Um mundial de downhill em Les Gets ficará para a história com pódio 100% francês na prova masculina. Um único país dominando o pódio só tinha acontecido no primeiro mundial em Durango 1990. Löic Bruni conquista o seu quinto mundial com uma descida perfeita e no feminino a jovem de 20 anos Valentina Höll se veste com a camisa arco-íris da Elite
O sábado é, em todo evento oficial a UCI, o dia reservado para as provas de descida de montanha, o Downhill e com isso costumam levar um grande público para a beira do circuito. Em Les Gets não foi diferente, principalmente porque os franceses estavam certos de que tanto no feminino como no masculino teriam algum de seus integrantes no pódio.
A descida em Les Gets tem 2.4 km, a largada se dá a 1.740 metros de altitude com uma vista fantástica do Mont Blanc, e um desnível negativo de 571 metros. Trata-se de um circuito rápido, com mais de metade feito em trechos de pastagens alpinas ou pistas de esqui, e um trecho de bosque muito técnico onde é preciso desviar de árvores e raízes sem cometer erros para manter a velocidade.
A prova feminina só entrou no clima de uma final quando as seis pilotos com os melhores tempos classificatórios entraram na pista, ou seja foi preciso aguardar a descida de 30 competidoras para que os tempos começassem a baixar dos 4 minutos.
A eslovena Monika Hrastnik desceu em 3m59s570. Logo depois desceu a italiana Eleonora Farina que não conseguiu fazer uma boa descida e acabou ficando a quase 10 segundos de Hratinik e a 4 segundos da britânica Stacey Fisher.
A alemã Nina Hoffmann entrou com determinação e naquele momento fez as intermediárias mais rápidas, fazendo a descida em 3m54s763 posicionando-se com o melhor tempo, mas não podia comemorar pois ainda faltavam descer Miryam Nicole, a jovem Valentina Höll e a campeã de 2021 Camille Balanche.
Nicole não conseguiu dar o seu melhor, mas foi pouco mais de 2 segundos mais veloz que Hrastnik. Logo depois foi a vez de Valentina Höll, a jovem austríaca campeã da Copa do Mundo no ano passado é famosa por seus altos e baixos e o azar em mundiais da elite (ela foi 2 vezes campeã mundial junior) – machucou-se me Leogang’2020 quando era a mais veloz nos treinos e no ano passado em Val di Sole ficou na 10ª posição em uma prova marcada por quedas; mas desta vez fez a descida perfeita, sem cometer erros marcou 3m53.857, superando a marca de Nina Hoffmann em 906 milesimos.
A última a descer foi Camille Balanche que duas semanas e quatro dias depois de cair e quebrar a clavícula em Mont St-Anne estava em busca de um pódio, mas uma largada ruim e algumas falhas em trechos mais técnicos a tiraram do pódio. Ao final da prova estava entre a felicidade de ter encontrado boas sensações competindo e sonhando ainda com a possibilidade de ganhar a copa do mundo no próximo final de semana em Val di sole e a tristeza de perder o bronze.
Miryam Nicole não falha em um pódio Mundial desde Val di Sole’2016 onde foi vice-campeã; no ano seguinte em Cairns’2017 repetiu o 2º lugar, em Lenzerheide’2018 foi 3ª; em Mont Sainte-Anne’2019 conquistou seu primeiro mundial; em Leogang’2020 mais um vice, no ano passado em Val di Sole’2021 o bicampeonato.
Neste ano correndo em casa e de longe com o melhor tempo na classificação (3m56s654) com 6 segundos de vantagem sobre a segunda colocada Nina Hoffmann não conseguiu repetir o mesmo desempenho na descida. Miryam garantiu a terceira posição, superando a suíça, Camille Balanche, campeã mundial em 2020 por 762 milésimos e assim mantendo-se no pódio por 7 edições consecutivas. “Lá em cima eu fui muito bem, não senti muita pressão. Cometi 2 ou 3 erros sobre a bicicleta . Essa qualificação com 6 segundos de vantagem acho que me incomodou um pouco. Na hora, fiquei desgostosa, foi difícil de aceitar. Estaria mentido ao dizer que estou feliz com este 3º lugar. Mas o dia foi bom para os franceses”, comentou a francesa ao final da prova.
Vibrando muito com o resultado, a jovem Vali Höll estava tentando assimilar o resultado: “Honestamente, não consigo acreditar. Vou perceber ao subir ao pódio e receber a camisa arco-íris e acho que nunca mais a tiraria. Foi um pouco complicado esta semana. Ontem caí e bati o cóccix no treino, ainda dói muito, mas de alguma forma funcionou. Tive problemas de confiança, não consegui ir tão rápido quanto queria e durante a minha corrida tive um clique e recuperei a confiança”.
A final masculina de DH – descida de montanha – é uma daquelas provas que certamente entrarão para a história da esporte, afinal não é sempre que três competidores de um mesmo país sobem ao pódio e nessa prova, isso só aconteceu uma vez, lá em 1990 na primeira edição do mundial onde os Estados Unidos dominaram o pódio com o lendário Greg Herbold, Mike Kloser e Paul Thomasbeg.
A história se repetiu em Les Gets com uma vitória 100% francesa diante da sua fervorosa torcida. Que os franceses estariam no pódio era certeza, pois o líder e o terceiro colocado da Copa do Mundo são locais, mas um domínio tão marcante foi surpreendente.
Para enfrentar a descida 82 pilotos que passaram pela classificação na quinta-feira, mas a elite, aqueles que estariam na luta pelo pódio estava limitada a um grupo de 15 pilotos. O melhor tempo na classificação foi do francês Benoit Coulanges com 3m26s.07 , depois estava Amaury Pierron a 240 milésimos e com o terceiro tempo o espanhol Angel Suarez a +1s776.
O sueco Oliver Zwar foi o primeiro a fazer uma descida na casa dos 3m24s, apenas 2 segundos mais rápido que o melhor tempo de classificação, mas era a melhor referência até então e só superada depois que outros 9 pilotos desceram, pelo australiano Troy Brosnan assumindo a liderança com 3m24s388 quando ainda faltavam mais 10 competidores para enfrentar a descida.
Foi Löic Bruni o responsável por levar a bicicleta ao limite quando ainda faltavam as descidas de Benoit Coulanges, Loris Vergies, Finn Iles e Amaury Pierron. Dono de quatro títulos mundiais, Bruni que havia fraturado a clavícula na etapa da Copa do Mundo de Fort Williams da Copa e depois disso teve desempenho irregular jogou toda sua experiência sobre a bicicleta para fazer uma descida limpa, perfeita para levantar a torcida ao registrar 3m20s478 um tempo quase 4 segundos melhor que o de Brosnan.
Coulanges não chegou nem perto de Bruni, ficou a 1 segundo de Brosnan, depois foi a vez de Loris Vergier que ficou a distantes +3.386. Finn Iles, vencedor da etapa de Mont Sainte-Anne, no início do mês e que se classificou com o 6º tempo, não largou. O último a descer seria Amaury Pierron que apesar de não ter feito uma boa largada conseguiu melhorar seu desempenho a partir da segunda intermediária, mas sempre aparecendo com o segundo tempo, atrás dos tempos registrados por Bruni, terminando a 2s581 e fechando a prova, com isso garantindo um pódio 100% francês o que levou a torcida a tomar toda a área da chegada e comemorar junto com seus campeões.
Se os franceses vibraram com o pódio, o torcedor brasileiro também tem motivos para ficar feliz, primeiro porque três pilotos passaram à final – os irmãos Roger e Douglas Vieira e Oeschler.
Roger que vem fazendo todas as etapas da Copa do Mundo, se classificou com o 29º tempo e na final, após ficar por muito tempo entre o top 10, terminou com o 21º tempo, a 8s926 do campeão mundial, melhor resultado pessoal em suas participações em provas da Copa do Mundo e Mundiais. Douglas que vem sofrendo com uma lesão e sentindo fortes dores de cabeça terminou em 65º e Lucas Oeschler ficou em 74º
Löic Bruni que estava empatado em número de conquistas com o sul-africano Greg Minnaar, com 4 títulos mundiais, chegou ao quinto título ( Vallnord’2015, Cairns’2017, Lenzerheide’2018, Mont Sainte-Anne’2019, Les Gets) mas ainda está 2 títulos atrás do maior vencedor de mundiais o também francês Nicolas Voillouz que dominou o dh no final da década de 1990 e início dos anos 2000, mas com apenas 28 anos ainda tem físico e condições para tentar igualar essa marca.
“Dada a minha temporada complicada, nunca pensei em ganhar o título hoje. Na 1ª intermediária quase fiquei; a 2ª intermediaria foi crucial porque tive que forçar bastante, senti que estava pilotando bem, e aí as pessoas na beira da pista me ajudaram a soltar os freios. Quando cruzei a linha vi que o tempo ainda estava sólido e fui passando por muitas emoções. Para cada francês que colocou as rodas nesta pista esta semana, foi um sonho e tenho a sorte de ser aquele para quem isso se tornou realidade. Hoje é o maior dos meus 5 títulos. E depois, 3 franceses no pódio, é histórico!”, comentou Löic Bruni em meio às comemorações.
Vice-campeão e líder da Copa do Mundo, Amaury Pierron falou sobre a prova: “Para vencer hoje você tinha que dar tudo de si e não é fácil fazer isso em todas as corridas. Eu não dei o suficiente para isso. Loïc é muito bom em fazer esse tipo de corrida em Mundiais. Loris também teve uma corrida magnífica. Estou muito orgulhoso de dividir o pódio com meus 2 amigos”.
CAMPEONATO MUNDIAL DE MTB DOWNHILL LES GETS
percurso/descida 2.400 km
Mulheres – final – 36 competidoras de 19 países
1- Valentina Höll – Áustria -3m53s857
2- Nina Hoffmann – Alemanha +0s906
3- Myriam Nicole – França +3s447
4- Camille Balanche – Suíça +4s205
5- Monika Hrastnik – Eslovênia +5s713
Homens – final – 82 competidores de 26 países
1- Löic Bruni – França – 3m20s478 – vel. média 43.097km/h
2- Amaury Pierron – França +2.581
3- Loris Vergier – França +3s386
4- Troy Brosnan –Austrália +3s910
5- Laurie Greenland – Grã Bretanha +4s051
21- Roger Vieira – Brasil +8s926
65- Douglas Vieira – Brasil +19s933 74- Lucas Oeschler – Brasil +23s936