O desafiador percurso de Crans-Montana não impediu mais uma exibição de força de Tom Pidcock, que após uma prova épica no circuito curto, voltou a dominar e mostrou-se muito acima dos seus rivais. Loana Lecomte tampouco se intimidou com a dura subida ou com trechos enlameados, desbancou a favorita Puck Pieterse, e mostrou que está de volta ao seu melhor estilo
Tom Pidcock sai de seu rápido retorno à Copa do Mundo para disputar a 5ª etapa em Crans-Montana antes de ir para as estradas do Tour de France melhor do que qualquer o previsto: com a vitória no XCC e com um desempenho quase perfeito no XCO – fechando um final de semana perfeito que o colocam como favorito ao ouro em Paris. O atual campeão mundial, após a prova épica do dia anterior, mais uma vez tomou o comando da corrida, assumiu a ponta na segunda volta e foi sozinho até o final.
A prova feminina marcou o retorno ao seu melhor estilo da francesa Loana Lecomte. Após um final de temporada em 2023 fraco e um começo duvidoso nas etapas do Brasil e da Tchéquia ; em condições difíceis com lama e piso escorregadio mostrou toda sua técnica e força e no duelo com Puck Pieterse, favorita nesse tipo de terreno, descarregou toda sua força, desmontando todo o pelotão
CRANS-MONTANA: AO GOSTO DE LECOMTE
No início da semana, quando muitos questionavam a dificuldade do circuito durante o reconhecimento da pista, Loana Lecomte que também disputa provas de ciclocross, comentou: “É um percurso adequado. Não é um percurso de ciclocross”, revelando seu gosto pelo circuito de Crans-Montana, considerado por muitos como o mais desafiador e técnico da temporada. A campeã francesa provou isso, liderando a quinta etapa da Copa do Mundo praticamente do início ao fim
A ausência da líder geral do XCO Haley Batten e da terceira colocada Savilia Blunk (Decathlon Ford Racing Team abriam a possibilidade de escalar posições na CG para muitas ciclistas, e em um dia com piso lamacento e traiçoeiro poderia ser útil para isso.
Lecomte e Laura Stigger arrancaram com força desde a linha de largada, enquanto Allessandra Keller batia guidão com Puck Pieterse que assumiu a liderança ainda na volta de largada – start loop – na estreita subida asfaltada.
Keller avançou pela floresta, mas foi Kate Courtney quem assumiu o comando em um trecho com curvas inclinadas e descompensadas. Na descida mais arborizada e com a trilha um pouco mais larga, Loana Lecomte aproveitou o terreno para abrir uma vantagem considerável de 15 segundos sobre as perseguidoras. Keller, que teve dificuldades na descida, liderou o contra-ataque, com Courtney e Gwen Gibson em sua roda.
Puck Pieterse tomou a ponta do grupo de perseguidoras. Praticamente todas foram obrigadas a desmontar da bicicleta e a caminhar pela próxima seção florestal à medida que a trilha ficava mais estreita na subida técnica. Pieterse atacou e chegou a ganhar alguma distância do grupo que a acompanhava, mas Lecomte buscava seguir com seu ritmo.
Enquanto Lecomte optou pelo desafiador jardim de troncos, construído para prova e com a umidade do dia bastante deixando-o escorregadio, Pieterse optou por outro traçado mais longo, custando-lhe alguns segundos, enquanto Keller, em terceiro lugar, também foi pela segurança.
Depois de quinze minutos de corrida, Lecomte estava cada vez mais forte, 17 segundos à frente de Pieterse. No ‘jardim de pedras’, Lecomte optou ir pelo meio, seguindo uma linha mais equilibrada e foi seguida por Pieterse.
Na segunda volta, Pieterse tinha apenas a Lecomte na mira, com Keller indo à caça da holandesa. Mais atrás, uma batalha pelo quarto lugar estava se desenrolando entre Laura Stigger e Jen Jackson.
Na subida íngreme e lamacenta, Pieterse estava praticamente de volta à frente da corrida, aproveitando ao máximo de com suas habilidades de descer e montar novamente na bicicleta das provas de ciclocross trabalhando a seu favor.
Pieterse assumiu a liderança um minuto depois, ao aproveitar as diferentes partes do percurso um pouco melhor do que Lecomte, com Keller aparentemente voltando à disputa. Na subida seguinte, Lecomte conseguiu permanecer na bicicleta enquanto Pieterse teve que descer, correr e empurrar. Lecomte imediatamente forçou os pedais enquanto Pieterse lutava para se recuperar, o que lhe custou vários segundos e também o segundo lugar para Keller.
Na segunda área técnica, Lecomte aproveitou o terreno para forçar a marcha e avançar. Keller conseguiu encontrar um bom ritmo e certo conforto, enquanto Pieterse parecia cada vez mais cansada.
Depois de meia hora de corrida e na terceira volta, Pieterse parecia estar saindo da disputa pela vitória. A batalha pelo primeiro lugar parecia cada vez mais que seria entre Keller e Lecomte. Mais de dois minutos e meio separavam a líder da décima colocada.
Um escorregão de Lecomte em uma raiz, seu primeiro grande erro, deu a Keller a possibilidade de encurtar a diferença; a suíça fez uma ótima escolha de trajetória momentos depois para se posicionar na roda da francesa. Lecomte se esforçou um pouco, a deixou para trás e continuou a fazer sua própria corrida. Mostrou-se particularmente confiante e competente nas descidas, ganhando alguns metros aqui e ali. Pieterse rodando mais atrás, não conseguia encontrar algum trecho do percurso que a favorecesse.
Ao começar a terceira volta no circuito de 3.5 km, Lecomte conseguiu aumentar sua vantagem sobre Keller para dois dígitos. Sessenta segundos atrás de Pieterse, Laura Stigger parecia ter se firmado no 4º lugar, já que um minuto atrás Evie Richards parecia ser a melhor entre aquelas que lutavam pelo 5º lugar.
Loana Lecomte aproveitou a terceira volta para forçar, mantendo se bem posicionada para cobrir o percurso em 14m30, enquanto Keller começou a balançar, ainda capaz de ver Lecomte, mas acusando o esforço perdendo 20 segundos para a ponteira.
O percurso estava secando, porém a passagem de todas as competidoras aumentava a profundidade dos sulcos. Na quarta volta, Lecomte já tinha entendido e planejado a abordagem das seções mais técnicas e com isso poderia tirar proveito para ampliar sua vantagem
Ao abrir a última volta, Lecomte tinha 35 segundos de vantagem para Keller, que apoiada pelos torcedores da casa, não desistiu. A campeã europeia Puck Pieterse, se mantinha na terceira posição fazendo uma corrida solitária.
À medida que avançava pelo percurso, Lecomte foi mais cautelosa e abordou todas as seções técnicas com mais cuidado para completar a prova em uma demonstração de técnica e força ainda não feita por ela na atual temporada. Alessandra Keller chegou 46 segundos depois, e com o resultado assumiu a liderança da Copa do Mundo de XCO – ela também lidera a classificação geral das provas em circuito curto XCC. Atrás, uma a uma, chegaram Pieterse, Stigger e Richards
“É bom estar de volta!” disse Lecomte, em alusão ao início de temporada ruim e exultante destacou “Amo essa pista. Mesmo que tivéssemos uma pista seca, é uma verdadeira pista de mountain bike, com muitos trechos técnicos e muito físicos. Mal posso esperar para voltar aqui para o Campeonato Mundial no próximo ano. O segredo é ser feliz e se divertir na bicicleta”.
PIDCOCK: FINAL DE SEMANA PERFEITO EM CRANS-MONTANA
Uma semana antes de alinhar no Tour de France em Florença, Tom Pidcock teve tempo para mais um teste antes da prova de mountain bike dos Jogos Olímpicos de Paris, enfrentando seu principal adversário: Nino Schurter que corria diante da sua torcida, e que vinha motivado pela 36ª vitória em etapas da Copa do Mundo.
Na largada Alan Hatherly teve um ótimo começo, assim como Marcel Guerrini e Luca Braidot , responsáveis por abrir o caminho. Pidcock mais uma vez não fez uma grande largada, ficando atrás de rivais fortes como Schurter e do campeão britânico Charlie Aldridge .
No trecho em descida entre troncos e raízes – o Red Bull Roots & Rolls a liderança é dos suíços, companheiros na equipe Scott, Filippo Colombo e Schurter. Alridge chegou a tomar a ponta ainda na volta de abertura, em um início de corrida tenso e onde muitos preferiram a cautela a arriscar tudo e comprometer o dia.
Pidcock foi para o sexto lugar na subida estreita e arborizada, mesmo ponto onde as mulheres enfrentaram problemas. Com os homens não foi diferente, incluindo Pidcock, e aonde Aldridge se esforçou e tentou tirar alguma vantagem.
Julian Schelb tomou a liderança de Aldridge e foi em direção ao topo abrindo uma boa vantagem na mesma descida curta que funcionou tão bem para Loana Lecomte.
Schelb entrou no jardim de troncos de madeira com Pidcock cinco segundos atrás, mas já em sua perseguição. Schurter não queria perder a roda de Pidcock, lutando para se manter atrás do campeão mundial.
Pidcock chegou em Schelb e assumiu a liderança ao seguir por uma linha mais complicada antes do jardim de pedras. Schelb não gostou e balançou a cabeça, voltando à frente ao seguir por linha mais rápida. Pidcock caiu na zona tecnológica enquanto pegava um gel. Isso o fez voltar para o grupo de Schurter, deixando Schelb sozinho na frente
No início da segunda volta, se juntou ao trio outro suíço, Mathias Flückiger, enquanto Pidcock assumia o comando para reconectar se com Schelb. Pidcock teve mais problemas na lama do que Schurter e Schelb, e para alguns escolher o melhor traçado na maioria das vezes passou a ser mais questão de sorte do que uma análise da situação. Nos minutos seguintes a liderança mudou de más várias vezes.
Pidcock percebeu que era o momento certo e lançou um vigoroso ataque antes da descida inicial. Ele rapidamente transformou isso em uma vantagem de sete segundos sobre Schurter e Flückiger, enquanto Schelb ficava para trás. Flückiger parecia mais capaz de buscar o líder, estava apenas seis segundos atrás, bem ao seu alcance, no início da terceira volta.
Schurter e Schelb ficaram sozinhos em terceiro e quarto, com Luca Schwarzbauer e Maximilian Braidot lutando pelo restante do pódio.
No trecho mais técnico, Pidcock manteve-se na bicicleta enquanto Flückiger se viu forçado a descer. Espaço suficiente para Pidcock seguir sua jornada e após meia hora de corrida, sua vantagem era de 19 segundos e continuava aumentando.
Em raro erro de Schurter na descida inicial o levou a uma vala além do limite da pista. Foi uma aterrissagem suave, mas custou-lhe muito tempo, o 3º lugar, e o deixou visivelmente abalado. Enquanto isso, Pidcock manteve uma vantagem de 34 segundos com mais da metade da corrida pela frente. Outro problema para Schurter no jardim de pedras o colocou efetivamente fora da disputa. Max Brandl não teve a mesma sorte, e sua queda exigiu atenção médica e o abandono da prova.
Na 4ª volta Schurter tinha que lutar com Schwarzbauer e Lars Forster pela sua posição no pódio.
Na frente e com certa vantagem, Pidcock relaxou, talvez perdendo a concentração bateu forte sua roda dianteira em uma raiz. Foi ao chão, se recompôs e retomou às pedaladas. Na disputa pelas posições finais do pódio, o suíço Forster não teve a mesma sorte, sua roda traseira derrapou, caiu e entregou a quinta posição para Schurter.
Pidcock continuava a abrir caminho e ampliar a vantagem, com a possibilidade de escolher trechos mais limpos e seguros, contornando dificuldades e colocar seu estilo de força. Enquanto Flückiger que consolidava na segunda posição, não chegava no líder, mas também não era incomodado pois, Schelb rodava a 1 minuto dele e parecia firme em terceiro, com Luca Braidot juntando-se a Schurter e Schwarzbauer na disputa pelo 4º.
Schurter não se rendeu, recobrou as energias e entrou em seu ritmo na quinta volta, quando encostou e ultrapassou a Schelb.
Pidcock fez a longa subida no asfalto sem sentar no selim abrindo mais alguns segundos sobre Flückiger. Schurter procurou dificultar as coisas para Schelb na luta pelo 3º lugar. À medida que o percurso secava, Braidot se colocava na disputa com Schurter e Schelb.
Na metade da penúltima volta, com o primeiro e segundo lugares aparentemente definidos, a atenção se voltava para os três ciclistas que disputavam o terceiro lugar, com todo a força da torcida local para Schurter.
No início da última volta a disputa pelo terceiro lugar parecia equilibrada, o percurso estava mais seco, propício para algum ataque. Schurter forçou o ritmo na primeira subida do circuito, mas sua ação não teve o resultado esperado. Braidot se mantinha forte, enquanto Schelb acusava o cansaço e perdia o contato, ficando com a 5ª posição.
Pidcock aproveitou a última volta para levar sua vantagem além de 1 minuto, arrancou de braços abertos e fechou um final de semana perfeito.
Flückiger também chegou tranquilo com cerca de um minuto de vantagem para a dupla que disputava a terceira posição. Schurter até tentou, mas faltou a força necessária para impedir a ultrapassagem de Braidot; 15 segundos depois chegaria o quinto colocado, Schelb.
Ulan Galinski que no dia anterior havia obtido seu melhor resultado no XCC, enfrentou dificuldades no circuito, apesar de antes da largada ter se mostrado animado em disputar uma prova na lama, a realidade com as condições extremas do circuito foi bem outra, sofrendo várias quedas que o fizeram terminar na 40ª posição. Para a torcida esta informação pode servir de consolo, dos 97 que largaram a prova, apenas 49 completaram a prova na mesma volta que Pidcock, e o brasileiro era um deles; Gustavo Xavier não teve o mesmo desempenho e ficou em 66º, cortado a 2 voltas do vencedor.
Pidcock, que não havia treinado no percurso antes da corrida, admitiu dificuldades no começo da prova: “Foi muito complicado nas primeiras voltas só para encontrar o meu próprio ritmo. Estávamos apenas um atravessando no caminho do outro”.
Em vista de sua agenda que tem como prioridade o Tour de France, deu a entender que talvez tivesse relaxado demais em alguns momentos da prova: “Cometi alguns erros depois de abrir a vatangem. Tenho grandes coisas pela frente e acho que meus companheiros não ficariam muito felizes se eu tivesse me eliminado hoje”.
Com Koretzky fora da disputa e Alan Hatherly terminando em 20°, Nino Schurter é o novo líder da classificação geral com 942 pontos., contra 798 de Hatherly e 795 de seu compatriota Filippo Colombo. O suíço se mostrou contente com o 4º lugar em um dia atípico para ele onde “lutou com as condições – em uma volta, acho que caí três vezes”.
Whoop UCI MTB World Series – Copa do Mundo de Mountain Bike – Crans-Montana/Suíça – 5ª etapa
XCO – Cross contry Olímpico
Elite feminina – volta de largada 1.3km + 5 voltas x circuito de 3.4 km – 18.30 km – 63 competidoras de 22 países
🥇 – Loana Lecomte 🇫🇷 – Canyon CLLCTV XCO – 1h17m22 – vel. Média 19.191 km/h
🥈- Alessandra Keller 🇨🇭 – Thömus Maxon +46s
🥉- Puck Pieterse 🇳🇱 – Alpecin Deceuninck +1m33s
4- Laura Stigger 🇦🇹 – Specialized Factory Racing +2m18s
5- Evie Richards 🇬🇧 – Trek Factory Racing-Pirelli +3m57s
Elite Masculina – volta de largada 1.3km + 7 voltas x circuito de 3.4 km – 25.10 km – 103 competidores de 27 países
🥇- Thomas Pidcock 🇬🇧 – Ineos Grenadiers – 1h26m28s vel. média 17.416 km/h
🥈- Mathias Flückiger 🇨🇭 – Thömus Maxon +1m10s
🥉- Luca Braidot 🇮🇹 – Santa Cruz Rockshox Pro Team +2m05s
4- Nino Schurter 🇨🇭 – Scott-Sram MTB Racing Team +2m08s
5- Julian Schelb 🇩🇪 – Stop&Go Marderabwehr MTB Team +2m23s
40- Ulan Galinski 🇧🇷 – Caloi-Henrique Avancini Racing +8m56s
66- Gustavo Xavier 🇧🇷 – Specialized Racing BR -2voltas
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