O mercado das bicicletas de altíssima gama vive uma outra realidade de mercado – e isso se reflete, mesmo em um momento difícil para todo o setor, em números muito positivos. A Colnago com seus novos investidores e uma nova gestão vê seu faturamento mais do que triplicar em 3 anos
O mercado do ‘alto luxo’ das bicicletas pedala com vento a favor em relação à grande maioria dos demais fabricantes de bicicletas. Um setor que ultimamente tem sinalizado com notícias nada animadoras, com estoques cheios, marcas famosas tomando empréstimos ou pedindo socorro oficial, ou outras simplesmente pedindo falência tem uma realidade bem diferente das marcas de grife ou que trazem um gigantesco valor histórico.
Essas marcas direcionadas para um público apaixonado por bicicletas e de grande poder aquisitivo não sofrem com bicicletas paradas nos estoques, conseguem manter o preço e a hierarquia dos seus produtos e qualquer analogia ao mercado dos carros de luxo, não é coincidência! Afinal estamos falando de máquinas de pedalar que seus fabricantes buscam ir além da venda, mas buscam cultivar um sonho, trazer uma tradição que se somam à sustentabilidade, saúde e a cultura.
A Colnago, desde que passou a ser controlada por um grupo de investimentos em 2020, ficou mais agressiva em seu marketing – criando edições comemorativas para o Tour de France, para o Giro ou a exclusivíssima Gioiello número 1 – não que o ‘Maestro’ não tivesse feito no passado ações desse tipo, mas a abordagem tem outra dinâmica assim como a gestão da empresa, e isso se traduz em seus números positivos.
As demonstrações financeiras de 2023 da Colnago Ernesto & C. S.r.l apresentam vendas no total de € 55.715.101 – um crescimento de 33 por cento em relação ao ano anterior (41.935.743 euros) e EBITDA (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) nos € 14.015.100, ou 25,15% (+106%) de lucro real do volume de negócios.
A tendência de crescimento da empresa continua em 2023 e leva a um volume de negócios mais do que triplicado desde a aquisição em 2020 pelos novos acionistas maioritários, naquele momento o faturamento estava próximo aos 17 milhões de euros. O claro posicionamento no topo do segmento de bicicletas de estrada (e gravel), a força da marca da histórica empresa de bicicletas, que este ano comemora 70 anos, e a grande comunidade global de entusiastas são apenas alguns dos impulsionadores que permitiram este resultado econômico que coloca a Colnago na excelência do setor, justamente em um momento que algumas marcas importantes do setor revelavam certo descompasso ou mesmo problemas.
“Nossa missão é ser a marca de bicicletas mais desejada do mundo. Neste ponto, é claro, acreditamos que estamos no caminho certo”, comentou Nicola Rosin, CEO da Colnago. “A Colnago é uma empresa bem organizada, com gestores capazes e um grande sentimento de pertencimento”.
“A oportunidade de ter duas grandes equipes no WorldTour, a, UAE Team Emirate no masculino e no feminino a UAE Team ADQ aumenta o nível das suas exigências e estimula-nos diariamente a melhorar o nosso produto. Também temos uma propriedade que quer sucesso e crescimento constante, mas alcançá-los de forma saudável: uma governança harmoniosa permite que nós, gestores, realizemos o nosso trabalho da forma mais serena possível. Isso realmente vale muito!”, destacou Rosin.
E mesmo falando de bicicletas de alta gama, Rosin se mostra muito conectado à realidade das lojas e dos seus proprietários ao declarar para o site italiano Tuttobiciweb: “Estou ciente do momento delicado que vivem os lojistas que têm menos caixa e menos disponibilidade e por isso não há dúvida de que mesmo nós do setor de alto padrão, que parecemos imunes a esse tipo de problema, teremos que prestar um pouco mais de atenção para eles. Nos últimos anos, os lojistas ficaram cheios de material e agora temos que ajudá-los”.
Rosin ainda apontou para uma realidade que até pouco tempo atrás também acontecia no mercado brasileiro: “O lojista já não é aquela pessoa jurídica que temos de tentar encher de mercadoria e depois pensar que é o problema é só dele. Temos o dever de perceber se consegue vender ao consumidor final e como. Ajudá-lo significa protegê-lo. Ajudá-lo significa compreendê-lo: nós e ele somos a mesma coisa. O que realmente importa não é quantas bicicletas podemos vender para ele, mas quantas bicicletas o consumidor compra. Durante muitos anos tenho visto empresas focadas em encher os estoques dos lojistas. Precisamos de pontos de venda especializados, qualificados e motivados: vendemos um produto cada vez mais complexo e o lojista é uma figura fundamental”.
«Vence quem enche os lojistas com mais bicicletas ou quem consegue criar mercado? Acredito que você ganha criando novos mercados. Vejo empresas multibilionárias e pequenas empresas italianas travando guerra entre si: em vez de travar a guerra, talvez fosse melhor conversar entre si”, concluiu Rosin com um conselho que não é apenas útil no mercado europeu, mas também por aqui.