SANTIAGO 2023: PROVAS DE ESTRADA MARCADAS POR ATAQUES E FUGAS

Após 15 anos de ciclismo e em sua primeira participação nos Jogos Pan-Americanos a estadunidense Lauren Stephens, entra na fuga, ataca e parte sozinha para a conquista da medalha de ouro e sonha com Paris’2024.  Na prova masculina a prova foi marcada por uma fuga que lutou por várias voltas, no final prevaleceu a força dos equatorianos com Richard Carapaz lançando o sprint para Jhonatan Narváez conquistar o ouro. O Brasil esteve muito bem nas duas disputas com participação efetiva nas fugas, e perto do pódio em Santiago com ‘Tota’ Magalhães em 4º e Nico Sessler em 5º

Lina Hernandez, Tota Magalhães, Aranza Villalón e Lauren Stephens – quarteto em fuga – foto: Marcelo Hernandez/Santiago 2023 via Photosport

Em um circuito urbano com um longo trecho plano pela avenida Costanera no bairro residencial de Providencia para depois tomar a direção das colinas La Piramide, Los Gemelos e o importante ponto turístico da capital chilena o Cerro San Cristóbal onde sua rápida descida exigiu técnica nas curvas mais fechadas, a prova de ciclismo de estrada dos Jogos Pan-Americanos de Santiago’2023 atraiu um bom público e se mostrou um duro teste para mulheres e homens que entraram  na disputa de medalhas.

Na prova feminina, disputada pela manhã, o frio e o piso molhado pela chuva que caiu pouco antes da prova, inibiram o pelotão nas duas voltas iniciais, levando o grupo a rodar praticamente compacto.

Ainda no início da prova, no trecho que leva às colinas, a medalhista de ouro na contrarrelógio individual Kristen Faulkner, e uma das favoritas ao pódio, caiu no piso escorregadio; ela retornou rapidamente à disputa, conseguindo se reintegrar ao pelotão.

A corrida mudaria a partir da terceira volta, quando a equatoriana Miryam Nuñez atacou e conseguiu abrir uma brecha, sendo neutralizada pelo grupo.  Na volta seguinte, em mais uma tentativa de fuga a chilena Aranza Villalón, a colombiana Lina Hernandez, a paraguaia Agua Marina Espínola e a brasileira Ana Vitória ‘Tota’  Magalhães conseguem se destacar do pelotão e passam a abrir vantagem sobre o grupo.

Pelotão enfrentou as ruas ainda molhadas pela chuva que caiu horas antes da largada em Santiago – foto: Marcelo Hernandez/Santiago 2023 via Photosport

A paraguaia Agua Marina e que atualmente defende a equipe continental Canyon-Sram Generation, passou a forçar o ritmo na tentativa de desgastar suas companheiras e já na quinta volta estava sozinha na ponta, enquanto isso atrás o pelotão se rompia com a força das estadunidenses Faulkner e Stephens sendo acompanhadas pelas chilenas Villalón e Catalina Soto, as colombianas Paola Patiño e Diana Peñuela, a cubana Arlenis Sierra e a brasileira Tota Magalhães.

O grupo perseguidor foi se desmanchando aos poucos enquanto a paraguaia abria mais de 40 segundos de vantagem sobre a equatoriana Miryam Nuñez que foi à caça da ponteira e mais de 1 minuto sobre o pelotão que mostrava pouca combatividade.

Na quinta volta uma mudança radical, a estadunidense Lauren Stephens pedalou forte para sair do pelotão perseguidor e conseguiu se conectar com a equatoriana Nuñez e ao final da volta elas já estavam rodando juntas da paraguaia Espínola. Atrás o grupo com Tota Magalhães, Arlenis Sierra e Faulkner tentava encurtar a distância.

O trio de ponteiras chegou a entrar em acordo, mas Stephens estava com mais pernas e começou a se distanciar, abrindo vantagem metro a metro, até se isolar na ponta com mais de 1 m20 de vantagem e pedalar com a certeza de que estava com as mãos na medalha de ouro.  A definição pelas medalhas de prata e bronze foi no sprint entre Miryam Nuñez e Ana Marina Salinas que tinham mais de 50 segundos de vantagem sobre Tota Magalhães. A equatoriana chegou com mais força que paraguaia, cruzando na segunda posição.

Tota Magalhães puxando a fuga – foto: Javier Salvo/Santiago 2023 via Photosport

A brasileira Ana Vitória chegou na 4ª posição, com um ótimo desempenho e abrindo uma lacuna de 21 segundos para a 5ª colocada, a cubana Arlenis Sierra.

Ana Polegatch, chegou em um quarto grupo, na 18ª posição a 3m51s, mas atrás na 28ª posição Ana Paula Casetta e em 30º Talita da Luz. A última vez que o Brasil subiu ao pódio feminino dos Jogos Pan-Americanos foi em Winnipeg’1999 com Janildes Fernandes.

OURO EM SANTIAGO’2023 FAZEM SONHAR COM PARIS’2024

“Fiquei muito animada com o percurso, a colina. Não sabíamos o quão difícil seria a corrida. Fiquei feliz por terminar sozinha, mas também animado porque as duas companheiras (ndr.: de fuga) conseguiram garantir medalhas. Sempre é gratificante como trabalhamos tão bem juntas e que elas também conseguiram alcançar um bom resultado”, comentou Lauren Stephens que defende a EF Education-TIBCO-SVB e na próxima temporada correrá pela equipe continental Cynisca Cycling.

 Lauren Stephens comemora a vitória – foto: Javier Salvo/Santiago 2023 via Photosport

“Quase chorei no pódio. Corro há quinze anos e estou chegando ao final da minha carreira. Com certeza correrei mais um ano para tentar me classificar para os Jogos Olímpicos. Mostrar aos Estados Unidos que consegui vencer esta corrida é muito importante para as pessoas que me ajudaram a entrar e a estar nesta seleção. A próxima meta é Paris 2024”, finalizou a estadunidense.

A medalhista de prata, Miryam Nuñez , atualmente correndo pela equipe continental Massi-Tactic Women Team comentou: “Estou feliz por conquistar esta medalha. Dedico à minha família, com quem passei momentos difíceis este ano. Recentemente perdi meu avô e fiz a corrida pensando nele. Foi muito importante na minha vida e não tem sido fácil assimilar isso. Eu sei que do céu ele me enviou forças. Agora sei o que é o famoso Cerro San Cristóbal, graças a esta corrida”, comentou a equatoriana que perdeu o seu avô cinco dias antes da prova de contrarrelógio de Santiago’2023.

Sprint entre Miryan Nuñez e Agua Marina Espínolapara definição da prata e bronze foto: Marcelo Hernandez/Santiago 2023 via Photosport

Agua Marina Espínola 5ª colocada no contrarrelógio dos Jogos Pan-Americanos e medalha de bronze comentou:   “Foi um percurso muito bonito e duro, muito parecido ao que fizemos aqui em Santiago nos Jogos Sul-americanos em 2014. Fico feliz em voltar quase 10 anos depois e poder levar uma medalha. Foi desafiador e felizmente me saí bem. “É claro que eu queria o ouro, não vou mentir, mas felizmente ganhei uma medalha nos meus primeiros Jogos Pan-Americanos”.

Pelotão após a largada – foto: Marcelo Hernandez/Santiago 2023 via Photosport

CARAPAZ, VIDAURRE, SESSLER… DA FUGA AO SPRINT DE NARVAÉZ

Com um pelotão recheado de ciclistas experientes a prova masculina atraiu multidões às ruas do bairro Providencia e à decisiva Colina San Cristóbal, em Santiago, para acompanhar as 9 voltas que o pelotão teria de percorrer no desgastante circuito. 

No total os ciclistas teriam de percorrer 157,5 km e isso levou a um início de prova de muita marcação e estudo com o pelotão rodando praticamente compacto por duas voltas. O primeiro a buscar romper com a burocracia foi o ‘mountain biker’ Martin Vidaurre que atacou pelotão na terceira volta e conseguiu abrir uma fuga solitária.

Pelotão nas ruas de Santiago – Mauricio Ulloa/Santiago 2023 via Photosport

Vidaurre de 23 anos não é mais um aventureiro nos pneus finos, e mostra muita valentia também na estrada, na atual temporada, apesar de ter seu principal objetivo na Copa do Mundo de Mountain Bike foi campeão do Vuelta del Porvenir em San Luis, Argentina no mês de fevereiro e disputou e o Czech Tour no mês de julho uma base que lhe deu um claro sinal de que com os Jogos Pan-Americanos no quintal de sua casa poderia lutar por um lugar no pódio.

Torcida prestigiou a disputa – foto: Javier Salvo/Santiago 2023 via Photosport

O chileno chegou a abrir uma vantagem de 21 segundos sobre o grupo principal, mas a pedalada solitária do chileno durou pouco, e na volta seguinte seria alcançado por um grupo que se lançou ao ataque com os argentinos Laureano Rosas e Eduardo Sepulveda, os equatorianos Richard Carapaz  e Jhonatan Narváez, o hondurenho Luiz Lopez, o mexicano Ulises Castillo, o uruguaio Eric Fagundez e o brasileiro Nicolas Sessler que desde a largada rodava bem posicionado no pelotão, em um claro sinal que buscava protagonismo; pouco depois se juntariam a eles o venezuelano Orluis Aular, o canadense Riley Pickrell ,  o colombiano Victor Ocampo e o mexicano Ulises Castillo.

PÚBLICO FOI ÀS RUAS ACOMPANHAR A DISPUTA

O grupo de 12 ciclistas impunha um forte ritmo à competição, e estava claro que haviam feito a seleção – principalmente porque Carapaz se impunha como o grande nome do grupo e no trecho de subida que levava ao Cerro San Cristóbal atacava para mostrar aos adversários sua força; a primeira vítima dessa intensidade foi o mexicano Castillo que despencaria para o meio do pelotão perseguidor na volta seguinte.

Sepúlveda🇦🇷 lidera os escapados- Mauricio Ulloa/Santiago 2023 via Photosport

Atrás o uruguaio Roderyck Asconeguy se desgarrou do pelotão e tentava encurtar mais de 1m40  de vantagem da fuga, enquanto ele já havia aberto mais de 1m48s sobre o pelotão.

Na fuga o jogo de medir forças estava claro, e no longo trecho de subida era o local para testar os adversários, e o colombiano Narváez atacou com força, chegando a abrir uma vantagem de superior a 30 segundos o que serviu para reduzir a fuga – o canadense Pickrell, o colombiano Ocampo e o argentino Rosas perdiam contato com os ponteiros.

Ao uruguaio Asconeguy que tentava dar caça à fuga tentavam se juntar Rosas e Ocampo , porém mais adiante os três seriam engolidos pelo pelotão.

Equatorianos Narváesz e Carapaz à frente da fuga – Mauricio Ulloa/Santiago 2023 via Photosport

Com a última volta lançada ficava cada vez mais certa a força dos equatorianos, com todos os outros cinco ciclistas tentando armar a melhor estratégia e quiçá firmar alguma parceria para chegar com força ao trecho plano e se lançar ao sprint.

Ainda no início do trecho de subida, um susto, Richard Carapaz perde a aderência da roda dianteira em uma curva. Nada mais que um susto para o equatoriano que corre pela EF Education-Easy Post, ele se levanta e retoma o ritmo até encostar no grupo que se mantém unido até  praticamente os metros finais, quando Carapaz resolve tomar a dianteira e lançar o sprint para seu compatriota, e ciclista da Ineos-Grenadiers,  Narváez arrematar e levar a medalhar de ouro.

Atrás o argentino Sepúvelda  da Lotto Dstny disputa o sprint guidão a guidão com o uruguaio Eric Fagundes que na Europa defende as cores da Burgos-BH, atrás deles o ídolo local martín Vidaurre.  O brasileiro Nicolas Sessler que tentou antecipar o sprint e buscar a roda de Narváez ficou sem forças para acompanha-lo e terminou em 5º em uma jornada que mostrou muita ação, trabalhando e resistindo na fuga.

Narváez comemora a vitória, enquanto Sepúlveda e Fagundez duelam pelo 2º lugar – foto: Marcelo Hernandez/Santiago 2023 via Photosport

Aos 26 anos, o equatoriano Narváez, tem na medalha de ouro em Santiago’2023 o seu melhor resultado na temporada, e vibrou com a conquista:  “Feliz por esta vitória para o Equador. Demos o nosso melhor e estamos muito felizes. Feliz por vencer no Chile. Muito grato a todos que nos apoiaram”.

“Foi uma corrida muito dura. Não eram tantos ciclistas, mas eram fortes. Ataquei na última volta, tentei o ouro porque para ser quinto ou sexto, não. Talvez tenha me gastado um pouco, foi o que me faltou no sprint”, destacou o medalha de prata, Eduardo Sepúlveda.

O uruguaio Eric Fagundez, que na contrarrelógio ficou na 4ª posição vibrou com a medalha de bronze: “Eu precisava disso, realmente. Estar em um pódio.  Estar à beira da vitória em um evento tão importante e com gente tão boa quanto a que veio era o que eu precisava para fechar. Estou feliz, tenho uma medalha. Há uma semana eu estive na porta, hoje estou com ela na mão e estou feliz”.

 Ídolo local, Martín Vidaurre, em ação para tentar a fuga – Mauricio Ulloa/Santiago 2023 via Photosport

Por outro lado, Vidaurre mostrava seu descontentamento por ficar de fora do pódio, “Estou super irritado porque tinha tudo para ganhar uma medalha. Me faltou experiência. Eu venho para aprender, sou novo na estrada, mas tentei dar o meu melhor. Tive muitas câimbras desde a quinta volta, mas continuei e estive perto. Olha toda essa gente! Tive um apoio enorme estava tudo para entregar-lhes essa medalha e fico tremendamente triste por não ter conseguido”, comentou.

XIX JOGOS PAN-AMERICANOS – Santiago’2023

Miryam Nuñez🇪🇨, Lauren Stephens🇺🇸 e Agua Marina Espínola🇵🇾 – foto: Marcelo Hernandez/Santiago 2023 via Photosport

Prova  de Estrada Feminina – 105 km – 6 voltas no circuito – 37 ciclistas de 15 países

1- Lauren Stephens – Estados Unidos – 2h51m05s – vel. média: 36.8 km/h

2- Miryam Nuñez – Equador +1m24s

3- Agua Marina Espínola – Paraguai +1m24s

4- Ana Vitória ‘Tota’ Magalhães – Brasil +2m09

18- Ana Paula Polegatch – Brasil +3m51s

28- Ana Paula Casetta – Brasil +14m35s

30- Talita da Luz – Brasil – Brasil +16m05s

Sepúlveda🇦🇷, Narváez🇪🇨 e Fagundez🇺🇾 -foto: Marcelo Hernandez/Santiago 2023 via Photosport

Prova de Estada Masculina – 157.5 km – 9 voltas – 42 ciclistas de 16 países

1- Jonathan Narváez – Equador – 3h37m56s – vel. média: 43.4 km/h

2- Eduardo Sepulveda – Argentina +1s

3- Eric Fagundez – Uruguai +1s

4- Martin Vidaurre – Chile +1s

5- Nicolas Sessler – Brasil +1s

21- Kacio Freitas – Brasil +10m06s

25- Caio Godoy – Brasil +10m33s

30- Armando Reis da Costa – Brasil +10m35s

QUADRO DE MEDALHAS

Ciclismo de Estrada + Contrarrelógio individual

🇺🇸 – 🥇2 – 2

🇪🇨 – 🥇1 🥈2 – 3

🇨🇴- 🥇1 – 1

🇦🇷- 🥈1 – 1

🇨🇺- 🥈1 -1

🇧🇲- 🥉1 – 1

🇨🇱- 🥉1 – 1

🇵🇾- 🥉1 – 1

🇺🇾- 🥉1 – 1

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