De um lado a Mobike e de outro a OfO, fortalecida pela Didi Chunxing, a maior empresa de aplicativos de compartilhamento de transporte da China. Em comum todas elas tem sua origem na Uber, o aplicativo que permite chamar carros com motoristas e agora, na China, elas disputam o milionário mercado de bike-sharing. O alvo principal dessas empresas que se agigantam é o mercado mundial para o qual é estimado um faturamento de 5,8 bilhões de dólares em 2020.
O duelo de gigantes das operadoras de aplicativos e sistemas de mobilidade resgata um ícone do partido Comunista Chinês: a bicicleta. O veículo de duas rodas e movido a pedal que nas últimas duas décadas, com a efervescência da indústria automobilística local e do surgimento de uma classe média ávida pelo consumismo e por carros , foi deixado de lado, esquecido aos poucos. A China tinha 670 milhões de bicicletas em 1995 viu sua frota em 2013 a reduzida para 370 milhões de bicicletas. Agora os tempos são outros, mobilidade e redução de emissão de poluentes movimentam fusões e aquisições, tendo por trás um objetivo ainda maior chegar a outros mercados e até abrir operações na Europa.
Neste momento acontece na China um furor no mercado com as empresas de internet locais apostando fortunas em fusões e aquisições com uma concorrência brutal para ganhar uma maior participação no mercado, em um movimento, segundo analistas, muito mais agressivo do que o visto no Vale do Silício.
Há no mundo cerca de 600 operações de bicicletas compartilhadas, um mercado que poderá crescer cerca de 20% ao ano, e que segundo a consultoria Roland Berger em 2020 as receitas podem chegar à casa dos 5,8 bilhões de dólares, é de olho nesses números que os gigantes chineses Mobike e OFO se movem a pedaladas largas, segundo a agência Bloomberg cada empresa teria levantado mais de 100 milhões de dólares junto a investidores para ampliar as suas ações.
No final de 2015 surgia em Xangai a primeira operação da Mobike um serviço de compartilhamento de bicicletas gerenciado por meio de um aplicativo instalado no smartphone criado por Wang Xiaofeng, um ex-executivo da Uber na China, que trocou as quatro rodas pelas duas rodas. A partir de sua start-up criou um aplicativo e uma rede de compartilhamento de bicicletas que atualmente opera com cerca de 30 mil bicicletas espalhadas por Pequim, Xangai, Guangzhou e Shenzen, atendendo a uma população urbana superior a 74 milhões de habitantes. Até o final do ano a empresa pretende colocar ao menos, o incrível número de 100 mil bicicletas em cada cidade e ao mesmo tempo expandir sua atuação para outras cidades da China e do mundo. Sua primeira ação no exterior deve começar até o final deste ano em Singapura.
Para iniciar as suas atividades a empresa conseguiu uma linha de crédito oficial no valor de 10 milhões de dólares, e o grande diferencial da Mobike com outras operadoras é que ela mesma desenvolveu e produziu sua bicicleta. Além disso, a Pequim Mobike Technology Co. ou simplesmente Mobike tem atraído a atenção de investidores de peso como a Tencent Holdings Ltd., a maior empresa de Internet do país e, ironicamente, uma empresa fornecedora de sua , agora , maior concorrente a Didi Chungxing.
O sistema de aluguel de bicicletas da Mobike se diferencia da maioria dos sistemas de bike sharing encontrados no mundo por alguns detalhes, a começar que o usuário através do aplicativo pode visualizar qual a bicicleta disponível que está mais próxima dele e reservá-la 15 minutos antes de usá-la; para desbloqueá-la basta digitalizar o código QR, e talvez, a principal vantagem é que a bicicleta pode ser retirada ou devolvida em qualquer bicicletário público da cidade, nas ruas demarcadas ou em áreas abertas, ou seja, não há um lugar predeterminado para retirar ou entregar a bicicleta. Porém, nos seu regulamento a operadora determina que estão proibidos os estacionamentos cobertos e subterrâneos, as áreas residenciais ou terminais de carga. Isso não impede que alguns usuários devolvam as bicicletas em locais de difícil acesso, para isso Wang e sua equipe estão trabalhando em um sistema de pontuação para punir os usuários indisciplinados.
Para usar a Mobike, os clientes precisam registrar seus dados pessoais e usar um número de documento de identidade, depois pagar um depósito de 299 yuan (algo como R$ 108) que pode ser reembolsado. A taxa de aluguel para usar a bicicleta é de 1 yuan (R$ 0,47) para cada 30 minutos.
Mas quem é responsável se uma Mobike for furtada? Um funcionário da Mobike ao apresentar o sistema, contou como funcionam os controles para evitar furtos: O usuário não é responsável por um furto se este ao entregar a bicicleta a bloqueie com a trava que automaticamente enviará um sinal para a central, mas se o usuário ao entregar a bicicleta e a deixar desbloqueada e esta sumir, a multa é de 2000 yuan (R$ 942) .
Nem mesmo na China, aonde há um rigoroso controle, as bicicletas estão livres dos vândalos. No último mês de julho, em um mesmo dia, quase uma centena de bicicletas da Mobike foram vandalizadas tendo seus códigos QR, vitais para o serviço, raspados ou pintados.
Na disputa pelo mercado chinês de compartilhamento de bicicletas, a Mobike não está sozinha, o seu maior e mais poderoso concorrente é a OFO que iniciou suas atividades em 2014 no campus da Universidade de Pequim como um projeto start-up do estudante Dai Wei junto com outros quatro amigos da faculdade. Dai Wei abandonou seu mestrado, deixou o projeto original que também apontava para o turismo com bicicletas e se concentrou no bike-sharing criando a Beijing Bikelock Technology Co. que rapidamente se alastrou por uma centena de universidades por toda a China e atraiu importantes investidores que estavam de olho em um mercado gigantesco, segundo o Ministério da Educação da República Popular da China, são mais de 73 milhões de estudantes no país, e muitos deles usam a bicicleta. A OfO tem cerca de 85 mil bicicletas e mais de 1,5 milhões de usuários em 20 cidades, mas operando sempre a partir de campi universitários, o próximo passo é a expansão do sistema para as cidades.
O tamanho da OfO, grafia que se assemelha com uma bicicleta, atraiu um outro gigante para o seu lado, e com isso ganhou um aporte de capital e a cooperação da Didi Chuxing, maior plataforma de compartilhamento de transportes, um gigante que engoliu a UBER na China e que se move muito rapidamente em todas as ações que envolvam o transporte compartilhado e que declarou ter investindo em sua ação, segundo o site AllChinaTec, uns 10 de milhões de dólares no desenvolvimento de um novo aplicativo e em melhorias no sistema, além da Didi a Xiaomi Corp. se somou à OfO. Com essa ação estima-se empresa já tenha valorizado e atingido a casa dos 500 milhões de dólares .
O sistema da OfO também não traz nenhuma novidade em compartilhamento de bicicletas, basta inserir o número da placa localizada abaixo do selim da bicicleta para ter a liberação e a cobrança por tempo de uso ou distância percorrida, mas a empresa precisava de folego para crescer. Didi Chuxing agrega a infra-estrutura tecnológica para suportar qualquer tipo de serviço que exige organização logística, coisa que a gigante já oferece para táxis, aluguel de carros, serviços de ônibus, motoristas, e muito mais, em sua carteira são mais de 300 milhões de usuários. A versão oficial da empresa para o site AllChinaTech é de que a ação da Didi é “uma parte da estratégia do ecossistema de mobilidade aberta de Didi. DiDi e Ofo irão explorar a cooperação estratégica em viagens urbanas, incluindo a oferta de experiência de compartilhamento de bicicletas de qualidade na plataforma da DiDi “.
Nas últimas décadas a bicicleta perdeu espaço para os carros na efervescente classe média chinesa, porém com um alto custo ambiental e com um trânsito que apresenta elevados índices de congestionamento. Assim a Didi tem noção do caos provocado pelos congestionamentos e buscou para o seu consumidor uma solução que estava ao seu alcance: “Se são apenas três ou cinco quilômetros distância, ou o tráfego está parado, eu só posso ir de bicicleta”, disse Liang Sun, porta-voz da Didi.
Cada empresa tem como alvo um público diferente. Mobike apostou na alta qualidade com bicicletas que custam ao redor de 3.000 yuan (R$ 1.414) com design minimalista, pneus de núcleo sólido e navegação por satélite buscando atingir a nova classe média chinesa em busca de status. A OfO tem como alvo os estudantes e os usuários comuns que pouco se importam com a estética ou equipamento querem apenas a praticidade para a mobilidade; as bicicletas são bem simples pintadas de amarelo e que custam apenas cerca de 250 yuan (R$ 120) não possuem GPS e com preços para o usuário muito mais acessíveis, cerca de 1 yuan (R$ 0,47) por hora, normalmente metade do preço da MOBIKE. Geralmente as bicicletas públicas de Pequim tem sua primeira hora de uso gratuita, sendo que o usuário paga 1 yuan (R$ 0,47) por hora subsequente. Mobike localiza seus veículos através de um GPS integrado. Já a OfO –utiliza o rastreamento do smartphone de seus usuários e para usar a bicicleta basta colocar a placa da bicicleta no aplicativo e aguardar para receber o código de destravamento.
O grande diferencial em relação aos grandes operadores de bike-sharing/aluguel-compartilhamento de bicicletas encontrados na China e em outros países mundo é que na maioria das vezes estes tem uma forte ligação com governos municipais associados a patrocinadores corporativos que adotam sistemas que exigem estações e áreas pré-determinadas para retirada e devolução das bicicletas. Tanto na OFO como na Mobike tudo é feito por empresas que operam por meio de um aplicativo de smartphone , uma tendência que ganha cada vez mais espaço. Amsterdã em 2017 ganhará dois novos operadores que seguem a linha dar maior liberdade para que o usuário retire e devolva a bicicleta em lugares que sejam mais convenientes.