Feira de negócios da bicicleta mais importante da América Norte, a Interbike, teve anunciado o cancelamento da edição de 2019. Seu futuro ainda é incerto, mas organizadores sinalizam que esse formato se esgotou…
A tradicional feira de negócios da bicicleta do continente americano, a Interbike, pode estar chegando ao fim; sua última edição aconteceu no último mês de setembro, em Reno, no Estado de Nevada. Com pouco público – tanto varejistas como expositores- e muitas criticas, pois a redução nos custos das viagens (passagens e hospedagem) para os visitantes não foram tão marcantes como os organizadores haviam anunciado quando da mudança de Las Vegas para Reno. O novo local serviu para dar um novo visual à Interbike, e colocou a área de teste no Northstar California Resort, em Tahoe, com locais muito mais atraentes com estradas e trilhas fantásticas para do Outdoor Demo, mas isso foi pouco para dar sobrevida ao evento que na edição passada foi renomeado como Interbike Marketweek .
Porém, os motivos que levaram ao cancelamento da edição de 2019, vão muito além dos custos para os visitantes e expositores, e também da opção de muitos empresários por eventos de atmosfera mais festiva como o Sea Otter Classic um festival mais aberto ao público e com vários eventos esportivos ou o North American Handmade Bicycle Show (dedicado aos artesãos e pequenos construtores de quadros, mas que tem atraído cada vez mais importantes empresas) onde eles podem se reunir com os consumidores, a mídia e alguns parceiros comerciais por um custo menor. Outra tendência que ficou clara é a opção por eventos menores e regionais como o CABDA, realizado em San Diego, na Califórnia em janeiro e no mês de fevereiro em Chicago. O evento poderá voltar em 2020, a Emerald Expositions não descarta a possibilidade da realização da feira com um formato mais modesto e de custos reduzidos, mas para isso muitas reuniões deverão acontecer com uma revisão total do formato.
A mudança do comportamento dos lojistas também contribuiu para o esvaziamento , segundo Darrel Denny, vice presidente executivo da Emerald Expositions, proprietária da Interbike, para ele um grande número de lojistas está trabalhando com uma única marca de bicicletas. “Atualmente, há cerca de 4.000 lojas de varejo, e aproximadamente metade delas está fazendo negócios predominantemente com uma marca dominante..” comentou, o executivo que apontou essa consolidação do relacionamento monomarca como um agravante para a feira.
O movimento das grandes marcas estadunidenses criando eventos próprios, começou na virada do século, e ganhou força nos últimos dez anos. Com essas ações exclusivas das grandes marcas, os lojistas não teriam motivação a visitação a uma feira para conhecer uma diversidade de produtos que não fazem parte do seu pacote oferecido pela grande marca que lhe oferece praticamente tudo – da bicicleta a roupas.
Outro ponto destacado para o esvaziamento é que muitos dos novos fornecedores não estariam utilizando os canais tradicionais de comercialização, via rede de distribuidores e atacadistas, com isso um evento voltado exclusivamente para os negócios torna-se menos atraente.
Um outro problema detectado pelos organizadores e que levou à decisão do cancelamento da edição de 2019 tem relação direta com o aumento dos impostos, decretado pelo governo Trump, sobre os produtos importados da China. ” O aumento substancial nas tarifas sobre as importações relacionadas a bicicletas durante 2018, e anunciado para 2019, está aumentando esses desafios”, somando-se a esse cenário futuro, o quadro já vinha se agravando com a grande retração, nos últimos quatro anos que foram muito duros para a o setor, também nos Estados Unidos.
O cancelamento, trouxe também uma série de demissões do pessoal envolvido na organização, entre eles o diretor da Feira, Justin Gottlieb, o diretor de vendas Andria Klinger, o gerente de marketing Jack Morrissey e o diretor sênior de arte, Andy Buckner.
Além da redução de pessoal, o cancelamento da Interbike repercute também em três organizações sem fins lucrativos – PeopleforBike, Bicycle Product Suppliers Association (Associação de Fornecedores de Produtos para Bicicletas ) e a National Bicycle Dealers Association (Associação Nacional de Concessionários de Bicicletas) que recebiam contribuições/doações da organizadora da feira e que não contarão com essa verba já no próximo ano.
Para os operadores brasileiros a Interbike já havia deixado de ser interessante há quase duas décadas, quando praticamente todos os grandes fabricantes começaram a antecipar seus lançamentos e se voltaram para a Ásia, ao mesmo tempo no velho continente, a Eurobike ganhava supremacia esvaziando a outrora tradicional Feira de Milão – EICMA que se voltou quase que exclusivamente ao mundo das motos.
Quando o mercado dos importados se abria no Brasil, no início dos anos 1990, o setor das bicicletas também foi impactado e com isso também tivemos um grande movimento de empresários em busca de novidades e para muitos, naquele momento, a referência foi a Interbike , uma feira aonde as grandes marcas norte-americanas (e algumas outras europeias) lançavam suas novidades e aonde o mountain bike mostrava sua força.
Os corredores da Interbike foram, para muitos empresários brasileiros, a porta de entrada para o mercado das bicicletas. Lá se costuraram negócios que trouxeram ao país as grandes marcas do mercado yankee e serviram para apresentar tendencias e novidades que também provocaram mudanças em nosso meio.
Talvez o cancelamento ou o fim desta tradicional feira de negócios possa servir como exemplo para os operadores brasileiros. Muitos dos problemas enfrentados lá no norte da América, também são realidade por estes lados do mundo: custos elevados, novas formas de comercialização e necessidade de se atingir o consumidor de maneira direta. No calendário do próximo ano, a Shimano já reservou sua data de 22 a 25 de agosto para o seu festival que chega à décima edição – o ShimanoFest se confirma como um grande evento muito aberto e voltado ao consumidor e ao público em geral; por enquanto a Nürnberg Messe Brasil, dona da Bike Brasil ainda não divulgou a data do seu evento que ainda busca um posicionamento no mercado. Em conversas de bastidores, com pessoas que atuam h no setor há anos quem se pergunte: O mercado brasileiro tem mesmo fôlego para dois grandes eventos? O espaço até existe, mas tudo é uma questão de datas e custos, e isso os estadunidenses já estão nos mostrando.