Plataforma de lançamento de novos valores, equipe de referência no continente sul-americano e vitrine do ciclismo colombiano, a equipe Colombia Coldeportes chega ao fim. As verbas oficiais foram reduzidas e só garantiriam metade dos valores necessários para a temporada 2016
As listas das equipes que farão parte da temporada 2016 começam a circular pelos meios de comunicação, mas para quem acompanha a movimentação, a falta da Colombia Coldeportes na lista de equipes que correrão no pelotão Continental Profissional já sinalizava algum problema. Alguém ainda vai nos lembrar que nas duas temporadas passadas a direção deixou a solicitação da licença para a data final: 1 de novembro quando a equipe deve apresentar seu orçamento, garantias bancarias, contratos para a comissão de licenças da UCI. Mas para a temporada 2016 a realidade é outra, e ao que parece a equipe fez suas últimas aparições no Abu Dhabi Tour e no GP Beghelli na Itália.
O ciclismo do pais andino sofre um duro golpe, justo em seu melhor momento histórico. A Colômbia é uma potência quando se fala de ciclismo de estrada, de pista e no BMX – títulos internacionais não faltam para dar o aval, mas a equipe era um sonho alimentado por toda uma legião de torcedores espalhados pelo mundo, e também para muitos algo a ser seguido como exemplo. Além da equipe Profissional Continental, a Colombia Coldeportes tem uma estrutura paralela , com uma equipe Continental que disputa provas locais e algumas provas do UCI América Tour que ainda não tem futuro definido e que nas corridas do calendário colombiano corre sob o nome de Coldeportes Claro, dirigida por Carlos Jaramillo, há também uma equipe de paraciclistas, mas essas duas estruturas não tem relação com a equipe sediada na Itália.
A Colombia Coldeportes sempre esteve sob o comando do italiano Claudio Corti com passagens pela Chateau D’Ax, Polti, Saeco, Lampre e Barloworld. Por questões de logística, para uma equipe que pretendia disputar provas no velho continente, sua base foi estabelecida na cidade de Adro, na Itália. Corti locava a sua estrutura, pois a equipe Colombia Coldeportes aparece em seu registro como a empresa GLM Sport Srl e que segundo o site oficial, em seu staff de 18 pessoas, havia apenas um diretor esportivo colombiano (Oliverio Rincon) e uma massagista ucraniana, todos os demais eram italianos. E aqui vale deixar claro que a licença UCI da equipe não é do governo colombiano ou da Coldeportes, mas da empresa de Claudio Corti.
Os sinais de que as verbas da Coldeportes seriam reduzidas foram transmitidas à direção da equipe pelo diretor da entidade – Andrés Botero durante a última Vuelta a España. O manager da equipe, Corti, soube que o repasse de verbas seria reduzido à metade daquilo entregue nos anos anteriores. No primeiro ano foram 2,5 milhões e depois chegou-se a 3 milhões de Euros por ano. Para 2016 o governo não entregaria mais do que 1,5 milhão de euros, o corte de verbas está motivado por forte redução orçamentária promovido pelo governo em todos os ministérios, inclusive para o esporte. Neste valor não estão computados os números do fornecedor de bicicletas Wilier, Nalini e outros, aonde se diz que somariam mais 800 mil euros. O que na somatória resultava como uma das equipes ProContinental de maior orçamento, superior por exemplo à da espanhola Caja Rural.
Ao mesmo tempo em que Botero, dirigente da Coldeportes, dava a notícia de que haveria uma redução no orçamento, este assumiu o compromisso de buscar junto a empresas colombianas, tanto públicas como privadas possíveis interessados no co-patrocínio da equipe. Com o tempo passando, parece as negociações não evoluíram, se a revista colombiana Mundo Ciclístico, sempre muito oficialista quanto às questões do esporte local dá como certo o encerramento das atividades, já podemos dizer que a Colombia Coldeportes chega ao fim, a não ser que apareça algum patrocinador disposto a bancar 50% do orçamento da equipe até 1º de novembro, o que parece ser quase impossível.
É preciso também levar em conta que ao longo da temporada 2015, o Team Colombia foi a única equipe Continental Profissional que não venceu uma única etapa, uma prova ao longo do ano. Seus resultados nesta temporada que se encerra vieram nas classificações individuais de montanha (Tour de San Luis, Tirreno-Adriático, Giro del Trentino, Tour da Turquia, Vuelta a Asturias, Route du Sud e Vuelta a Burgos), a classificação por equipes no Tour de San Luis e de Utah e a camisa do ciclista mais jovem, apesar de resultados expressivos, patrocinadores também querem chegadas com os braços ao alto, e isso faltou.
Mas, há ainda uma versão de bastidores que leva a crer que o fim do patrocínio tem relação com uma provável investigação da Controladoria Geral da República da Colômbia, parece que na gestão da equipe houveram desvios de recursos, superfaturamento de custos dos uniformes ao mesmo tempo que se cobrava do fabricante para utilização da sua marca, além de outros problemas ligados à administração.
A gestão italiana, quanto ao lado técnico também é questionada por pessoas ligadas ao esporte, o argumento é de que Corti atuava mais como empresário do que como um verdadeiro diretor esportivo. E nisso tudo ainda surgiram rumores de que os salários dos ciclistas chegaram a ter atrasos de 4 meses, apesar das remessas oficiais terem sido efetivadas. Coisa que ambas as partes dizem ter resolvido.
Parece que mais uma vez um projeto emblemático do ciclismo colombiano chega ao fim, se entre 1985 e 1990 o mundo acompanhou o Café de Colombia. Entre 2012 e 2015 o mundo viu uma equipe que em seu primeiro ano já foi convidada para Tirreno-Adriatico, Milano-Sanremo, Il Lombardia e que revelou grandes valores como Esteban Chaves, Darwin Atapuma, Jarlinson Pantano. A Colômbia perde o seu estandarte, há quem ainda especule que se o governo ainda está disposto a investir 1,5 milhão de Euros ainda seria possível se montar uma equipe, de menor proporção (mas 1,5 milhões de euros dá para fazer muita coisa na Europa) sem a ambição de um dia chegar ao pelotão World Tour como sonharam, mas para manter a chama acessa de uma equipe reveladora de talentos e a tradição dos escarabajos (como são conhecidos no meio os escaladores colombianos).