Por todo o mundo empresários do setor da bicicleta estão tentando entender o momento que estamos atravessando com vendas em alta e fazendo previsões de como será o futuro próximo do setor. No Reino Unido uma empresa de análise de mercado estima que 1,3 milhão de consumidores compraram uma bicicleta durante o período de lockdown
Os analistas da GlobalData, uma das empresas de maior destaque mundial em análise de dados e pesquisas, apontam que aproximadamente 5% dos consumidores do Reino Unido compraram uma bicicleta desde o início da crise do coronavírus. Os motivos são vários, desde as boas condições climáticas com a chegada da primavera no hemisfério norte, ao desejo de se exercitar ao ar livre e aos inventivos e conselhos do governo para que se evitasse o transporte público.
Outro bom motivo que levou consumidores às grandes redes varejistas, a bikeshops e bicicletarias foi que estes se deram conta que sair para pedalar com membros da mesma família que habitam juntos era uma das maneiras permitidas para sair de casa. Apenas um distribuidor de bicicletas registrou, segundo o Cycling Industry News, a saída de seu armazém 30 mil bicicletas extras no auge da epidemia.
Ainda segundo o estudo, grandes redes varejistas tradicionais e com grande poder de negociação junto a seus fornecedores se beneficiaram com o aumento da demanda. A gigantesca rede Halfords foi a opção de 21,7% dos consumidores entrevistados, já a especializada em bicicletas Evans Cycles foi a opção de 15,4% do publico. A Evans sentiu a pressão dos pedidos o que provocou alguns atrasos nas entregas e algumas reclamações de clientes.
Segundo a analista líder da GlobalData, Sofie Willmott: “Como grande parte do Reino Unido trabalha em casa – com 51 % da população ativa no início de junho – os consumidores economizaram em custos de viagem e muitos encontram-se com mais tempo para se exercitar e sem academia aberta para visitar, tornando uma nova bicicleta uma opção atraente. A maioria dos consumidores que compraram uma bicicleta nos últimos meses já estava pensando em comprar uma de qualquer maneira, com a crise pressionando-os a fazer uma compra, ajudados pelas lojas de ciclismo que permanecem abertas durante todo o período de bloqueio”.
Willmott complementa: “Embora o mercado de bicicletas veja um aumento na demanda este ano impulsionado pelo lockdown, há mais oportunidades para os varejistas se beneficiarem no futuro, já que os atuais proprietários de bicicletas podem optar por uma atualização ou reforma agora que reavivaram seu interesse pelo ciclismo. Além disso, com 72,4% dos trabalhadores domésticos atuais esperando fazê-lo com mais frequência após a crise, haverá mudanças acentuadas nos hábitos de deslocamento pré-COVID, com limitações ao transporte público o que provavelmente será desagradável e muitos consumidores se voltarão para as bicicletas para algumas viagens”.
Os dados apresentados pela GlobalData se cruzam com os estudos apresentados por outra empresa de pesquisas e dados, a Mintel que aponta que só no Reino Unido o mercado de bicicletas movimentará em 2023 mais de 1 bilhão de libras (R$ 6,59 Bilhões). Porém, não sem antes de passarmos por alguma contração de mercado, pois a recessão deverá reduzir os gatos do consumidor, impactando também no setor.
Ainda segundo os dados da Mintel, o mercado do Reino Unido deverá atravessar momentos de altos e baixos, “A crise do COVID-19 e seu impacto econômico deram início a um período de volatilidade sem precedentes no mercado do ciclismo. A crise impulsionou a demanda no prazo imediato, mas as vendas de bicicletas provavelmente cairão no final de 2020, com a antecipação da recessão profunda. As repercussões prováveis do COVID-19 na participação no ciclismo são complexas. O lockdown do Reino Unido está atrapalhando os padrões de comportamento, o que inicialmente resultou em níveis mais baixos de deslocamentos diários ao trabalho (ou deslocamentos pendulares) em geral, mas teve um impulso ao lazer de fim de semana”. Aqui no Brasil esse questionamento paira na cabeça de muitos.
Não há uma previsão certa, há quem diga que por exemplo assim que as restrições diminuírem, é provável que os britânicos retomem à utilização massiva dos transportes públicos e também lotem as ruas. Por lá, o sinal positivo foi dado no incio do ano quando uma pesquisa apontou que um terço dos adultos que atualmente não pedalavam declarou que consideraria fazê-lo no futuro, sugerindo que há um enorme potencial desenvolver o mercado das bicicletas naquela região.
O estudo da Mintell aponta que após o impacto do período recessivo que está por vir, o potencial de mercado para as bicicletas, a longo prazo, é forte. E com a bicicleta sendo colocada de maneira única para se beneficiar das crescentes tendências de saúde, bem-estar e meio ambiente – que podem ser impulsionadas pela crise do COVID-19 – somada a uma revolução mais ampla da mobilidade urbana que inclui bicicletas elétricas, ciclovias e políticas públicas de incentivo. Acrescente a isso a informação de que, por lá, um terço dos adultos que atualmente não pedalam disse que consideraria fazê-lo no futuro. O público feminino é outro que sinaliza de forma positiva para o uso da bicicleta, 59% das mulheres se declaram potenciais usuárias da bicicleta. Tudo indica que, se bem trabalhado pelo setor, há um enorme potencial de crescimento.
Hipoteticamente podemos dizer que no Brasil estamos quase no mesmo barco que os britânicos. Ainda sem dados oficiais, mas levando em conta relatos de importadores, montadores, distribuidores, lojistas e mecânicos, a Covid-19 deu um empurrãozinho no setor que manteve-se ativo. Primeiro com a venda de rolos de treinamento que praticamente tiveram estoques zerados, depois com bicicletas e acessórios que tiveram um crescimento significativo no volume de vendas.
O interesse das pessoas é grande pela bicicleta, porém aqui no Brasil falta ainda o empenho das autoridades para motivar o seu uso e criar soluções para que os usuários tenham mais segurança e invistam em uma bicicleta. Por acaso alguém viu uma campanha oficial sugerindo o uso da bicicleta em seus deslocamentos durante a pandemia? Aí começam nossas diferenças