Bicicletas apreendidas pela polícia de Água Boa, no Mato Grosso, são recicladas e transformadas em cadeiras de rodas para doação a entidades que cuidam de pessoas com necessidades especiais. Uma boa ideia que pode ser levada a outras cidades, aonde pátios lotados de delegacias acumulam bicicletas recuperadas, muitas vezes esquecidas por seus proprietários ou que seus donos nunca foram encontrados
Uma montanha de bicicletas, modelos populares de baixo valor agregado que se acumulavam no pátio da delegacia de polícia de Água Boa, cidade localizada a 736 Km de Cuiabá e uma boa ideia dos policiais Aurélio de Mendanha da Silva e Dionelsio Reis se transformam no projeto Roda Viva, aonde bicicletas são recicladas e transformadas em cadeiras de rodas para serem doadas a instituições de caridade.
Os constantes pedidos de ajuda para que conseguissem cadeiras de rodas para pessoas com necessidades especiais e sem condições econômicas, motivaram a dupla de policiais a buscarem um meio de atender a essas solicitações. Segundo o investigador Mendanha, “Sempre recebemos muitos pedidos de doação de equipamentos como esse na delegacia, mas infelizmente não podemos doar. Essa foi a forma que conseguimos pensar para ajudar essas pessoas” .
Em fevereiro deste ano Mendanha e Reis desenvolveram alguns protótipos, porém não atendiam as especificações . “Produzimos três protótipos até chegar a esse resultado final, que reaproveita todas as peças da bicicleta. Esse projeto pode ser repetido por todas as delegacias do estado. O problema de superlotação não é exclusivo de Água Boa”, explicou o policial.
A primeira cadeira fabricada com peças de bicicleta foi doada para a Escola Nova Esperança, da instituição filantrópica Associação Pestalozzi, que atende pessoas com deficiência.
Agora, segundo os investigadores, entraram na fase burocrática do projeto para que as bicicletas apreendidas ou recuperadas em ações da polícia e que não forem reclamadas por seus donos, possam ser recicladas e suas peças utilizadas na montagem de cadeiras de rodas. “Precisamos fazer o levantamento das bicicletas e atestar se realmente não serão mais retiradas pelos donos”, contou Aurélio Mendanha.
Para a construção das cadeiras e reciclagem das bicicletas os policiais estudam a possibilidade de contar com a colaboração de alguns detentos da penitenciária do município . “Não conseguiremos sozinhos, pois é uma atividade que poderemos fazer apenas nas horas livres. Também precisamos de apoio financeiro de serralherias, funilaria, pintura e tapeçaria”, comentou Aurélio.
As cadeiras construídas com a reciclagem de bicicletas são apenas de transporte, como as utilizadas em hospitais, não de autolocomoção. Segundo ele, o preço médio para a produção é de R$ 250, enquanto uma cadeira nova pode custar mais que o dobro.
A Escola Nova Esperança que recebeu as cadeiras de rodas, tem alunos de 1 a 81 anos. Segundo a diretora da instituição, Iaraci Torquato, o projeto é extremamente importante. “Muitas vezes, tiramos a medida da pessoa, fazemos o pedido da cadeira de rodas e elas só são entregues depois de quatro anos. Já tivemos alunos que morreram esperando”, contou. Há ocasiões em que os próprios funcionários da unidade fazem vaquinhas ou vendem rifas para comprar os equipamentos que faltam na escola e atender as necessidades dos cadeirantes.
“É importante que a sociedade entenda as necessidades dessas pessoas, pois estamos desassistidos pelo poder público, que é o único que possui a responsabilidade de nos atender. A cadeira doada vai ajudar e muito no atendimento dos alunos”, concluiu Iaraci.