A Abraciclo, entidade que representa a indústria brasileira da bicicleta instalada em Manaus, apresentou os resultados de produção do ano passado e as expectativas para 2025; mais um ano que lança desafios ao setor que se ajusta ao momento pensando num crescimento futuro
Os reflexos do estouro da bolha provocados pelo crescimento que o setor de bicicletas passou durante e após a pandemia, e que vem sendo sentidos nos últimos três anos, ainda continuarão repercutindo ao longo deste ano que começa.
Com estoques de bicicletas montadas ainda elevados e em um momento de processos de ajustes em fábricas e armazéns pelo mundo – o que provocou e ainda provoca uma guerra de preços em vários modelos; com grandes marcas internacionais passando por apertos (redução de pessoal, processos de falência ou recuperação, revisão com redução de linhas, cortes de patrocínios) e por aqui uma recessão mascarada, desvalorização do real, taxas de juros elevados e ainda muita bicicleta disponível, não há como fazer uma previsão de crescimento otimista – é hora de apertar os cintos – e na indústria isso também se traduz em dança das cadeiras com mudanças em postos estratégicos de algumas das grandes marcas do mercado.
Para a ABRACICLO – Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares – que representa 4 grandes marcas nacionais (Audax – Houston Bikes-Grupo Claudino; Caloi – Pon Bicycle Holding B.V.; Oggi Bikes; Sense – S2 Indústria da Bicicleta) instaladas no PIM (Polo Industrial de Manaus) o ano será mais uma vez de retração, com uma produção estimada em 320.000 unidades – ou 8,9% a menos em comparação com 2024.
Cautela e moderação são a tônica do setor – é bom destacar que isso não se restringe ao mercado nacional, é uma abordagem global da indústria da bicicleta. Por aqui a expectativa é para que as vendas neste primeiro trimestre de 2025 tragam algum sinal positivo para que esta estimativa seja alcançada pela indústria nacional
As projeções de produção foram apresentadas em coletiva de imprensa realizada esta terça-feira (14/01) em evento no Farol Santander em São Paulo.
A associação também trouxe dados com a totalização de bicicletas produzidas em 2024, onde 351.400 unidades saíram das 4 fábricas; o volume foi 23,1% inferior ao registrado em 2023 e um pouco abaixo da previsão inicial de 360.000 bicicletas.
Se por um lado vimos um decréscimo nas linhas de produção de modelos de bicicletas movidas a força muscular (mountain bikes, estradeiras, urbanas e infanto-juvenis), as bicicletas elétricas a pedalada assistida, as e-bikes, tiveram um crescimento na participação, com 19.147 bicicletas e um 5,5% do volume total, saindo dos 2,5% do volume total produzido em 2023, representando uma alta de 66,2%.
Ao todo as linhas de produção de Manaus – ligadas à Abraciclo – colocaram nas lojas e ruas 35 modelos de e-bikes, 10 opções a mais que em 2023.
O crescimento das e-bikes já havia acontecido em outros importantes mercados globais e por aqui se confirmou no ano passado – uma tendência que provavelmente seja mantida. E o setor, segundo aponta Fernando Rocha – vice-presidente do segmento de Bicicletas da Abraciclo, trará ao longo do ano novos lançamentos, mas já de antemão aponta que o ‘crescimento será de um platô, para ter mais um degrau (de crescimento) em 2026’.
Para desbancar a concorrência de muitas importadas (e não só), as fabricantes de e-bikes ‘Made in Manaus’ apostam em padrões de qualidade como a certificação ISO 9001, bicicletas testadas em laboratórios próprios e com certificação internacional, mas principalmente em oferecer garantia e uma infraestrutura de pós-venda e inclusive duas empresas oferecem seguro gratuito e outras duas parcerias com seguradoras que oferecem preços de apólices mais vantajosos.
O setor quando abordamos as e-bikes, aqui no Brasil ainda tem um outro desafio: disputar um consumidor (principalmente o de baixa renda e classe média baixa) que tem nas motocicletas e ciclomotores de baixa cilindrada (com preços acessíveis e ainda com as vantagens dos consórcios e financiamentos mais longos), um veículo que em tese o leva mais longe e rapidamente e ainda possibilita levar mais uma pessoa da família.
A associação está preocupada com o crescimento do mercado de bicicletas elétricas como um todo, e nisso a pauta está direcionada à regulamentação para garantir que haja um controle maior sobre o que entra no país – a preocupação é direcionada à segurança do usuário, e remete às notícias de e-bikes que superaquecem e se incendeiam como nos muitos casos relatados que aconteceram nos Estados Unidos ou como no último caso ocorrido no último mês de dezembro quando uma bateria de bicicleta sendo carregada, explodiu e provocou um incêndio em apartamento no Rio de Janeiro.
Indiretamente a regulamentação ou certificação seria um meio de inibir a importação feita por muitos aventureiros que veem na e-bike uma oportunidade de negócios, mas sem comprometimento com a qualidade do produto ou a segurança do usuário. Porém é sabido que nem sempre a certificação se traduz em elevado padrão de qualidade, um dilema que já foi visto com outros produtos.
Apoiada em incentivos fiscais mantidos com a reforma fiscal, as indústrias sediadas em Manaus também torcem para que após um ciclo de secas nos rios da região amazônica, que impactaram nos custos dos fretes e trouxeram complicações à logística, as mudanças climáticas não sejam mais uma vez obstáculo para o escoamento da produção.