Em uma corrida em busca de quem leva a melhor ou maior fatia do mercado, a Uber comprou por 100 milhões de dólares, na segunda-feira (9/4), a empresa de compartilhamento de bicicletas elétricas Jump. Um movimento que poderá acelerar ainda mais a implantação de bicicletas sem estação, e se não houver um controle, os Estados Unidos poderão viver a mesma bolha enfrentada por operadores e investidores chineses
Uma louca corrida pelo domínio do mercado do compartilhamento de bicicletas está espalhando-se pelo mundo, e apesar dos muitos problemas apresentados pelo sistema dockless, sem estações, é este que vem provocando furor no mercado com novas aquisições e investimento milionários. A última tacada foi dada pela Uber, nesta segunda-feira (9/4), ao adquirir a Jump – uma startup de compartilhamento de bicicletas. A empresa foi lançada neste formado com o nome Jump há quatro anos e foi a primeira a oferecer o serviço de aluguel de e-bikes, começando suas operações em San Francisco e Washington. Atualmente a Jump tem uma frota de 15.000 bicicletas habilitas via app e com o uso de GPS em 40 cidades de 6 países, tendo registradas mais de 5 milhões de viagens.
As informações dão conta de que a oferta da Uber foi de US$ 100 milhões de dólares. E apesar da tensão e da possibilidade de se abrir uma nova rodada de negociações, o acordo foi fechado dentro do valor ofertado pela gigante dos aplicativos de mobilidade.
Em um uma postagem em seu blog, o CEO da Uber, Dara Khosrowshahi escreveu que a aquisição ajudará em sua missão de “reunir vários modais de transporte dentro do aplicativo Uber – para que você possa escolher o caminho mais rápido ou mais acessível para chegar aonde você quer, seja em um Uber, em uma bicicleta, no metrô, ou mais que isso”. Com uma declaração como essa pessoas ligadas a movimentos que discutem o urbanismo nas grandes cidades já lançaram a pergunta: Depois de uma declaração como essa, a Uber está pensando em comprar a MTA, responsável pelo metrô de Nova York? Com a injeção de capital a Jump poderá ganhar mais espaço e ainda será uma ferramenta a mais do Uber em sua proposta de se expandir para novos meios de transporte.
Em declarações o manda mais da Uber, Khosrowshahi chamou o CEO da Jump, Ryan Rzepecki, de “um empreendedor impressionante que passou a maior parte de uma década dando vida à bicicleta em todo o mundo”. Por sua vez, Rzepecki disse que inicialmente estava preocupado com da oferta da Uber, dados os numerosos escândalos que atormentaram a empresa no ano passado, assim ele descreve a negociação: “Quando começamos a conversar com a Uber, eles estavam passando por um momento extremamente difícil, com manchetes negativas a cada semana e uma mudança grande no comando. Esperávamos encontrar um ambiente de trabalho tóxico e uma cultura quebrada. Em vez disso, todos que conhecemos eram inteligentes, apaixonados e genuinamente queriam ajudar nossa equipe a ter sucesso. Por meio de nossa colaboração, percebemos que compartilhamos a visão de mobilidade multimodal da Uber e tínhamos o mesmo objetivo de diminuir a propriedade de carros. Ainda mais importante, poderíamos ver a mudança na empresa uma vez que Dara foi nomeada CEO, quando ele começou a liderar com humildade e de uma forma que nos sentimos refletidos nossos valores. Logo ficou claro que, com sinergias tão fortes e alinhamento na missão, a Jump poderia realizar melhor suas metas se fosse parte da Uber”
A Jump começou suas atividades em 2010 sob o nome de Social Bicycles tendo por objetivo desenvolver bicicletas bem construídas, potentes e que poderiam ser desbloqueadas em qualquer estacionamento de bicicletas. As bicicletas do Jump têm travas em barra “U” embutidas que permitem que elas sejam estacionadas em bicicletários existentes ou na “zona de móveis da calçada”, ou seja em postes, bancos de rua. No início deste ano, a empresa obteve, em exclusividade uma permissão da Autoridade Municipal de Transportes de San Francisco (SFMTA) para lançar, com 250 e-bikes, seu serviço na mesma cidade da Uber. Como o conceito dockless – sem estações – é ainda recente nos Estados Unidos, a SFMTA usará um período de 18 meses para avaliar o funcionamento do sistema, antes de fechar um contrato de longo prazo.
Poucas semanas após a entrada em atividade da Jump, em San Francisco, a Uber , a Uber anunciou um programa piloto para integrar a startup de compartilhamento de bicicletas ao seu aplicativo. Os usuários da Uber que estivessem interessados em usar duas rodas em vez de quatro poderiam usar a opção “bicicleta” no aplicativo e este indicaria as bicicletas disponíveis nas proximidades e imediatamente se faz a reserva. Ao chegar ao seu destino, o usuário precisa deixar a bicicleta em um estacionamento ou rack público na “zona de bicicleta” indicada no mapa do aplicativo. Entre as cidades que estudam a implantação de novos projetos está Nova York, que tem um plano piloto a ser lançado no meio do ano com 12 empresas na corrida, entre elas a Jump.
O boom pelo compartilhamento de bicicletas sem estação definitivamente desembarcou na América e poderá golpear os serviços que atendem de forma tradicional com estações e locais predeterminados para retirada e devolução, porém o exemplo a bolha chinesa e da sua desregulamentação caótica que se espalhou por alguns países da Europa ou mesmo em cidades como Washigton ou Dallas aonde se encontravam bicicletas amontoadas, jogadas em rios e lagos e que gerou sua proibição, muito provavelmente terá de se enquadrar dentro de padrões de boa convivência e da garantia ao acesso a todos ao espaço publico.
A questão é se a aquisição da Uber vai trazer mais atenção a essa indústria nascente? Uma empresa de bicicletas compartilhada de propriedade do Uber dará legitimidade a um negócio em crescimento exponencial ou trará mais ceticismo? E o mais importante e tem a ver com o consumidor e suas atitudes: sua avaliação pelo Uber será negativa se você deixar sua bicicleta em um arbusto?
A exemplo do que aconteceu, e ainda acontece no mercado chinês, autoridades dos Estados Unidos estão se preparando para uma invasão, com startups de bicicletas compartilhando dezenas de milhões de dólares em capitais de risco para cobrir a maioria das grandes cidades nos próximos meses. A jogada da Uber aumentará ainda mais a temperatura desse modelo de negócio.
A Uber busca expansão (como todos os outros sistemas aonde a marca está intimamente ligada a outros serviços oferecidos via app) e a Jump é um movimento que não deixa duvidas de que, ter no aplicativo do Uber, uma bicicleta aumenta ainda mais a possibilidade de que no futuro outros modais, como metro e ônibus possam ser integrados no aplicativo de serviços de deslocamento. E a pista já foi dada pelo CEO da Uber Khosrowshahi, que em fevereiro último, durante uma audiência ao seleto público de Wall Street declarou: “Quero administrar os sistemas de ônibus de alguma cidade”.
Nos Estados Unidos, a opção por comparar preços e tomar decisões sobre qual o modal a ser usado é uma realidade, com muitos aplicativos oferecendo o serviço, em algumas cidades dos Estados Unidos já é claro que há uma corrida entre as empresas para serem as primeiras a oferecer o serviço multimodal e não apenas deslocamentos por bicicletas.
Fontes: The Verge e agências internacionais