Fugindo dos padrões de se tentar montar grandes estruturas e dentro da disponibilidade orçamentaria, a Memorial Team apresentou, em dois eventos (um junto a sua base na cidade de Santos e outro na capital paulista), sua equipe, sua proposta de trabalho para a temporada 2019 e seu principal objetivo que é o de buscar pontos para os Jogos Olímpicos
Seguindo a estrada já adotada a duas temporadas, o dirigente da Memorial, Cláudio Diegues, trabalha com o fortalecimento do ciclismo feminino aonde é a atual tricampeã do ranking nacional , a manutenção de uma equipe masculina na elite e com um trabalho de iniciação à modalidade com mais de 30 crianças e adolescentes. Isso sem perder a essência de manter a tradição de que a cidade de Santos teve de formar bons ciclistas. Inclua nessa equipe 4 pilotos de BMX, dois homes e duas mulheres e uma escolinha para formação de ciclistas com cerca de 40 crianças e adolescentes.
Na segunda-feira (11) a Memorial foi apresentada para os meios de comunicação da baixada Santista no Espaço Tremendão, e na terça-feira (12) na sede um dos apoiadores do projeto feminino,na capital paulista,
na Clínica Move que abriu seu espaço para receber formadores de opinião e meios de comunicação.
Em um país aonde a modalidade vive de altos e baixos, a Memorial é uma das equipes mais longevas do ciclismo brasileiro, são 20 temporadas (em 2007 foi a primeira equipe brasileira a obter registro junto à UCI), isso talvez seja resultado direto do posicionamento de seu diretor, Claudio Diegues que sabe se adequar a cada momento econômico do país, e também de firmar parcerias duradouras como a da prefeitura da cidade de Santos, e também a importância de ter ao seu lado o empresário Pepe Altstut, diretor da Memorial e do Grupo Altstut grande incentivador do esporte na baixada santista.
Apesar das limitações do calendário nacional, a equipe está de olho no mundo e na pontuação oferecida pela UCI nas provas internacionais femininas e no para-ciclismo. A equipe tem como grande trunfo no próximo ciclo paraolímpico, o retorno do campeão mundial de pista (na modalidade Scratch) de Lauro Chaman e o fortalecimento da equipe feminina que muito poderá contribuir para o crescimento da paraciclista Marcia Fanhani (6ª colocada no Mundial de Para-ciclismo) que disputa as provas para deficientes em Tandem (bicicletas de dois lugares) – daí a importância de companheiras fortes para poder conduzir a bicicleta e dar ritmo.
Para a temporada que começa, a equipe de ciclismo está reforçada por Cris Silva; a ex-ciclista da Funvic, se integra ao projeto da Memorial ; com mais de dez anos no pelotão e resultados importantes como bi-campeonato da Volta do Grande ABC e com participações destacadas em provas de pista aonde é campeã brasileira por pontos/14 e perseguição por equipes/18 e de mountain bike. Cris será mais um trunfo da equipe tanto para os sprints como também revezando com Camila Coelho ou Tainse Benatto no comando da tandem para Márcia Fanhani.
Quem também se soma à equipe, é a campeã argentina de estrada/2011, bicampeã de contra-relógio/2016-18 e segunda colocada na Vuelta a San Juan Femenina/18 , Estefánia Pilz; ciclista de 33 anos que correu as duas últimas temporadas pela equipe holandesa da Autoglass Wetteren.
A triatleta Victoria Remaili que na temporada passada terminou na 3ª posição no campeonato paulista de estrada e que em 2018 também disputou algumas provas vestindo a camisa da Memorial agora passa a integrar oficialmente a equipe.
A equipe feminina tem tudo para mostrar bom desempenho no exterior, além das recém chegadas, a Memorial conta com Ana Paula Polegatch – buscando a vaga olímpica, a sempre combativa Camila Coelho, a jovem Ana Paula Casetta , Thayná Araújo, Taise Benato e Marcela Sodré.
No masculino além de Lauro Chaman – que fará a dupla função de correr no para-ciclismo e na Elite, quem se integra ao grupo é o experiente contra-relogista Luis Carlos Amorin, de 41 anos que tem em seu currículo 5 títulos brasileiros de contra-relógio e que se junta a Joel Prado Jr., bicampeão da 9 de Julho que aspira disputas internacionais em provas de pista, e o velocista integrante da seleção brasileira de pista João Vitor da Silva.
No programa de competições a equipe tem previstas participações em provas na Europa e nas Américas – a ideia é ampliar o que foi feito em 2018, quando a equipe feminina passou 3 meses correndo provas na Europa, tomando por base a Bélgica, e nesse tempo disputando 19 provas, a maioria incluídas no calendário UCI. Para se entender a importância do estágio feito no ano passado, em 90 dias, as ciclistas disputaram mais corridas das que estavam programadas em todo o calendário nacional. Com a participação internacional em provas de estrada, a equipe irá em busca de pontos para a classificação de ciclistas brasileiras em Mundiais e nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
A grande novidade para as garotas, e isso ainda depende de alguns tramites burocráticos é que elas correrão como equipe integrante do UCI Women’s Wolrd Tour , o que certamente garantirá à Memorial alguns convites para disputar importantes provas do calendário feminino e quem sabe, não surja no caminho um convite para a mais importante prova feminina por etapas, o Giro Rosa – a Volta da Itália feminina.
No masculino há duas frentes para o Memorial Team: uma com Lauro Chaman que tem toda uma programação voltada ao para-ciclismo e isso inclui Copa do Mundo, Mundiais de Pista e Estrada e a outra aonde poderá se tentar um trabalho de pista com João Vitor na velocidade e com Joel Prado Jr na Madison (para ele ainda está o trabalho de conseguir um parceiro para a disputa da prova, mas estando na Europa é possível formar dupla com ciclistas de outros países e ainda assim pontuar em várias provas).
A direção da Memorial tem se mostrado criativa em buscar soluções para conseguir completar os orçamentos das equipes – sim porque a feminina foi separada da masculina e com isso é possível reduzir os custos para os patrocinadores .
Claudio Diegues soube entender que muitas empresas não tem potencial para dar suporte a 30 ciclistas, mas se essa conta é reduzida, o dinheiro (ou apoio com materiais ou serviços) pode ser mais fácil. Entre outras ideias e trabalhos que virão pela frente há ações de fidelização com a venda de uniformes e convites para treinos ou disputas de provas de longa distância para amadores junto com os destaques da equipe.
Os principais patrocinadores continuam sendo o Memorial Necrópole Ecumênica e a FUPES – Fundação Pró Esporte de Santos e o co-patrocínio da Universidade Santa Cecília (Unisanta) e o apoio da Clínica Ortocenter. No feminino os co-patrocinadores são o Espaço Laser Depilação, Mauro Ribeiro Sports que fornece os uniformes e o apoio da Bontrager fornecedora das sapatilhas e dos capacetes. No masculino os uniformes serão da Penks Vestuário, os capacetes da Kode.
Com essa divisão foi possível viabilizar as ações e a viagem para a Europa, porém as equipes ainda não tem um fornecedor oficial de bicicletas – atualmente apenas Victoria Remaili tem o apoio da Trek, os demais utilizam suas próprias bicicletas ou modelos remanescentes de acordos feitos pela Memorial com outros forncedores. Em conversa com Claudio Diegues soubemos que ele contatou algumas marcas e importadores, porém o momento econômico e os casos de doping na modalidade podem ter contribuído para distanciar possíveis fornecedores, as negociações continuam em aberto e a possibilidade de que surja um fornecedor para as bicicletas ainda é real.
A Memorial mostra que está trilhando um caminho para mudar a modalidade – e aí entram algumas parcerias como a da Clinica Move com a equipe médica formada por Fernanda Rodrigues Lima, Ana Lucia de Sá Pinto e Beatriz Perondi.. As garotas estão sob constante cuidado e instruções das doutoras , assim a ingestão de alimentos o uso de suplementos e, se necessária, a utilização de medicamentos tem de passar pelo crivo da equipe médica atendendo às exigências da ABCD e da AMA/WADA.
A equipe deve seguir viagem para a Bélgica já no final de março, a duração permanência na Europa ainda não está definida, e dependerá também da evolução e dos resultados obtidos, o que pode prolongar a estadia até setembro quando acontece o Mundial em Yorkshire, na Inglaterra. É certo que alguns ciclistas terão que fazer mais de uma viagem entre o Brasil e a Europa, pois em meio ao estágio no velho continente estão o Pan-Americano e o Para-Pan. Mas não serão as escalas nos aeroportos que vão tirar a determinação e a paixão pelo projeto que esses ciclistas mostraram durante as mais de duas horas de conversas durante a apresentação.
O medo dos Muurs belgas (subidas curtas e empinadas que arrebentam as pernas de muito ciclista experiente), a viagem com limitação de verbas (sim isso também acontece, lembre-se que para cada euro são necessários mais de 4 reais…), o confronto com equipes mais fortes no exterior , e para alguns a falta de competições e ritmo em velódromos não são mais que obstáculos que resultam do estágio em que se encontra o esporte no pais. Na Memorial, à sua maneira, estão trabalhando para superá-los e mudar uma realidade ou quiçá fazendo uma ponte para colocar os ciclistas brasileiros em um mundo aonde se respira ciclismo e se abrem oportunidades para aqueles que se destacam, e nesse grupo certamente há muitos bons talentos.