaço de 9 segundos.
Koretzky não diminuía o ritmo e mostrava-se muito centrado, sem arriscar. Blevins não tinha força para alcança-lo, mas sim a motivação suficiente para se manter no segundo lugar. Com a vitória o francês garantiu a camisa de líder da classificação geral, seu companheiro é o segundo.
Mas ainda havia muito mais para a Specialized com o chileno Vidaurre superando os suíços Lars Forster e Nino Schurter na quinta posição, diante de seu companheiro de equipe Filippo Colombo.

Um pouco mais atrás a disputa entre os brasileiros também tinha pitadas do duelo entre equipes – Specizalized BR versus Caloi. Com Galinski que esteve muito ativo na metade da prova sendo atacado por Gustavo Xavier e Alex Malacarne – no dois contra um a dupla da marca norte-americana levou a melhor, ficando com o 10º e o 11º lugar e o 12º para Galinski. Mas há muito para comemorar, pois o trio brasileiro pela primeira vez na história se coloca entre os 15 melhores da Elite mundial.

“Chris ( Blevins ) estava super forte no começo da corrida, com um ritmo super alto e foi difícil segui-lo. Então eu tive uma segunda vida no meio da corrida. Ainda tive um pneu furado nas duas últimas voltas, então foi complicado para mim na descida, coisas difíceis até o final, mas consegui terminar assim”, disse Koretzky.

“Acho que nós fomos companheiros de equipe o tempo todo; o objetivo era estar juntos até o último momento. Sozinho foi difícil fazer isso, mas com meu companheiro de equipe foi como um dia difícil de treinamento. É muito legal compartilhar isso com a equipe”, complementou o agora líder da Copa do Mundo.
Pódio com 5
A queda de braço entre a WBDS/UCI e os competidores continua, se no pódio do XCO feminino, sem concorrentes com força histórica e política para protestos. Entre os homes seria muito difícil alguém peitar a dupla Lars Forster e Nino Schurter quarto e quinto colocados.
Os suíços pularam a cerca e subiram ao pódio, a imagem estava sendo transmitida para o mundo todo, até o corte da direção. Mas a foto está registrada com Forster dividindo o degrau com Blevis e do outro lado Vidaurre abraçando Nino Schurter.
Até o a publicação deste artigo não há informações se o protesto dos suíços será sancionado pela UCI.
SUB23: Holmgren e Treudler dominam de ponta a ponta
Vencedora no dia anterior na prova de XCC a canadense Isabella Holmgren , não pensava em um final de semana perfeito com a vitória também no XCO, mas a campeã mundial sub-23 vestindo a camisa arco-íris dominou também no circuito de 3.89 km abrindo espaço na trilha.
Na primeira volta, a única a conseguir manter-se na roda da canadense foi a italiana Valentina Corvi, sua compatriota Ella MacPhee, a britânica Ella MacLean-Howell e a francesa Olivia Onesti perdiam mais de 15 segundos.

Isabella Holmgren não diminuía o ritmo, e em uma subida mais difícil a italiana ficou para trás, sendo alcançada pela canadense MacPhee e por MacLean-Howell. Corvi ainda teve problemas na subida entre raízes, quando foi obrigada a desclipar dos pedais, colocar o pé no chão, quando foi ultrapassada por Ella MacPhee que conseguiu abrir 7 segundos e garantir a segunda posição.
“Eu estava bem no limite com ela [Valentina Corvi]. Acho que em um ponto percebi que coloquei um pouco de vantagem, então continuei me esforçando e tentei segurar até o fim”, disse Holmgren que assumiu a liderança da Copa do Mundo de MTB.
Das 4 brasileiras na disputa, as melhores classificações vieram com Giuliana Morgen que apesar dos problemas com uma roda, sendo obrigada a fazer uma troca conquistou a 11ª posição, enquanto Luiza Cocuzzi foi a 17ª.
A prova masculina começou com o norueguês Martin Farstadvoll forçando muito desde a largada e tomando a ponta, sendo acompanhado apenas pelo suíço Finn Treudler, os dois conseguiram abrir uma boa vantagem, mas para o norueguês o esforço prematuro cobrou um alto preço perdendo terreno e deixando Treudler sozinho na frente.
O suíço foi abrindo caminho, até chegar 45 segundos, chegou a ter problemas com uma queda de corrente perdendo alguns segundos, mas isso não impediu sua vitória, deixando a disputa pelas demais posições no pódio para os dinamarqueses Nikolaj Hougs e o campeão nacional Heby Gustav Pedersen que levou a melhor.
Treudler que no ano passado ficou atrás de Riley Amos conquistou a vitória e terminou em 5º na classificação geral, nesta temporada se coloca como favorito ao assumir a camisa de líder com a vitória no XCO e um 4º lugar no XCC.

“Eu estava realmente determinado a ir pelo o primeiro lugar hoje”, disse Treudler. “Cheguei tão perto no ano passado, e eu sabia que com todos os caras rápidos do ano passado subindo (ndr.: para a Elite), eu definitivamente sou um dos favoritos e eu queria provar isso hoje.
Perdi minha corrente na penúltima volta, fiquei um pouco assustado, mas tive uma boa vantagem e a mantive até o final. Só tentei manter a calma, e sabia que tinha pernas, mesmo que me pegassem de novo”, concluiu o suíço.
O melhor brasileiro na Sub-23 foi Guilherme Galvão, com a 27ª posição; Eiki Leôncio foi 30°, Gustavo Roma chegou na 32° colocação e Vinicius Howe em 35°.
Copa do Mundo MTB XCO – Araxá
Elite Feminina – 47 competidoras de 20 países
Circuito 3.89 km x 8 voltas = 31.12 km
1- Samara Maxwell – Decathlon Ford Racing Team – 1h24m03s – vel. média 22.215 km/h
2- Nicole Koller – Ghot Facoty Racing +4s
3- Savilia Blunk – Decathlon Ford Racing Team +4s
26- Raiza Goulão +4m51s
30- Karen Olímpio – Soul Extreme Racing Team +6m01s
35- Isabella Lacerda -1 volta
38- Hercília Najara -2voltas
39- Sabrina Oliveira -2voltas


Elite Masculina – 75 competidores de 23 países
Circuito 3.89 km x 9 voltas = 35.01 km
1- Victor Koretzky – Specialized Factory Racing – 1h19m32s – vel. média 26.408 km/h
2- Christopher Blevins – Specialized Factory Racing +10s
3- Martin Vidaurre – – Specialized Factory Racing +29s
10- Gustavo Xavier Specialized Racing BR +47s
11- Alex Malacarne – Specialized Racing BR +47s
12- Ulan Galinski – Caloi-Henrique Avancini Racing +48s
31- José Gabriel Marques – Soul Extreme Racing +2m44s
57- Luiz Henrique Cocuzzi -1volta
58- Sherman Trezza -1volta
61- Mario Couto -3 voltas
62- Nicolas Machado -3 voltas
Sub23 Feminina -33 competidoras de 18 países
Circuito 3.89 km x 6 voltas = 23.34 km
1- Isabella Holmgren – 1h04m27s – vel. média 21.726 km/h
2- Ella MacPhee – Willier-Vittoria Factory Team +19s
3-Valentina Corvi – Canyon CLLCTV XCO +26
11- Giuliana Morgen +3m49s
17- Luiza Cocuzzi +5m24s
27- Gabriela Ferolla +8m10s
29- Carolina Ferreira -1 volta


Sub23 Masculina – 44 competidores de 21 países
Circuito 3.89 km x 7 voltas = 27.23 km
1- Finn Treudler – Cube Factory Racing – 1h03m32s – vel. media 25.713 km/h
2- Heby Pedersen – Willier-Vittoria Factory Team +29s
3- Nicolaj Houghs – Cube Factory Racing +34s
27- Guilherme Galvão +4m29s
30- Eiki Leoncio – Caloi-Henrique Avancini Racing +5m05s
32- Gustavo Roma +5m58s
35- Howe Vinicius – Soul Extreme Racing +7m48s
DNF – Rafael Assis – não completou (queda)