SHIMANO ACENDE O ALERTA E PREVÊ QUEDA NAS VENDAS

Projeções da Shimano para 2023 acendem o sinal de alerta com queda de 21% nas vendas. Guerra da Ucrânia, inflação e muita mercadoria estocada pelo mundo são os motivos para a provável desaceleração do mercado

Planta Inteligente e o Centro de Tecnologia de Manufatura em Sakai – foto: Shimano

Poucos dias após apresentar o relatório financeiro de 2022 aonde a Shimano informava que as vendas de componentes aumentaram 16,6% em relação ao ano de 2021, atingindo 517,4 milhões de ienes (US$ 3,885 bilhões) e um crescimento do lucro de 10,6%, a gigante japonesa divulgou um outro relatório com sinais não tão positivos para 2023.

A empresa passou a adotar projeções mais cautelosas para o exercício de 2023, e para isso está levando em consideração vários fatores macroeconômicos como a inflação nos Estados Unidos e os impactos da guerra na Ucrânia que levam a reduzir a boa onda que o setor surfou em 2021 e 2022. O Japão foi a única região aonde o relatório apresentou uma perspectiva econômica positiva para o ano.

Em sua previsão, a Shimano não menciona o momento atual com fabricantes de bicicletas oferecendo descontos no mundo todo; a estagnação da demanda pós o boom com dois anos de vendas em alta e os depósitos com muita mercadoria disponível e inclusive , em alguns mercados com lojas e distribuidores querendo devolver mercadoria aos fabricantes.

Para a Europa, a empresa mostra sua preocupação de que o aumento dos recursos, preços da energia e restrições de oferta possam restringir as atividades econômicas, e a alta prolongada da inflação possa retardar a recuperação econômica.

MERCADO PASSA POR FREIO DE ARRUMAÇÃO APÓS O BOOM

Mas não necessariamente é surpreendente essa retração, e tirando a inflação e a guerra, vários executivos do setor já previam que seria difícil manter os mesmos números, principalmente pela onda excessivamente otimista que levou a volumes ‘inflados’ de pedidos que ocorreram durante o boom da bicicleta no período mais duro da Covid-19  e que resultaram em muitos casos em estoques elevados, um mercado saturado de ofertas entre eles o de bicicletas de padrão médio e de entrada e que vem provocando no mundo todo um movimento de lojistas que estão vendendo bicicletas com descontos para garantir a liquidez e em muitos casos, pelo mundo os preços estão voltando aos patamares pré-pandemia.

e-MTB equipada com o motor EP8 – foto: Shimano


Em seu relatório de resultados financeiros do quarto trimestre e do ano, a empresa prevê que as vendas de 2023 em seus negócios de componentes para bicicletas produzirão 396 bilhões de ienes (US$ 2,95 bilhões), abaixo dos 517 milhões de ienes registrados em 2022, uma queda de 23%. As vendas de componentes de bicicletas representam cerca de 79% dos negócios da Shimano, com equipamentos de pesca fornecendo a maior parte do restante. Para este ano ela também prevê uma queda de 7% em seus negócios de pesca. 

Para toda a empresa, a Shimano está prevendo uma queda de 20,5% nas vendas líquidas, uma queda de 37,9% na receita operacional e uma queda de 32,3% na receita ordinária. 

No negócio de bicicletas, a Shimano prevê vendas líquidas de 200 bilhões de ienes no primeiro semestre (queda de 19,6% em relação aos 249 bilhões de ienes no primeiro semestre de 2022) e 196 bilhões de ienes no segundo semestre do próximo ano (queda de 27% em relação aos 268 bilhões de ienes).

Existe a preocupação de que as cadeias de abastecimento globais sejam interrompidas por restrições de abastecimento e aumento da tensão política causada por riscos geopolíticos que surgiram, como a situação prolongada na Ucrânia, e que a alta inflação se arrastando e as políticas monetárias rígidas adotadas globalmente possam exercer pressão para baixo na economia”, disse a empresa.

Em relação ao mercado dos EUA, a empresa declarou: “existe a preocupação de que a inflação alta e os aumentos nas taxas de juros possam pressionar a economia para baixo”.

E concluiu: “Nestas circunstâncias, a empresa enfatiza não apenas o esforço para desenvolver e fabricar ‘produtos cativantes’ que trazem sensações para muitas pessoas como uma ‘empresa de fabricação digital orientada para o desenvolvimento’ de origem japonesa, enquanto monitora de perto as tendências na demanda por bicicletas e equipamentos de pesca, mas também avançando passo a passo como uma ‘empresa criadora de valor’ que continua a criar um valor compartilhado entre as empresas e a sociedade. Vamos nos esforçar para aumentar ainda mais a eficiência da gestão e buscar o crescimento corporativo sustentável, buscando a criação de uma nova cultura de ciclismo e pesca”.

NO BRASIL INDÚSTRIA TAMBÉM FAZ AJUSTES

Por outro lado, é importante prestar atenção e cruzar a informações com projeções de produção feitas pela indústria.  Aqui no Brasil a Abraciclo – Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares – que congrega as marcas instaladas no Polo Industrial de Manaus, prevê uma redução de 4,8% na produção total para 2023. E isso está acontecendo no mundo todo, uma queda na produção para ajustes ou redução de estoques.

Há também uma interessante avaliação sobre o mercado das e-bikes, feita por analistas econômicos europeus que acompanham o setor, apontando que as previsões de milhões de ‘novos ciclistas’, atraídos pelo menor esforço graças ao motor, estão revelando que superestimou-se o crescimento, pois “com o tempo torna-se cada vez mais claro que estamos apenas perante uma transição do mesmo cliente da bicicleta para a e-bike. O bolo não aumentou, apenas muda o tamanho das fatias. O mesmo, em uma extensão mais limitada, é verdade para o gravel. Este fator não deve ser subestimado porque ampliou a gama, aumentando os custos, mas não as margens”.

foto: Irmo Keizer

Esse mesmo analista lança uma outra questão e dá sua versão: “Como é possível que o setor de bicicletas tenha ficado de calças curtas quando a bolha da Covid estourou? -Conversando com várias empresas durante a bolha, notei que elas estavam realmente convencidas de que o crescimento de dois dígitos continuaria nos próximos anos, sendo levadas ao engano pelos volumosos pedidos das lojas, convencidas também desse crescimento constante. Se você tentasse dizer a eles que era uma situação extraordinária, e não a nova realidade, você era considerado um tolo”. E para concluir ele destaca um fato importante e que quem acompanha o mercado ou quem estava pensando em trocar sua bicicleta percebeu: a disparada dos preços.  “Sem falar no fato de que eles ignoraram totalmente os milhares de comentários malucos sobre preços quando uma nova bicicleta foi (é) lançada”.

2023 EXIGIRÁ DECISÕES DIFÍCEIS NO SETOR

Vale retornar um pouco no tempo, para o momento que todos queriam montar bicicletas e olhar com atenção o movimento de quem produz componentes. Quando as vendas de bicicletas começaram a crescer durante a pandemia várias marcas tentaram convencer a Shimano a aumentar a capacidade de produção, tentando produzir mais, maximizar as receitas e empurrando uma boa parcela do risco ao fabricante de componentes que deveria aumentar sua capacidade produtiva e talvez ampliando ou abrindo alguma nova fábrica. Na verdade, se os japoneses tivessem dito sim, eles agora se encontrariam com novas fábricas fechadas, pedidos cancelados e investimentos virando fumaça.

Em última análise, nem toda a indústria de bicicletas caiu no conto do crescimento eterno e soube fazer a leitura do momento. Mas 2023 se coloca para empresas e comércios do setor, no mundo todo, como um ano de decisões difíceis.

6 comentário em SHIMANO ACENDE O ALERTA E PREVÊ QUEDA NAS VENDAS

  1. Thiago Lara disse:

    Muito bom Texto…cenário real do está acontecendo no mercado hoje 23/02/2023

  2. Fábio Navarro disse:

    Preços abusivos já estava na hora. Pro lojista e fabricante são ótimos, mas o consumidor final é sempre q se lasca

  3. 1 disse:

    Esqueceram de falar que as vendas vem diminuindo, devido valor absurdo que é os produtos shimano. Com aparição de marcas novas e de ótima qualidade, por um preço acessível a grande maioria, está migrando para estas marcas nova.

  4. FELIPE SOARES SILVEIRA disse:

    Eu estou inciando como investidor nessa área e modéstia a parte eu bem que tentei avisar ao dono de uma fábrica que eu trabalhava que as vendas aumentariam mas ele afastou 90% dos colaboradores da produção incluindo eu e quando voltamos nos deparamos com milhares de pedidos atrasados depois disso pedi demissão e fui pra uma das lojas da Decathlon e apesar de uma grande quantidade de bikes que vendíamos tentei alerta-los também que precisavam qualificar melhor os funcionários do setor das bikes mas não deram ouvidos e eu percebi que trabalhava demais e também pedi demissão. Hoje graças a Deus tenho meu proprio negócio no ramo de bicicletas o faturamento quase que total está concentrado em consertos e manutenção e estou indo maravilhosamente bem, enquanto isso ambas empresas passam por dificuldades infelizmente

  5. Marco Schadt disse:

    Muitas vezes, durante a pandemia, ouvi críticas por ser “demasiadamente cauteloso” ao estocar uma quantidade pequena de peças e acessórios de bicicleta. Mas, anos de experiência e um pouco de reflexão me trouxeram essa certeza: a bolha, um dia, iria estourar. Aí está o resultado os “ousados” se lascaram! O setor de bicicletas é muito variado, cheio de nuances, e precisa ser bem analisado por seus players, antes de se fazer qualquer investimento.

  6. Marlos disse:

    Como um simples cicloativista e consumidor, lamento profundamente a explosão dos preços aqui no Brasil.
    Os preços são abusivos frente ao sempre limitado poder aquisitivo dos brasileiros.
    Componentes de entrada da Shimano não são mais acessíveis.

    As bicicletas brasileiras, no geral, são verdadeiras carroças.

    Preços altos, poucas vendas.

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