Duas realidades bem diferentes vivenciaram os brasileiros que subiram ao pódio na prova de Mountain Bike XCO dos Jogos Pan Americanos de Lima2019. Aos 43 anos, Jaqueline Mourão, 12 anos depois de perder o pódio no Pan do Rio2007, conquista a medalha de bronze e sonha com as próximas olimpíadas. No masculino, Henrique Avancini graças à consistência e aos bom desempenho na atual temporada entrou como favorito, sofreu com problemas mecânicos e um pneu furado e sonho do ouro, se transformou em uma prata
Os ciclistas mexicanos dominaram a primeira posição do pódio nas provas de mountain bike cross country dos Jogos Pan-Americanos, disputados em Lima, no Peru. Daniela Campuzano e Jose Ulloa venceram a prova realizada no duro circuito de 4,2 km com várias partes técnicas, com subidas muito empinadas e curvas fechadas, montado no Morro Solar de Chorrillos.
Na prova feminina, Daniela foi perseguida constantemente pela brasileira Jaqueline Mourão e pela argentina Sofia Gomez praticamente correram juntas para dar combate à mexicana que conseguiu abrir uma pequena vantagem no meio da prova.
Jaqueleline que voltou a um Pan Americano e XCO 12 anos depois do Ri2007 descreve como foi a prova: “Foi um duelo forte. Quando vimos a mexicana Campuzano perto, aceleramos e tendei atacar a Sofia nas subidas. Porém, senti muita câimbra e batalhei até o final para conseguir terminar no terceiro lugar. Sabia que Sofia tinha uma arrancada forte, mas tentei até o fim e estou feliz com a minha prova”.
Não foi uma prova fácil para nenhuma das competidoras, a mexicana Capuzano em sua terceira participação nos Jogos Pan Americanos contou que “Na verdade é que quando arranquei e as minhas pernas incharam. Desde esse momento percebi que seria uma corrida difícil para mim. Mas tratei de não me desesperar e pouco a pouco fui pegando ritmo”.
Para a brasileira os maiores problemas apareceram na última volta quando sofreu com dores e câimbras, porém Jaqueline se valeu da experiência para superar as dificuldades, “Sou uma atleta diferente, mais velha, passei aquele ‘auge’, mas me sinto forte ainda e tenho vontade de representar o país e querer outra medalha”, comentou. “Pela minha idade, o planejamento é ano a ano. Fisiologicamente estou bem, pois os esportes de inverno me fizeram mais fortes, moldaram o meu corpo por serem esportes duros. Voltei mais forte do que era”, destacou Jaqueline.
Lima2019 foi uma segunda oportunidade para a brasileira que não subiu ao pódio. “Estou muito feliz em voltar depois de 12 anos fora do circuito para estar nos Jogos Pan-Americanos. Em 2007 perdi a medalha. Foi uma luta segurar essa onda. Eu falei que finalmente tive uma segunda oportunidade e consegui a medalha. Dedico o pódio a minha avó, que morreu e que estava nos Jogos de 2007 e não me viu no pódio. Deus me deu uma nova oportunidade e estou contende por ter conquistado essa medalha“, disse a mountain biker que agora corre em busca da classificação para os Jogos Olímpicos de Tóquio, no ano que vem.
No masculino, toda a torcida brasileira e os dirigentes depositaram suas esperanças em que Henrique Avancini pudesse romper um jejum de 60 anos sem um ouro Pan Americano nas provas de ciclismo. Campeão brasileiro e vice-líder da Copa do Mundo de XCO, o mountain biker de Petrópolis, era considerado como o grande favorito por todos.
Porém, momentos antes da largada, Avancini teve o primeiro sinal de que o dia não seria dos melhores. O cabo bloqueio e desbloqueio da sua suspensão quebrou e não havia mais tempo para a sua substituição, e o jeito foi encarar o circuito com o equipamento travado, e assim o duelou com o mexicano Ulloa no início da competição; o campeão brasileiro só não contava que a ao abrir a terceira das sete voltas, logo após passar o primeiro ponto de apoio seu pneu traseiro furasse e o obrigasse a rodar um longo trecho “no aro” até que chegasse ao ponto de apoio e trocasse a roda. Com mais esse imprevisto o mexicano conseguiu abrir uma vantagem que chegou aos 3 minutos.
AVANCINI E O PAN AMERICANO DE LIMA 2019: “Eu consegui fazer um milagre, mas não dois…não deixa de ser uma frustração de não voltar para casa com a medalha de ouro
“Perdi 3 minutos só por andar com o pneu furado. E quando você anda com pneu furado, tem gasto energético maior. Competir é aprender. Eu vou tirar lições dessa prova, mas é uma grande frustração pelo nível que venho competindo na temporada e pelo desejo que tinha pelo ouro. Larguei para conquistar o título e ficou claro que eu tinha condições. Tiro o lado positivo do esporte, as lições que a prova ofereceu, mas não deixa de ser uma frustração de não voltar para casa com a medalha de ouro””, destacou Avancini que ainda comentou: “Eu consegui fazer um milagre, mas não dois. Isso faz parte do esporte, do contexto da modalidade. Embora eu tenha largado para voltar para casa com o ouro, a prata era o máximo disponível dentro das circunstâncias”.
Segundo o próprio Avancini há mais de três temporadas que ele não sofre com mais de um problema mecânico em uma competição, nunca tinha passado por problemas com a suspensão e furar um pneu em uma corrida era coisa que não acontecia há pelo menos 2 anos.
O mexicano Ulloa estava preparado para um confronto com o brasileiro: “Sabia que o Avancini viria aos Jogos Pan Americanos e que seria uma competição bem dura. Pensei que a corria poderia se definir nas últimas voltas, mas o Avancini sofreu problemas mecânicos e pude ganhar esse ouro que dedico à minha família”, destacou o campeão do XCO de Lima 2019.
Mais jovem no pódio, com apenas 19 anos, o chileno Martín Vidaurre mostrou-se surpreso com seu desempenho: “Isso é surreal para mim. É minha primeira participação nos Jogos Pan Americanos e vim sem nada a perder, vim para ganhar experiência e saio com uma medalha para o meu pais depois de uma corrida tão árdua como essa. Posso dizer que isso é só o começo”.
Guilherme Müller, vice-campeão brasileiro de cross country foi o outro representante brasileiro na competição e terminou na prova na 5ª posição, a 5m33s do vencedor.
JOGOS PAN AMERICANOS LIMA 2019
Circuito Morro Solar de Chorrillos
Feminina – 1 volta no circuito de 700 metros + 6 voltas no circuito de 4.2 km
14 competidoras – 12 completaram a prova
1- Daniela Campuzano – México – 1h30m45s
2- Sofia Gomez – Argentina +21s
3- Jaqueline Mourão – Brasil +26s
Masculina – 1 volta no circuito de 700 metros + 7 voltas no circuito de 4.2 km
20 competidores – 16 completaram a prova
1- Jose Ulloa – México – 1h25m03s
2- Henrique Avancini – Brasil +2m04s
3- Martin Vidaurre – Chile +2m28s
5- Guilherme Müller – Brasil +5m33s