Com uma descida rápida e sem cometer erros, a francesa Myriam Nicole conquistou o seu segundo Campeonato Mundial de Downhill. No masculino mais um ‘velhinho’ deixou sua marca em Val di Sole, aos 39 anos o sul-africano Greg Minnaar conquista sua quarta camisa arco-íris
O quinto e último dia de disputas dos Campeonatos Mundiais de Mountain Bike de Val di Sole foi reservado para a mais extrema modalidade, o dowhnill. A pista utilizada para o Mundial é conhecida de todos os competidores, a veloz e extremamente técnica Black Snake com seus 2.100 metros de extensão, inclinação média de 23% e máxima de 40%, terreno ideal para por à prova os melhores pilotos do mundo.
Na disputa pelo pódio feminino do downhill, Valentina Holl, vigésima quarta a entrar na pista foi a primeira dos grandes nomes do mountain bike a descer a montanha. A austríaca jogou toda sua força e mostrou sua agressividdade fazendo as três intermediárias mais rápidas até momento, porém mais uma vez foi além dos limites, arriscou demais e ao cair se despediu de todas as possibilidades de pódio.
Pouco depois foi a vez da britânica Tahnée Seagrave, mas pairava uma grande dúvida em quanto à sua performance, pois na sexta-feira com dores no pescoço ela optou por não fazer a descida classificatória para a prova de Downhill e utilizar o recurso da ‘proteção’ dada aos mais bem ranqueados da temporada que o colocam diretamente na disputa da final, a britânica começou bem, mas perdeu ritmo ficando de fora do pódio.
Pista de Val di Sole é uma das mais desafiadoras
A seguinte a descer foi a italiana Eleanora Farina que tinha o apoio dos tiffosi que lotaram vários trechos do percurso para acompanhar a competição. Apesar de conhecer a pista, e ter feito um bom primeiro trecho, mas ainda na parte alta da pista cometeu um erro que a deixou 188 décimos atrás de Seagreve.
Marine Cabirou foi a antepenúltima a enfrentar a Black Snake, pista na qual ela conquistou sua primeira vitória em uma Copa do Mundo, em 2019. Mas a francesa arrancou mal, perdendo pouco mais de 1 segundo no primeiro trecho cronometrado, porém com sua habitual agressividade para enfrentar as descidas ela simplesmente pulverizou o tempo de Seagrave baixando em 5s455 e colocando a marca a ser superada em 4m11s070.
Vindo de uma queda durante os treinos da manhã de domingo, Camille Balanche entrou na pista para tentar revalidar seu título mundial conquistado no ano passado em Leogang. Com dores no tornozelo, ela não conseguiu impor um bom ritmo, e não conseguiu superar a marca de Marine Cabirou.
A decisão poderia estar entre as francesas Cabirou e Myriam Nicole, última a descer e que em 2011 venceu a etapa da Copa do Mundo, disputada nessa mesma pista. Nicole mais uma vez foi veloz e muito precisa, sem cometer erros completou o percurso em 4:06.243, superando a marca de sua compatriota em 4s827 e garantindo a primeira posição e o seu segundo ouro que se soma ao conquistado em 2019 em Mont-Sainte-Anne.
82 homens disputaram a final do Downhill
As descidas dos homens mostraram que a tensão estava alta e que as exigências do terreno induziam os pilotos a erros. Um dos prováveis candidatos a terminar entre os 10 melhores do Downhill , o francês Amaury Pierron ao errar um trecho de pedras destruiu o aro, o campeão mundial de 2020 Reece Welsen após o último salto furou o pneu de sua bicicleta. Outros foram além dos limites como estadunidense Dakotah Norton e o espanhol Angel Suarez que caíram.
O canadense Finn Illes abriu a lista de nomes de destaque a emplacar boas descidas, mas seu tempo logo foi superado por Danny Hart, vencedor do Mundial de 2016 disputado nessa mesma localidade; na sequencia encararam a pista Remi Thirion e David Trummer medalhas de prata e bronze no mundial do ano passado em Leogang, mas não conseguiram repetir o bom desempenho numa pista muito mais rápida do que o lamaçal que encontraram na edição anterior.
Com os possíveis candidatos ao pódio entrado na pista os tempos começaram a cair. O francês Benoit Coulanges pulverizou o cronometro nas intermediárias 3 e 4 e com 3m29s190 assumiu a primeira posição temporariamente e tendo que aguardar pela descida de 6 gigantes do downhill e todos candidatos a uma vaga no pódio: Troy Brosnann, Matt Walker, Greg Minnaar e os franceses Loïc Bruni, Loris Vergier e Thibaut Dapréla.
O australiano Brosnan chegou a meter medo, mas a falta de velocidade no segundo trecho da pista o deixaram a 214 décimos de segundo do líder. O britânico Walker não fez um tempo suficiente para incomodar a Coulanges e a Brosnann.
Com a entrada do sul-africano Minnaar a competição pegou fogo, apesar de um começo com tempos que não o colocavam na primeira ou segunda posição, foi a partir do terceiro trecho cronometrado quando atacou as rochas, as raízes e não poupou agressividade para passar pelas valas e voar no trecho final para marcar 3m28s963 – uma diferença de apenas 227décimos de segundo – levando a torcida ao delírio.
Faltavam as descidas dos franceses. Loïc Bruni foi inconsistente e foi quase 3 segundos mais lento, uma diferença que o eliminou da disputa. O líder da Copa do Mundo, Thibaut Daprela não se encontrou na pista, caiu perdendo qualquer possibilidade de disputar uma posição entre os melhores do dia.
Minnaar nunca tinha vencido em Val di Sole
Loris Vergier começou com duas boas intermediarias, mas faltou velocidade no trecho final para lutar pelo pódio terminando com o quarto tempo. O líder da Copa do Mundo, Thibaut Dapréla não se encontrou na pista, caiu duas vezes perdendo qualquer possibilidade de disputar uma posição entre os melhores do dia, o que serviu para levantar a torcida e fazer Minnaar vibrar muito com a conquista, aos 39 anos, do tetracampeonato Mundial de Downhill (Lugano’2003, Leogang-Saafelden’2012, Pietermaritzburg’2013, Val di Sole’2021) que se soma às três vitórias da Copa do Mundo – (2001, 2005 e 2008).
Val di Sole deu lugar aos pilotos com mais experiência, foi assim no XCO com Nino Schurter no sábado e no domingo, fechando a festa do Minnar e sua vitória obtida quase chegando aos 40 anos, seu aniversário será no próximo 13 de novembro. O sul-africano que já disputou 24 mundiais volta ao primeiro lugar do pódio 8 anos após seu último título e 18 da sua primeira conquista.
E ainda é preciso acrescentar que esta foi a primeira vez que Minnar venceu a Black Snake; a pista de Val di Sole era uma das poucas do mundo onde o sul-africano nunca havia vencido, em uma carreira de 25 anos, tendo disputado 144 provas da Copa do Mundo e um recordista com 22 vitórias em etapas da copa do mundo.
Antes de vestir a camisa arco-íris, o novo campeão mundial declarou: “Eu sabia que uma vitória era possível. Sabia que, dando tudo de mim, poderia construir uma grande corrida, mas até o final nunca se sabe se será o suficiente”.
O Brasil foi representando no Mundial por Roger Vieira que na 47ª posição entre os 82 que disputaram a final no domingo, e como o próprio piloto destacou em sua conta no Instagram, mostra uma evolução em seu desempenho.
CAMPEONATO MUNDIAL DE MOUNTAIN BIKE
VAL DI SOLE – pista Black Snake 2.100 km
Downhill Feminino – 32 pilotos de 14 países
1- Myriam Nicole – França – 4m06s243 – vel. média 30.701km/h
2- Marine Cabirou – França +4s827
3- Camille Balanche – Suíça +6s099
4- Monika Hrastnik – Eslovênia +9s085
5- Tahnee Seagrave – Grã Bretanha +9s781
Dowhnill Masculino – 82 pilotos de 24 países
1- Greg Minnaar – África do Sul – 3m28s963 – vel. média 36.179km/h
2- Benoit Coulanges – França +0s227
3- Troy Brosnan – Austrália +0s441
4- Loris Vergier – França +1s166
5- Danny Hart – Grã Bretanha +1s850
47- Roger Vieira – Brasil +17s804