MUNDIAL DE DOWNHILL: BALANCHE E WILSON OS SOBREVIVENTES DO LAMAÇAL

O mau tempo marcou presença no último dia do Mundial Mountain Bike em Leogang transformando o trecho de floresta em uma armadilha de lama para os competidores de downhill. Favoritos ficaram pelo caminho, e se manter sobre a bicicleta e tentar ser rápido foi um desafio,  nessas condições extremas Camille Balanche e Reece Wilson garantiram o ouro e a camisa arco íris

Reece Wilson foi prudente na abordagem da pista para conquistar o título mundial de downhill – foto: Bartek Wolinski/Red Bull Content Pool

As provas de downhill foram programadas para fechar as disputas do Campeonato Mundial de Mountrain Bike em Leogang, na Áustria no último domingo (11/10) . Essa modalidade já frequenta o local desde 2010 com as etapas da Copa do Mundo seu traçado sempre foi muito elogiado, também conhecido como Speedster, mas neste ano a chuva resolveu embaralhar as disputas e transformar a pista em algo caótico para praticamente todos os competidores.

Para o mundial a pista de 2,3 km que combina descidas íngremes, trechos velozes com saltos entre pedras,  a ‘floresta encantada” utilizando 39% das encostas da montanha foi toda redesenhada, no lacal muitas de raízes cortando a pista, curvas fechadas e no final  saltos enormes.

Oisin O’Callaghan campeão mundial junior de DH foto: Michal Cerveny/UCI

A chuva que caiu desde as primeiras horas de domingo transformou a ‘floresta encantada’ em uma armadilha. O downhill foi decidido não pela velocidade extrema ou a máxima ousadia, mas por quem conseguiu se manter sobre a bicicleta, evitando ou superando lamaçais que cobriam metade de roda e que chegou ao trecho final mais veloz com a bicicleta em condições para colocar velocidade.

As garotas da categoria junior abriram as disputas, para se ter uma ideia das condições da pista a alemã Ansastasia Thiele e a belga Siel van der Velden que na fase classificatória fora 3ª e 2ª respectivamente, sofreram na lama, caíram e seus tempos que foram na casa dos 5m50 saltaram para mais de 9 minutos.

Camile Balanche sobreviveu à lama e destronou competidoras mais experientes
foto: Bartek Wolinski/Red Bull Content Pool

Motivada por correr em casa Sophie Guthorle fez uma descida consistente, errou menos e chegou a posicionar com o melhor tempo, porém foi superada pela francesa Lauryne Chappaz que no ano passado em Mont-Sainte-Anne ficou na 8ª posição e que em Leogang se mostrou a melhor e mais rápida nas quatro intermediárias fechando sua participação com o tempo mais rápido 5m41s502, repetindo o feito de sua irmã Mélanie que em Cairns’2017 conquistou o mundial de downhill na categoria junior.

No masculino os britânicos estavam com uma equipe muito forte na final. O primeiro a fazer um tempo significativo, levando-se em consideração as condições da pista foi  o britânico Deniis Luffman, porém pouco depois seu tempo foi superado pelo irlandês Oisin O’Callaghan que assumiu a primeira posição com 4m02s142 e sentou no trono destinado ao melhor tempo para assistir seus adversários. 

Uma das favoritas ao pódio, Marine Cabirou caiu no primeiro trecho da pista
foto: Bartek Wolinski/Red Bull Content Pool

Um a um os mais rápidos na classificação foram caindo, os britânicos não conseguiram destronar o irlandês; Daniel Slack ficou a 2s141 apesar de ter feito 3 passagens mais rápidas faltou velocidade no final e Elliot Janes  a distantes 10s705. O estadunidense Matthew Sterling que havia sido o mais rápido na classificação chegou a fazer uma boa largada, mas não dominou a lama e terminou na 43ª posição e o outro irlandês na pista, Christophe Cumming não conseguiu repetir a boa atuação da classificação quando fez o 2º tempo, terminando na 21ª posição.

O’Callaghan aos 17 anos é o primeiro campeão irlandês de downhill e entra para a história com seu compatriota Mark Scanlon que foi campeão mundial junior de ciclismo de estrada em Valkenburg’1998. Os britânicos ficaram com a prata e o bronze com  Slack e Elliot, e ainda colocaram Luffman e Luke Mumford em 4º e 5º.

O tetra campeão mundial Loïc Bruni não se adaptou ao circuito, caiu e concluiu a prova em 62º-
foto: Bartek Wolinski/Red Bull Content Pool

A prova da Elite feminina começava com alguns desfalques importantes,  a britânica  cinco vezes campeã mundial Rachel Atherton não foi à Áustria por estar lesionada e a mountain biker local Valentina Höll que havia feito o melhor tempo na classificação da sexta-feira (9/10) com uma vantagem de 2s651 sobre a favorita Tracey Hannah, e que vinha do bi-campeonato na categoria junior (Lenzeheide’2018 e Mont-Sainte-Anne’2019) caiu no treino antes da corrida sofrendo uma fratura no tornozelo e lesões nos ligamentos . Mas outras figuras importanes do downhill como a britânica Tahnée Seagreve e as francesas Marine Cabirou e Myryam Nicole, campeã mundial de 2019.

As condições da pista tiraram toda possibilidade de uma disputa com saltos e velocidade, inclusive na ‘floresta encantanda’ algumas competidoras foram obrigadas a ‘remar’ na lama para sair do atoleiro que travava as rodas da bicicleta.

Myriam Nicole chegou a liderar a classificação, mas teve que se contentar com a 2ª posição – foto: Bartek Wolinski/Red Bull Content Pool

A campeã mundial Myriam Nicole foi a primeira a empolgar com uma descida que a colocou na liderança da prova, mesmo tendo sofrido uma pequena queda no trecho final da ‘floresta encantada’, seus 5m11s eram a marca  ser batida.

Logo depois desceu Tahnée Seagrave, vencedora da etapa da Copa do Mundo em Leogang’2017 e que já beliscou o mundial com duas medalhas de prata (Lenzeheide’2018 e Mont-Sainte-Anne’2019) e uma de bronze (Lillehammer’2014). A britânica que se recuperava de uma lesão no tornozelo fez os melhores tempos em três intermediárias e se colocava virtualmente mais uma vez no pódio, porém errou uma curva saiu fora da pista caindo morro abaixo e  perdendo mais de um minuto

Remi Thirion ficou com a medalha de bronze – foto: Bartek Wolinski/Red Bull Content Pool

A eslovena Monika Hrastnik conseguiu fazer uma descida bastante limpa, ficando a 13 segundos de Nicole, mas nada estava definido pois ainda havia competidoras de muita técnica para descer.

A suíça Camille Balanche foi a primeira a fazer uma descida mais limpa, mesmo sem chegar a uma velocidade extrema, o controle e a confiança com que levou a bicicletas nos trechos mais enlameados a colocaram na disputa e no trecho final ela foi o suficientemente rápida para fazer o melhor tempo e assumir a primeira posição

Monika Hrastnik medalha de bronze no mundial de downhill –
foto: Bartek Wolinski/Red Bull Content Pool

O título de Balanche dependia ainda da descida da francesa Marine Caribou – campeã mundial junior em Vallnord’2015 e medalha de bronze em Mont-Sainte-Anne’2019  e de Tracey Hannah quatro vezes medalha de bronze em mundiais (Pietermaritzburg’2013, Vallnord’2015, Val di Sole’2016 e Cairns’2017) e vencedora em junho do ano passado da etapa de Leogang da Copa do Mundo.

Caribou arrancou forte mas sofreu uma queda nos primeiros obstáculos do circuito, retomou, forçou novamente e voltou a cair. Hannah foi a última a descer, fez o primeiro e o segundo trechos que a colocavam na disputa por medalhas, mas ao entrar no trecho de florestas se enroscou entre a lama e as raízes e caiu; perdeu tempo, se levantou e tentou mais uma vez, mas não conseguiu nem chegar perto da eslovena Hrastnik que estava com o terceiro tempo. Ouro para a suíça  Camille Balanche e prata para Myriam Nicole.

Anna Newkirk/EUA caiu no trecho de entrada da floresta e completou a prova na 14ª posição
foto: Bartek Wolinski/RedBull Content Pool

Quando os homens entraram na pista no local de largada, no topo da montanha, a neve já começava a cair e o vento frio tirava o ânimo de muitos competidores que teriam ainda pela frente um traçado surrado já bem maltratado que exigiria além de técnica uma boa dose de sorte.

Na classificatória da sexta-feira as melhores posições ficaram com os franceses que coloraram 5 entre os 10 melhores, encabeçados por Loris Vergier e Loïc Bruni, mas naquele dia a pista era outra.

Correndo em casa David Trummer obteve um surpreendente 2º lugar
foto: Bartek Wolisnki/Red Bull Content Pool

Um dos primeiros a impressionar com seu desempenho foi o especialista em moutain bike enduro Jack Moir, o primeiro a descer o traiçoeiro traçado abaixo de 4 minutos. Pouco depois foi a vez do britânico Reece Wilson que fez uma corrida certinha, passando bem por todos os trechos e finalizando de maneira muito digna, o que o levou para a primeira posição e tendo que esperar a descida de praticamente todos os melhores downhillers do mundo.

O francês Thibaut Daprela vencedor da Copa do Mundo Júnior UCI em 2018 e 2019 vinha descendo muito rápido, com destaque no terceiro trecho cronometrado onde encontrou uma árvore que o parou por alguns segundos, outros que abraçaram essa mesma arvore foram o 4 vezes ganhador da Copa do Mundo em Leogang, o estadunidense Aaron Gwin e o canadense Finn Illes.

A questão era basicamente não cair, perder menos tempo no lamaçal e ainda chegar com alguma velocidade para o salto final e essa tarefa não foi fácil para Luca Shaw, Brook MacDonald, Loris Vergier e Laurie Greenlad.

Não era o dia dos figurões, o sul-africano Greg Minnaar  bicampeão mundial (Leogang’12 e Pietermaritzburg’13) caiu feio; o bicampeão Danny Hart  (Champéry’11 e Vald di Sole’16) ficou na lama ; e o vice-campeão de 2019, o australiano Troy Brosnan caiu no bosque e chegou a dar algum sinal de recuperação, mas faltou energia para finalizar.

Enquanto Wilson assistia, talvez um tanto incrédulo, os francês Rémi Thirion que fez uma descida bem regular que o colocou com o 2º tempo, depois o canadense Mark Wallace fez uma descida suave e forte que o colocou na 3ª posição provisória. Mas estes foram empurrados para baixo quando o austríaco David Trummer fez uma descida correta, sem brigar com o lamaçal e assumir a 2ª posição.

Quem ainda poderia fazer algum estrago no pódio seria o tetracampeão de downhill Loïc Bruni (Vallnord’15, Cairns’17, Lenzerheide’18 e Mont-Sainte-Anne’19). Mas ele é um piloto que já declarou  não se dar bem em terrenos enlameados, e vinha de uma grave lesão muscular que o afastou de treinos por seis semanas e sem um bom resultado no campeonato francês. Um tombo no meio do lamaçal da ‘floresta encantada’  acabavam com qualquer chance de pódio, nesse momento o jovem de 24 anos e que ocupava, até então a 39ª posição do ranking da UCI de DH, se dava conta que o título estava em suas mãos.

Dos cinco brasileiros na disputa, Roger Viera foi o melhor classificado com a 42ª posição, Lucas Borba 59º, Douglas Vieria 61º, o atual campeão brasileiro Gabriel Giovannini foi 68º e Gabriel Lanfredi não conseguiu se classificar entre os 80 bikers quer foram à final no domingo.

Camile Balanche comemora a vitória em Leogang- foto: Michal Cerveny/UCI

Campeonato Mundial de Downhill Leogang, Áustria

Pista – 2.3 km

Elite Feminina

1- Camile Ballanche – Suíça – 5m08s426 – vel. média 26.846 km/h

2- Myrian Nicole – França +3s130

3- Monika Hrastnik – Eslovênia +16s966

Elite Masculina

1- Reece Wilson – Grã Bretanha – 3m51s243 – vel. média 35.806 km/h

2- David Trummer – Áustria +3s197

3- Remi Thirion – França + 5s953

42 – Roger Vieira – Brasil +37s231

59- Lucas Borba – Brasil +55s232

61- Douglas Vieira – Brasil +56s706

68- Gabriel Giovannini – Brasil +1m13s792

Reece Wilson – foto: Michal Cerveny/UCI

Junior Feminino

1- Lauryne Chappaz – França – 5m41s502 – vel. média 24.246 km/h

2- Sophie Gutohrle – Áustria +48s809

3- Leona Pierrini – França +53s812

Junior Masculino

1- Oisin O Callaghan – Irlanda – 4m02s142 – vel. média 34.195 km/h

2- Daniel Slack – Grã Bretanha +2m141

3- James Elliot – Grã Bretanha +10s705

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.