Em 2014 Campbell Flakemore havia conquistado o título mundial sub23 de contra-relógio individual e tinha garantido um contrato para correr por dois anos no pelotão World Tour defendendo a BMC. Ao final da temporada 2015 o jovem ciclista desiludido com o esporte abandona a carreira
No início do ano foi apresentado ao mundo por Cadel Evans como o seu herdeiro nas estradas, como o mais novo australiano a ser capaz de se destacar nas grandes voltas, o jovem ex-campeão mundial de contra-relógio individual Campbell Flakemore comunicou nesta terça-feira (11/11) que esta abandonando a equipe BMC e o ciclismo, a revelação foi feita em entrevista à jornalista Sophie Smith, do site Cyclingtips e depois repercutiu em sites e jornais.
A decisão ao que parece não foi tomada de maneira impulsiva, o ciclista já se questionava ao assinar o contrato que teria a duração de dois anos com a BMC após o seu título mundial em Ponferrada, e segundo suas declarações foram mais ou menos 18 meses para maturar a ideia. Apesar de ter alguma experiência como ciclista após ter corrido por três temporadas na equipe continental australiana Avanti Racing, a pressão do profissionalismo pegou o jovem de surpresa desde o primeiro dia.
“O World Tour não é o brilho e o glamour que se vê na tevê, exige sacrifícios enormes, aí eu me perguntei: -Você está disposto a fazer tudo isso e muito mais para ser um campeão? Eu me encontrei sozinho na Europa, apesar de ter o Nathan e o Caleb Ewan que moravam por perto, mais de uma vez me senti sozinho e me dei conta que não quero esta vida, me perguntei se aguentaria fazer isso pelos próximos dez anos. E eu disse não!” declarou o ciclista.
A decisão já havia sido comunicada ao diretor técnico da equipe, Allan Peiper, no mês de agosto, porém o ciclista só tornou pública a informação após o seu retorno à sua casa na Tasmânia; antes de levar adiante o fim da sua carreira Flakemore consultou seus pais e seu ex-treinador Andrew Christie-Johnston.
Não são todos os ciclistas que estão preparados para encarar uma vida de longas viagens, muito tempo fora de casa e principalmente a grande pressão sobre os atletas quando se tornam profissionais. Acontece muito com outros esportistas, quantos casos parecidos são conhecidos em um esporte muito mais popular como o futebol?
“As pessoas que não estão no ciclismo não tem nenhuma ideia da quantidade de trabalho e o sacrifício necessários para chegar ao nível para ser um vencedor de um Grand Tour. Eu realmente não me vejo sendo capaz de fazer isso e fazer todos aqueles sacrifícios para ser um ciclista de ponta “ declarou Flakemore.
O australiano pedalou quase 5 mil quilômetros nos 37 dias de competições que disputou como profissional da BMC durante 2015. Começou a temporada com muito azar ao cair na segunda etapa do Tour Down Under e fraturar a clavícula. Em março soube que não disputaria o Giro d’Italia e seu técnico Peiper dava declarações sobre o trabalho de adaptação que estava sendo feito com o ciclista: “ Ele vai aprender a estar nesse meio ambiente, como ser um pro – indo para as corridas, trabalhar para a equipe, ir para a frente do pelotão quando for necessário e também mantendo o foco na sua qualidade principal de ser um grande contra-relogista.”. Depois correu o Tour da Normandia e o Tour da California. Em agosto entre o abandono na quarta etapa da Artic Raceway na Noruega e a Vattenfall Cyclassics comunicou a equipe o seu momento e a sua decisão.
Sobre as reações da equipe, o Flakemore declarou: “Eles (BMC) ficaram um pouco desapontados porque me deram esta grande oportunidade e eu a devolvi”, disse o ex-ciclista. “Mas eu acho que se você não está feliz fazendo algo então você está desperdiçando seu tempo, e eu acho que eles entenderam isso”. Ao ser questionado se a decisão tinha alguma motivação com os planos da BMC para 2016, após a contratação de seu compatriota Richie Porte para assumir a posição de líder da equipe e de uma formação com maior número de escaladores, Flakemore deixou claro que não havia relação com o formato da equipe.
O australiano não conseguiu viver o sonho de correr na Europa, com seu abandono surpreendeu todo o meio, porém como ele mesmo deixou claro, talvez tenha sido bom sair agora, antes que fosse tarde demais para tentar outra carreira ou quiçá ao continuar pedalando como profissional ser vitimado por uma doença que age em silêncio no meio desportivo: a depressão.