No último dia competições do Campeonato Mundial de Paraciclismo, Lauro Chaman escreve sua história no velódromo carioca, e conquista a única medalha brasileira no torneio. Os britânicos foram a principal força e saem do Rio com 18 medalhas, sendo 11 de ouro
Sim é possível! Lauro Chaman sempre acreditou no seu potencial e apostou forte que seria na prova de Scratch a sua grande chance. Não foi à toa que ele treinou muito e lá atrás, no mês de dezembro de 2017, no velódromo de Indaiatuba ele conquistava o título brasileiro de Scratch e da Prova por Pontos (sim o brasileiro de pista, e vamos dizer para que o leitor que não acompanhou a história, para os ciclistas normais).
Aos 31 anos, o paulista de Araraquara levantou a pequena torcida que compareceu ao velódromo do Parque Olímpico da Barra, e também fez muita gente vibrar em suas casas durante a transmissão via streaming . Foi uma vitória apertada, daquelas que se decidem no photo-finish, coisa de um tubular de vantagem sobre o australiano Alistair Donohoe que fez marcação cerrada sobre o brasileiro até o sprint final. Logo atrás dos dois chegava o holandês Daniel Gebru, outro conhecido do brasileiro; foi ele que superou o brasileiro na prova de estrada, tomando o segundo lugar e deixando a o bronze na Rio2016.
Chaman veste-se com a camisa arco-iris pela conquista do Mundial de Scratch C4-5 e comemorou muito junto da sua família, tomado pela emoção comentou: “Confesso que sonhei com este momento de ganhar uma medalha com o meu filho na arquibancada. Eu sabia que a prova que eu teria mais chance seria o Scratch, por ser uma prova mais longa. Conseguimos fazer uma boa corrida e agradeço principalmente ao meu companheiro de equipe Soelito Gohr, que me auxiliou na estratégia traçada pelos meus treinadores. A energia era muito, muito positiva aqui hoje”. .
No ano passado, no Mundial de Paraciclismo de Pista, em Los Angeles, ele havia subido no pódio em três ocasiões, foi prata Perseguição Individual e bronze no 1Km e no Scratch. Até agora, Chaman considerou-se um especialista em estradas – no Rio 2016 ganhou a prata paraolímpica na corrida de estrada e bronze no contra-relógio – mas segundo informações, planeja trabalhar em seu ciclismo de pista com vistas aos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020.
Na outra prova de Scratch do dia, na categoria C1-2-3, a festa foi do colombiano Alejandro Perea Arango que conquistou a sua segunda medalha de ouro no Mundial; na sexta-feira havia vencido o Km na categoria C2 e no domingo fez uma corrida impressionante, colocando uma volta no grupo e manteendo-se à frente, numa prova que foi marcada por uma impressionante queda aonde estiveram envolvidos importantes nomes do paraciclismo como o holandês Arnoud Nijhuis, , os espanhóis Eduardo Santas e Ricardo Tem e o belga Diederick Schelfhout. A prata ficou para o australiano Darren Hicks que ficou no pelotão e o bronze com o canadense Tristen Chernove. Nesta categoria o brasileiro Flavio Lucato não passou pela fase de classificação, ficando fora da final.
Os britânicos mais uma vez dominaram as provas de velocidade em Tandem. Na fase classificatória feminina, as australianas Jessica Gallagher e Madison Jansesen superaram seu próprio recorde que havia sido estabelecido em Montechiari 2016 com 11s045 para os 200m, a nova marca obtida no Rio era de 11s016. Porém a festa durou muito pouco, logo depois entrou a dupla britânica com Helen Scott conduzindo a bicicleta para Sophie Tornhill baixando o recorde para 10s891 – para a dupla era o seu segundo recorde na rápida pista carioca, elas já haviam baixado a marca do 1Km. Nessa mesma fase classificatória dos 200m as brasileiras Marcia Fanhani e Taise Benato obtiveram o 8º tempo e adquiriram o direito de ir para as quartas de final, porém com esse tempo , tiveram o azar de enfrentar a dupla mais rápida e que ao final conquistou o ouro.
Na bateria final as britânicas Sophie Tornhill e Helen Scott não deram chance às australianas Jessica Gallagher e Madison Janssen e simplesmente dominaram os dois matches, coisa que a dupla nunca havia conseguido. Porém as britânicas não tiveram muito tempo para comemorações, pois tiveram apenas algumas horas para fazer as malas e tomar um vôo para a Austrália, onde os dois tandems se cruzarão novamente nos Jogos da Commonwealth na Gold Coast no próximo mês. Pela disputa do bronze as belgas Griet Hoet e Anneleen Monsieur passaram com facilidade pela dupla irlandesa Dunlevy-McCrystal.
Nos 200m tandem masculino os britânicos deixaram muito claro que se apoderaram na pista, fizeram os dois melhores tempos na fase classificatória, onde os brasileiros Marcelo Andrade e Marcos Novello registraram o 17º tempo (12s050) não conseguindo avançar na competição. Na final os britânicos Neil Fachie e o piloto Matthew Rotherham venceram com muita superioridade os dois matches contra os holandeses Tristan Bangma e Patrick Bos. Na disputa pela medalha de bronze, o outro conjunto britânico formado por James Ball e Peter Mitchell derrotou a Austrália.
Na outra prova de velocidade, o Sprint por Equipes C1-5, disputado em 3 voltas – 750 m – em prova idêntica à velocidade por equipes, os britânicos com Louis Rolfe, Jon-Allan Butterworth e Jody Cundy, a mesma formação que em 2016 havia conquistado o ouro e estabelecido o recorde mundial na Paraolimpíada, fez o melhor tempo de classificação, a segunda melhor marca foi dos chineses e com isso se apontava o duelo final. O trio brasileiro formado por Carlos Alberto Soares, Soelito Gohr e Lauro Chaman ficou apenas com o 12º tempo (56.070).
Na final os britânicos confirmaram seu ótimo desempenho diante dos chineses de Zhangyu Li, Guoping Wei e Shanzhang Lai. O líder da equipe britânica, Louis Rolfe comentou a responsabilidade com que entraram na disputa: “Obviamente estamos muito felizes, mas também é um alívio. Viemos para cá para replicar nosso desempenho da Rio 2016, mas você nunca sabe como vai dar certo”.
Se na disputa pelo ouro a aposta era certa nos britânicos, o duelo pelo bronze foi dos mais emocionantes com os trios da Espanha (Amador Granados, Eduardo Santas e Alfonso Cabello) e dos Estados Unidos (Jason Kimball, Joseph Berenyi e Justin Widhall) terminando a prova com o mesmo tempo – 51s181, o critério de desempate foi o da última volta, e como os espanhóis foram os mais velozes, levaram o bronze.
A Grã-Bretanha liderou o quadro de medalhas com 11 de ouro, quatro de prata e três de bronze, seguidos pelos Holanda (cinco de ouro, dois de prata e quatro de bronze) e China (três de ouro, quatro de prata e três de bronze). Aqui na América do Sul o melhor desempenho ficou com a Colômbia com 4 medalhas (2 ouro,1 prata e 1 bronze), o Brasil com 1 medalha de ouro à frente da Argentina com 2 medalhas de bronze. Estiveram na disputa durante os quatro dias do Mundial de Paraciclismo no Rio de Janeiro 30 países, destes 17 saíram com ao menos um de seus paraciclistas deixar a cidade com uma medalha.
Sem patrocínio privado, o evento foi uma realização da CBC, com suporte da Agência de Legado Olímpico (AGLO) responsável pela zeladoria e administração do velódromo, do Ministério do Esporte e do Comitê Paraolímpico Brasileiro.
Após 4 dias de competições o balanço é positivo com o evento sendo muito bem avaliado pelas delegações estrangeiras e pelas autoridades internacionais presentes. Se faltou um canal de esportes por assinatura para levar o Mundial às casas das pessoas, ao menos os organizadores conseguiram transmitir via streaming pelo canal oficial no Youtube, com alguns problemas é claro, mas que foram contornados utilizando outra plataforma como o Facebook, mas para os fãs até que deu para aproveitar bons momentos do esporte e também para entender o que é o mundo do paradesporto.
Scratch Masculino C1-2-3
15 Km – 60 voltas – tempo de prova: 18m59 velocidade média: 47,41 km/h
1- Alejandro Perea Arango/Colômbia
2- Darren Hicks/Austrália -1 volta
3- Tristen Chernove/Canadá -1 volta
Scratch Masculino C4-5
15 km – 60 voltas – tempo de prova: 17m56 velocidade média: 50,185 km/h
1- Lauro Chaman/Brasil
2- Alistair Donohoe/Austrália
3- Daniel Abraham Gebru/Holanda
11- Soelito Gohr/Brasil -1 volta
Velocidade por Equipes Mista
750m – 3 voltas
1- Grã Bretanha /Louis Rolfe, John Allan Butterworth, Jody Cundy *
2- China/ Zanghyu Li, Gouping Wei, Shanzhang Lai*
3- Espanha/Amador Granados, Eduardo Santas, Alfonso Cabello*
12- Brasil/Carlos Alberto Soares, Soelito Gohr, Lauro Chaman – 56s070
Velocidade 200m Feminino B Tandem
1- Grã Bretanha/Sophie Tornhill –Helen Scott piloto – 11s539 vel. média: 62,397km/h – 11s597 – vel. media 62,085km/h
2- Austrália/Jéssica Gallagher- Madison Janssen piloto
3- Bélgica/Griet Hoet – Anneleen Monsieur piloto – 11s526 vel. média: 62,467km/h – 11s533 vel. média: 62,429km/h
4- Irlanda/Katie-George Dunlevy – Eve McCrystal piloto
7- Brasil/Márcia Fanhani-Taise Benato piloto
Velocidade 200m Masculino B Tandem
1- Grã Bretanha/Neil Fachie – Matthew Rotterham piloto *
2- Holanda/Tristan Bangma – Patrick Bos piloto*
3- Grã Bretanha/James Ball – Peter Mitchell piloto*
17- Brasil/Marcelo Andrade-Marcos Novello piloto – 12s050
*Sem tempo- a organização não disponibilizou o boletim oficial