TÓQUIO 2020: TRÊS PAÍSES DIVIDEM AS MEDALHAS DO BMX RACING

Os dois dias de disputas do BMX Racing no Ariake Urban Sports Park de Tóquio revelaram os novos campeões olímpicos: a britânica Beth Shriever e o holandês Niek Kimman e um pódio compartilhado apenas por três nações: Holanda, Colômbia e Grã Bretanha. Renato Rezende em sua terceira participação olímpica encerra com o melhor desempenho na 14ª posição

Connor Fields dos Estados Unidos foi bem nas fases classificatórias, mas caiu na última bateria e não pôde largar a final
foto: Lionel BonaventureAFP via Getty Images

Com uma participação restrita a 48 pilotos – 24 mulheres e 24 homens, os mais bem colocados segundo ranking da UCI e critérios de classificação , a longa pista do Ariake Urban Sports Park com 495 metros e trechos muito mais planos exigiu dos competidores um ritmo intenso de pedaladas, não adiantava ter técnica para transpor os obstáculos – e aqui nenhum de meter medo como o primeiro trecho  do Rio de Janeiro – mas faltar resistência para conseguir chegar com força para finalizar e disputar posições no trecho final.

As provas de BMX Racing foram disputadas nos dias 29 e 30 – com as baterias das quartas de final abrindo a competição e já encerrando o sonho do pódio olímpico de importantes nomes da modalidade como o australiano Anthony Dean, o suíço Simon Marquart vencedor da primeira etapa da Copa do Mundo de Supercross e o ídolo local Yoshi Nagasako, campeão dos jogos Asiáticos de 2018. No feminino a francesa Manon Valentino , 3ª na Copa do Mundo no ano passado e finalista na Rio 2016 ficou pelo caminho, assim como a campeã mundial de Pump Track’2019 e seis vezes campeã  estadunidense Payton Ridenour.

A sorocabana Priscilla Stevaux, também ficou nas quartas de final encerrando sua participação na 22ª colocação, repetindo o desempenho dos Jogos do Rio de Janeiro quando ficou na 6ª posição nas três baterias disputadas.

Priscilla teve como principais adversárias a holandesa Laura Smulders (medalha de bronze Londres’2010 e campeã mundial em Baku’2018) e a estadunidense Felicia Stancil (medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Toronto’2015).

Priscilla Stevaux em Tóquio repetiu o desempenho da Rio201 e não passou das quartas de final Foto: Wander Roberto/COB

Por outro lado, participando da sua terceira olímpiada, o mineiro Renato Rezende teve o seu melhor desempenho, encerrando sua participação na 14ª posição na classificação geral chegando à semi-final e com um detalhe muito importante: disputando a prova com uma bicicleta de marca nacional, uma aro 20 da PKS, fato inédito. Na fase das quartas de final , ele foi terceiro na primeira bateria, quarto na segunda e novamente terceiro na bateria final, classificando-se para a semi-final em 3º em uma série dominada pelo holandês Niek Kimmann que no dia seguinte conquistaria o ouro olímpico.

As baterias das semi-finais aconteceram na manhã de sexta-feira no Japão, noite de quinta-feira no Brasil, e sofreram um pequeno atraso devido à chuva que caiu horas antes e que exigiu o trabalho dos voluntários para secar alguns trechos, porém a boa drenagem da cobertura da pista garantiu na realização do evento.

Rezende disputou as três baterias das semi-finais e tinha como adversários o equatoriano Alfredo Campo, o francês Joris Daudet, o suíço David Graf, o norueguês  Tore Navrestad o britânico Kye Whyte, o estadunidense Corben Sharrah e mais uma vez o holandês Niek Kimmann.

Rezende fez uma boa primeira bateria terminando na 5ª posição na primeira bateria, porém o sonho olímpico se desmancharia na segunda bateria, quando o piloto sofreu uma queda que o colocou na última posição. Para se classificar, o brasileiro teria que vencer ou chegar em segundo e ainda torcer para que Kimmann, Daudet, Whyte ou Campo tivessem problemas, o que não aconteceu.

Em sua terceira olimpíada Rezende obteve o melhor resultado, o 14º lugar – Foto: Wander Roberto/COB

Ao site Olimpíada Todo Dia, Rezende explicou como foi a disputa: “Na segunda (bateria), a estratégia era a mesma de mergulhar na primeira curva, estava com uma saída muito boa, mas ali no meio toda hora eu batia em alguém, na primeira rampa. Fiquei um pouco para trás na segunda, queria fazer a mesma coisa. Só que um suíço acho que viu que eu ia entrar, e fechou a porta, só que eu estava no ar. Pegou na roda da frente e eu acabei caindo. Bati bem forte a parte da bunda com a coxa e tentei manter aquecido pra última”.

A outra chave foi marcada por um grave acidente na terceira e última bateria, quando o campeão olímpico de BMX Racing na Rio’2016, Connor Fields que vinha de um 3º lugar e de uma vitória. O piloto estadunidense vinha disputando a ponta ocupando a segunda posição,  mas acabou aterrissando errado após um saldo, caiu e bateu fortemente a cabeça no chão além de ser atropelado pelo francês Sylvain Andre  e pelo holandês Twan van Gendt que vinham ao seu lado , com o golpe o piloto parecia estar inconsciente e foi levado para ao hospital. Segundo o médico do Comitê Olimpico dos Estados Unidos, Dr. Jon Finnoff, o piloto estava acordado, estável e ficará em observação.

Kimmann foi imbatível nas quartas de final – Foto: Wander Roberto/COB

Mesmo fora da disputa, Fields conseguiu passar à final, pois tinha feito um terceiro lugar e vencido a segunda bateria, porém seu lugar na rampa de largada da bateria final ficou vazia.

Para a final masculina os franceses chegaram com 3 pilotos – Sylvain Andre, Daudet e Mahier – e em bloco poderiam desestabilizar os demais. Porém foi o holandês Niek Kimmann que durante os treinos na segunda-feira havia atropelado um comissário que inadvertidamente cruzou a pista e reclamou de dores no joelho com a queda que sofreu, já havia sinalizado que era o mais forte durante a fase classificatória. Na final, o campeão mundial em Zolder’2015 e campeão europeu em 2019 largou na raia 8, do lado de fora da pista e tomou a frente, sendo perseguido pelo britânico Kye White que não conseguiu alcança-lo.

Na disputa pelo bronze um belo duelo do francês Joris Daudet com o colombiano Carlos ‘El Mago’ Ramirez começou no meio da pista, com o sul-americano indo em busca do pódio. Na última curva, o francês perdeu a dianteira da bicicleta e deixou o caminho livre para o colombiano que já estagiou no Centro Mundial de Ciclismo da UCI garantir o terceiro lugar.

“Eu sei que sou jovem e a pista me caiu  bem. Se eu algum dia tinha que ser campeão olímpico, era agora! ” disse Niek Kimmann, que também tem treinado no Centro Mundial de Ciclismo da UCI,  em Aigle, Suíça

No Feminino, a colombiana Mariana Pajon, bicampeã olímpica passou a fase das quartas de final vencendo as três baterias, e junto a ela se apresentaram como fortes candidatas ao pódio a holandea Laura Smulders, a britânica Bethany Shriever e a estadunidense Alise Willoughby.

Shriever nº911 e Mariana Pajón n° 100 disputa lado a lado, sendo perseguidas por Merel Smulders – foto: UCI-Alex Whitehead

Na semi-final, Pajon correu com o regulamento, após vencer a primeira bateria e depois ficar em segunda optou por poupar as pernas para a final classificando-se na segunda posição atrás de Felicia Stancil. Na outra chave, a britânica Shriever não aliviou e venceu as três baterias, dando um claro sinal de força e que era candidata às medalhas.
Na final Shriever Largou na posição 6, não tão central, mas que a favoreceu pois largou com muita força assumindo a dianteira, atrás Pajon teve que lutar em busca do pódio, perseguiu a britânica, mas não conseguiu alcança-la. A terceira posição ficou para a holandesa Merel Smulders que repetiu o feito de sua irmã Laura que em Londres’2012 conquistou o bronze.

“Estou chocada. Estar aqui é uma conquista por si só ”, disse Bethany Shriever. “Chegar à final já é uma conquista. Honestamente estou muito feliz por ganhar uma medalha.. Isso significa muito. Dei absolutamente tudo que tinha – e fui recompensada“.

Para a garota de Essex, a medalha de ouro significa mais do que uma vitória impressionante em uma competição olímpica. Para chegar a Tóquio, a piloto teve que fazer uma ‘vaquinha’ ou crowdfund e trabalhar meio período como assistente de ensino em uma creche para ajudar a cobrir alguns dos custos.

Shriever entrou no torneio relativamente despercebida, mas logo se tornou alguém a observar depois de vencer todas as três baterias das semifinais com boa vantagem. Na final, depois que do ‘gate de partida, ela imediatamente assumiu a liderança e nunca mais olhou para trás.

“Devo muito isso a todos. Significa muito, estou muito grata pelo apoio, por todos acordarem em casa, estou maravilhada ”, disse Shriever após o evento.

Ao final da competição apenas três países, Holanda, Colômbia e Grã Bretanha , deixaram a pista cada um com duas medalhas. Para os britânicos o ouro e a prata tem um gosto especial, pois o projeto de ciclismo multidisciplinar do Team GB ou British Team como também é conhecido nunca havia conquistado uma medalha olímpica no BMX, com o resultado de Shriever e Whyte o projeto mostra sua efetividade em todas as disciplinas olímpicas.

Ouro de Shriever era a medalha que faltava para o projeto multidisciplinar do British Team

Jogos Olímpicos de Tóquio

BMX Racing – Ariake Urban Sports Park – Pista de 495 m

Mulheres :

1 – Beth Shriever  – Grã Bretanha – 4.358seg

2 – Mariana Pajón – Colômbia 0s090

3 – Merel Smulders – Holanda +0.s363

4- Felicia Stancil – Estados Unidos  +0s773

5- Lauren Reynolds – Austrália +1s043

6- Simone Christensen – Dinamarca – +1s224

7- Axelle Ethienne – França +1s495

8- Drew Mechielsen – Canadá +2s525

22- Priscilla Stevaux – Brasil – (quartos de final)

Homens:

1 – Niek Kimmann – Holanda –  39.053seg

2 – Kye Whyte – Grã Bretanha +0s114

3 – Carlos Ramirez – Colômbia  +1s519

4- Sylvain André – França  +1s623

5- Alfredo Campo – Equador  +1s652

6- Romain Mahieu – França  +2s899

7- Joris Daudet – França – DNF – não completou

8- Connor Fields – Estados Unidos – DNS – não largou

14- Renato Rezende – Brasil – (semi-finais)

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