MARKETING ESPORTIVO: CICLISMO ESTÁ LONGE DO TOP’50 ENTRE OS MARQUETÁVEIS – POGACAR É O 144

Olhando a recente lista publicada pelo site britânico SportsPro Media em parceria com o Northstar Solution Group que aponta os 150 atletas mais comercializáveis – ‘marquetáveis’ – globalmente, os esportes com bicicleta só tem 1 representante, Tadej Pogacar, e está posicionado bem no final da lista em 144, alguns anos atrás tivemos ciclistas entre os 50+. O que faltou ao ciclista sensação da temporada para chegar ao topo desse ranking?

Tadej Pogacar vence a etape 19 – Embrun / Isola 2000 (144,6 km) – foto: A.S.O./Charly Lopez

O ranking dos 150 atletas mais comercializáveis (ou marquetáveis) de 2024 chega à sua 15ª edição e é feito considerando a natureza dinâmica da comercialização de atletas na era digital, aplicando uma ciência avançada que vai além de métricas de vaidade para medir quais estrelas do esporte oferecem mais valor às marcas hoje.

A lista com os 150+ é quase um guia dos grandes nomes que faz uma avaliação abrangente do potencial da comercialização de atletas na indústria esportiva. Para tanto, é feita uma extensa análise de dados, monitoramento de mídias sociais, avaliações econômicas, insights de especialistas e consumidores – uma série de variáveis para se chegar aos atletas de maior potencial de marketing em 2024.

Os destaques de 2024 tem no futebol e basquete a maior representação de atletas, bem como uma divisão meio a meio de atletas masculinos e femininos no entre os 10 mais bem ranqueados.

Entre os 50 melhores, 21 atletas competiram nas Olimpíadas de Paris 2024, são de 18 nacionalidades, 11 modalidades e 22 mulheres integram esse grupo seleto

50MM TEM 3 BRASILEIROS

Como era de se esperar a lista dos 50MaisMarquetáveis (50MM – most marketable) é dominada por futebolistas, ao todo são 15 jogadores; o basquete vem a seguir com 11, 8 são tenistas, 3 são ginastas e quem lidera a lista é a supercampeã Simone Biles e aí entra a brasileira Rebeca Andrade na 6ª posição.

No top 50, o Brasil tem Vini Jr que aparece pela primeira vez na lista ocupando o 2º lugar e Neymar , que apesar de tudo ainda tem muito potencial marketeiro,  aparecendo em 17º e figurando na lista pela 7ª vez entre os top10 . A  jovem skatista Rayssa Leal, entra na lista ampliada e aparece na posição 97.

E vamos ao fundo da lista para encontrar na 144 ª colocação o esloveno Tadej Pogacar com 16.58 pontos no ranking dos mais marquetáveis que leva em consideração três variáveis em percentuais:

A Força da Marca, que tem uma pontuação máxima de 35% , é determinada por fatores individuais, como autenticidade, risco e reputação, desempenho no esporte, apresentação, momento e propósito, missão e valores de cada atleta.

O Mercado Total Endereçável , com pontuação máxima de 35% , abrange fatores como alcance geral, crescimento da atenção, sentimento social, engajamento do público e conscientização do patrocinador, esporte e equipe.

O fator  Economia  tem pontuação máxima de 30% , incorpora o valor de mercado e o valor estimado de um atleta, seu apoio público a causas ambientais e até que ponto ele gera benefícios sociais e comunitários por meio de suas ações, influência e engajamento – algo muito ligado ao ESG.

NEM MTB OU BMX NESSA LISTA

Os esportes a pedal em suas especialidades estrada, pista, mountain bike XCO e DH, BMX Racing e Freestyle, Ciclocross tem seus ídolos, mas tirando o manto de apaixonados por bicicletas e adotando uma posição mais crítica e analítica,  o ciclismo em suas vertentes talvez  careça de ídolos comercializáveis aos grandes mercados  – e isso poucas vezes foi atingido  a nível global e com força,  apenas o estadunidense Lance Armstrong chegou a esse patamar, mas todos sabemos da sua derrocada motivada não só pelo doping (e não cabe aqui discutir todo o seu passado).  Estamos em um nicho com ídolos que pouquíssimas vezes conseguem sair da bolha e chegar com força a mercados globais.

Apesar de atuações épicas que induzem muitos fãs, e inclusivealguns jornalistas, a compará-lo com o mito Eddy Merckx; Tadej Pogacar com seus três Tours sendo que o último é uma dobradinha com o Giro deste ano – isso sem elencar as 6 vitórias de etapa no TdF e no Giro, o Mundial, a Liège-Bastogne-Liège, Il Lombardia, Strade Bianche, Volta à Catalunha, GP de Montreal, Giro dell’Emilia tudo em uma mesma temporada – o esloveno, principal nome da modalidade ainda está muito longe dos 50+.

Difícil entender o porquê de um desempenho e uma pontuação de comercialização tão baixa de Pogacar quando comparado a outros ciclistas que ao longo dos anos figuraram entre os 50 melhores desse ranking feito pela SportsPro Media –  O que falta ao ciclista de 26 anos para chegar ao topo do marketing ou à 50MM

Mark Cavendish figurou em duas edições da lista 50MM – foto: A.S.O/Yuzuru Sunada

O que Alberto Contador oferecia a mais em 2010 para ocupar a 47ª posição? Mark Cavendish tinha todo o apelo de ser britânico (aí um trunfo a favor do Míssil de Manx), a força de seus sprints e alguns patrocinadores pessoais que o levaram a ocupar a 22ª posição, porém ano seguinte caiu para a 42ª colocação e apesar de manter um bom desempenho e do ouro olímpico não se sustentou entre os 50+ do marketing em outras temporadas.

CICLISTAS MARQUETÁVEIS

Nessa mesma lista dos 50+ o ano de 2015 foi auspicioso para o ciclismo com Nairo Quintana em 25ª e a neerlandesa Marianne Voss em 27ª – e se compararmos Nairo com Pogacar seguindo as três variáveis – Força da Marca, Mercado e Economia – é difícil de acreditar o destaque de um e a posição do atual devorador das estradas.

Peter Sagan com seu estilo midiático ocupou por duas vezes essa lista, em 2016 ficou em 26º e Lizzie Deignan (Armitstead) em 46º, no ano seguinte ele caiu para 45º.

Tour de France 2019, chegada à Champs-Elysées, Peter Sagan e Egan Bernal – foto: A.S.O./Alex Brodway

Em 2019 a promessa colombiana, Egan Bernal chegou à 49ª posição e aí há de se perguntar: –  o colombiano em 49º e o esloveno em 144?  Talvez a lista não seja feita com toda essa isenção com a qual é apresentada, afinal Bernal defendia naquele momento a potência britânica Ineos (e coincidentemente o organizador da lista está sediado em Londres) e quanto a popularidade e simpatia e valor que agrega à marca (sem citar a combatividade que tanto atrai fãs, inclusive de outras modalidades) é difícil acreditar que o colombiano oferecesse mais que Pogacar.

Apesar de útil e de trazer informações importantes a lista 50MM, quando analisamos os ciclistas que nela foram incluídos ao longo de 15 edições e vemos a posição de Pogacar na última versão há algo que está desconexo, é verdade que ano após ano os critérios são atualizados as mídias digitais e a exposição mudaram drasticamente, mas quando se trata de grandes nomes do ciclismo e os interesses que eles arrastam parece que muita gente foi superestimada e outro subvalorizado.

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