FALTA DE SUPRIMENTOS PODE COLOCAR SETOR DE BICICLETAS EM XEQUE

Produção de bicicletas das indústrias instaladas em Manaus cresce 30,6% em relação ao mês anterior, os números ainda não repetem o volume de 2019, porém a falta de suprimentos provocada pela paralisação da produção dos fornecedores durante o lockdown, depois pela explosão da demanda no mundo todo pode ser um problema para a indústria nos próximos meses. Lojistas já apontam falta de alguns modelos

Vendas de bicicletas estão em alta no mundo todo

Em todo o mundo a procura por bicicletas explodiu, em vários países da Europa o consumidor que quer comprar a sua bicicleta só encontrará alguns modelos de certas marcas para entrega,  na melhor das hipóteses para dezembro, mas já se fala de entregas para janeiro e fevereiro de 2021.

O fechamento das fábricas na Ásia em janeiro e fevereiro, ‘desencaixou’ a produção e provocou atrasos nas entregas de bicicletas ( e não só) em todo o mundo, por outro lado o aumento de pedidos globais colocou muitos fabricantes de quadros, peças e componentes em situação delicada pois é muito difícil ampliar a capacidade de produção em um curto espaço de tempo. A equação não é simples e para os gestores é preciso entender como será a demanda futura e por quanto tempo se mantém essa pujança nas vendas, principalmente em temos de economia debilitada em todo o mundo.

Muitas marcas mantiveram sua programação de pedidos, porém há um desiquilíbrio geral entre oferta e procura. No mercado brasileiro comenta-se no meio que alguns modelos na faixa de R$ 1,5 mil e 3 mil reais tem estoque reduzido ou se esgotaram e os lojistas esperam pela chegada do produto das fábricas.  O resultado das vendas reflete a informação divulgada por uma das entidades do setor – a Aliança Bike – que constatou junto a lojistas associados que a alta das vendas entre 15 de junho e 15 de julho deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado, foi de 118%.

Nem todos os modelos de bicicletas estão disponíveis, em todo o mundo lojistas apontam o desabastecimento

Há relatos de que nos Estados Unidos várias bicicletas ou bike shops tinham dificuldades de manter bons volumes de estoque de peças e acessórios para atender o público que queria reparar ou reformar sua bicicleta; as dificuldades estavam até mesmo comprar um novo capacete. Por aqui, há lojas que vem evaporar os produtos que chegam para comercialização de um dia para o outro, um lote de 20 cadeirinhas infantis não durou mais do que 2 dias em uma bikeshop do Rio de Janeiro.  Grandes montadores estão à caça de câmaras de ar, correntes e também câmbios e passadores de  marcas alternativas para poder atender os pedidos de bicicletas. Nunca o setor passou por uma alta nas vendas em tão pouco tempo; há lojistas que garantem que até as vendas de bicicletas infantis estão melhores que no Natal.

O boom provocado pela pandemia teve um lado positivo  que foi o de manter o setor em atividade e com bom faturamento quando comparado à maioria das demais atividades econômicas no mundo todo durante a pandemia.

Linhas de montagem retomaram a produção

Nos Estados Unidos essa grande procura por bicicletas, por exemplo, também reacendeu o mercado de reformas e de vendas de bicicletas usadas, para alguns lojistas por lá, foi um meio de atender de forma imediata a consumidores que não queriam esperar por uma bicicleta nova. Por lá, há lojas especializadas em bicicletas de segunda mão que no mês de julho tiveram um aumento de 288% nas vendas ao ser comparado o mesmo período do ano passado para modelos mais caros e de nível intermediário. A venda de usadas de modelos mais econômicos ou populares tem a seu favor o apelo ecológico da reciclagem, evitando que essas bicicletas fossem em muitos casos descartadas no lixo.

Aqui no Brasil, o Polo Industrial de Manaus que reúne 4 grandes fabricantes (Caloi / Oggi /Audax / Sense) representadas pela ABRACICLO – Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares – o setor   vem recuperando aos poucos o volume de produção. No mês de julho a alta da produção foi de 30,6% na comparação com junho (61.283 contra 49.913) porém ainda com uma queda de 28% em relação às 85.131 unidades produzidas em julho do ano passado.

A paralização das fábricas devido à  pandemia da Covid-19  se fez sentir nos números da produção em Manaus com uma queda no volume produzido de 34,8% quando comparados os períodos de  janeiro a julho deste ano com 310.377 unidades  com as 476.319 unidades do ano passado.

Os mesmos problemas enfrentados por marcas mundiais nos EUA e Europa foram sentidos por aqui. Quem aponta isso é Cyro Gazola, vice-presidente do Segmento de Bicicletas da Abraciclo, que relaciona a redução da produção local às dificuldades enfrentadas pelas fabricantes para serem suficientemente abastecidas pelos fornecedores globais.

Segundo Gazola, de janeiro a julho deste ano, as vendas de bicicletas a nível global tiveram um crescimento de 40%, em relação ao mesmo período de 2019 e tudo isso motivado pelo fato de a bicicleta ter se tornado o meio de locomoção mais seguro e uma forma de manter a atividade física com certo distanciamento social. Alta demanda, somada às paralisações ou atrasos provocadas pela pandemia repercutiram também na dificuldade de montagem e na falta de alguns modelos.

“Isso foi resultado do grande descompasso entre a oferta de peças dos maiores fornecedores, que estão localizados principalmente na Ásia, e o aumento da procura por bicicletas no mundo inteiro. Muitos fornecedores de componentes estão trabalhando entre 120% a 130% da sua capacidade, mas, mesmo assim, não conseguem dar conta da demanda da indústria”, esclarece Gazola.

O vice-presidente da Abraciclo destaca que, assim como os fornecedores internacionais, as empresas instaladas em Manaus também estão se adaptando para atender à demanda. “Ainda enfrentaremos falhas de abastecimento pelos próximos seis meses. A partir de 2021, deveremos ter uma normalização gradual, mas isso ainda irá depender dos patamares de demanda, pois o ajuste da capacidade de produção não é feito em poucos meses. Nesse contexto, as empresas associadas da Abraciclo estão concentrando esforços para suprir o mercado o mais rápido possível”.

Em todo esse movimento é importante destacar que além da alta demanda por bicicletas, a indústria também está passando por forte pressão com a alta internacional no preços das commodities – entenda-se alumínio e aço – fundamentais na produção de componentes para bicicletas e como consequência isso já repercute nos preços dos produtos. Outro impacto nos preços vem da pressão do mercado e da falta de produtos. O desequilíbrio nos estoques de algumas mercadorias, em alguns casos, provocou a alta de preços para determinados itens – lei de oferta e procura que desde sempre rege o mercado.

2 comentário em FALTA DE SUPRIMENTOS PODE COLOCAR SETOR DE BICICLETAS EM XEQUE

  1. Precisando fortalecer as indústrias nacional, abaixar os impostos e mordeniza as indústrias com tecnologia de ponta.

  2. Marco Schadt disse:

    No Brasil, quem estrangula a produção de bicicletas é o governo, com normas confusas e uma carga tributária absurda que desanimam qualquer empresário. Agora, que a importação de peças ou até de bikes completas ficou cara e/ou difícil, ressurge a ideia de se incentivar a produção local… rs. Como se produção industrial fosse algo simples, rápido e fácil de se implantar! Muitas empresas quebraram nos últimos anos e, com o atual cenário, não serão reabertas. Afinal, quem vai arriscar, num país tão avesso ao capitalismo?

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