A etapa da Copa do Mundo de XCO em Araxá reservou disputas emocionantes na categoria Elite, com o duelo entre entre Haley Batten e Jenny Rissveds e no masculino uma prova com altas doses de emoção com mais de 100 ciclistas na pista, queda de favorito na largada; e quando tudo parecia definido para Victor Koretzky, uma queda de corrente embaralha a decisão, uma retomada épica e uma chegada com 5 ciclistas disputando o sprint. Quem não conhecia as disputas em Araxá, guardará boas lembranças, para os que conheciam, a certeza de que nesse circuito técnico e desafiador está garantido o mountain bike de alto nível
A candense Jennifer Jackson tomou a liderança do pelotão na largada com todas as que buscavam um lugar no pódio tentando se posicionar à frente antes de chegar ao primeiro e seletivo trecho de subida, onde haveria, para muitas, dificuldades para subir pedalando o que de fato aconteceu e gerou um congestionamento que por si só já serviu para dividir a corrida.
Na frente apareciam e Jackson, as suíças Alessandra Keller e Linda Indergand e Haley Batten abrindo caminho e ditando o ritmo, a elas se juntaram Savilia Blunk , a italiana Martina Berta, a austríaca Laura Stigger , a sueca Jenny Rissved.
As 8 ciclistas pedalando em ritmo mais forte conseguiram abrir uma boa vantagem, sobre um segundo grupo aonde estavam Anne Tauber, Loana Lecomte, Kate Courtney e outras que tentavam se encaixar mais à frente buscando encurtar a distância para as ponteiras.
Martina Berta e Laura Stigger não aguentaram o ritmo das ponteiras, perderam a roda e acabaram se integrando ao grupo de perseguidoras.
O grupo da frente não relaxava e mantinha um ritmo elevado, e Indergand dava sinais de que não conseguiria acompanhar com a mesma intensidade ainda na segunda volga. No grupo perseguidor a francesa Loana Lecomte caiu, sendo obrigada a abandonar a competição – seu desempenho nas duas etapas brasileiras foi abaixo do esperado.
Na frente, Rissveds, Keller, Blunk e Batter se alternavam uma atrás da outra, testando o momento oportuno para um possível ataque, enquanto Jackson era obrigada a parar na área técnica para trocar uma roda após um furo, com isso se despedia da disputa.
O tão esperado ataque chegou com Rissvesds arrancando e abrindo uma pequena brecha, mas atrás Keller, Blunk e Batten não cediam terreno, mantinham o controle da situação e pouco depois estavam novamente juntas. Logo nesse grupo começaria a sessão de ataques e contra-ataques. Batten e Rissveds conseguem se distanciar de Blunk e Keller – com claros sinais de desgaste.
A disputa se transformou em uma corrida de estratégia, à medida que as ciclistas se avaliavam na penúltima volta e, rumo à última volta, o jogo começou, com qualquer uma das quatro ainda com chances. Foi Batten foi a primeira a atacar, e mais uma vez ela e Rissveds se afastaram, abrindo uma vantagem que passou de 10 segundos quando Blunk foi forçada a desmontar na subida.
Na abertura da última volta, Haley Batten testa sua adversária, Rissveds responde, dando início a uma disputa que parecia um duelo, no último trecho de subida Batten força mais uma vez e consegue deixar a sueca para trás e pedalar para a vitória, um pouco mais atrpas Blunk errou no trecho de subida e foi forçada a descer , conseguindo a pontuação máxima no final de semana, afinal no dia anterior ela havia vencido a prova de XCC. Rissveds chegaria 17 segundos depois, terminando em 2º lugar; Blunk em 3º, Keller em 4º e Terpstra em 5º.
Das seis brasileiras que entraram no circuito de Araxá, Karen Olímpio foi a que teve o melhor resultado, terminando em 30º. Raiza Goulão não esteve em seus melhores dias, e já desde o dia anterior havia sinais de que poderia estar com algum problema de saúde, pois não largou no XCC e terminou o XCO na 47ª posição a três voltas do bloco de 35 ciclistas que aparecem na classificação.
Sobre o duelo com Rissveds , a vencedora Haley Batten comentou: “Aquela penúltima volta foi estranha, foi difícil de ler, eu sei que Jenny me deu um bom ataque faltando uma volta para no fim de semana passado, então quando eu estava liderando a penúltima volta, eu pensei, ‘ah, não, ela está vai fazer isso comigo de novo’, então tentei me acomodar e esperar até a hora; e tentei ler direito, meio que cheguei um pouco antes, mas felizmente consegui aguentar o ataque da Jenny, porque esse foi um grande problema, mal consegui aguentar”.
ANDREASSEN vence, mas a retomada épica de Koretzky fica na história
Para muitos que acompanharam a prova – ao vivo ou pela transmissão da TNT Sports pelo YouTube a melhor definição para a primeira volta era o de caos total, uma massa de quase 100 ciclistas tentando tomar de assalto a mesma subida. A primeira vítima estava logo no primeiro grupo, Christopher Blevins, um dos favoritos caiu logo no primeiro topo, ao se chocar contra um dos tocos de sinalização e ficou enroscado indo para a última posição.
Ainda na subida, mas um pouco mais acima o grande bloco de ciclistas sofria para avançar na subida e no trecho técnico com raízes, a melhor opção era ir no estilo ciclocross carregando a bicicleta ou empurrando para avançar.
Nesta louca largada foram os especialistas do XCC – de características mais explosivas – que usaram a sua força para tirar vantagem do ritmo frenético inicial, com o neozelandês Sam Gaze, campeão mundial, o explosivo alemão Luca Schwarzbauer e o suíço Mathias Flückiger (Thömus maxon), entre os que lideraram o ataque à segunda volta.
Mas na frente as ações não mostravam consistência, faltava comando, assim chegavam à ponta o jovem de 21 anos e campeão da Copa do Mundo sub23 no ano passado, Adrien Boichis, seguido por Jordan Sarrou e por Nino Schurter exatamente 14 anos desde sua primeira vitória no XCO. As diferenças eram pequenas e o grupo dos ponteiros tinha mais de 20 ciclistas.
Enquanto Blevins lutava para avançar desde o fundo do pelotão, foi a vez de seu companheiro de equipe o chileno Vidaurre, um dos poucos estrangeiros a ter uma boa noção do que era o circuito que apesar das mudanças ainda tinha muitas das características dos traçados utilizados na CIMTB, tomar a dianteira na terceira volta e forçando o ritmo até levar a vantagem a 16 segundos.
Mas a tática de Vidaurre não funcionou, pois foi alcançado por um grupo de seis ciclistas -Sarrou, Schurter, Koretzky, Sam Gaze, Haterly e Avondeto. O chileno insistiu, mas na 5ª volta era totalmente absorvido pelo grupo que naquele momento era comandado por Gaze e Koretzky.
Na 6ª volta o grupo de ponteiros ganhava mais alguns integrantes com a chegada do dinamarques Simon Andreassen que chegou com um ritmo acelerado logo indo para a frente e que começou a esticar o grupo, começava ali mais um jogo de equipe, pois Andreassen trabalhava com Hatherly. Koretzky mesmo sem ter por perto a o seu companheiro Vidaurre neutralizou a ação e mantendo a força em suas pedaladas conseguiu abrir caminho e se distanciar.
Na penúltima volta a vantagem de Koretzky era de 14 segundos sobre um quarteto formado por Sarrou, Hatherly, Andreassen e o suíço Filippo Colombo. Tudo aparentemente apontava para a vitória, bastaria manter a calma e não cometer erros.
E sim, o erro aconteceu, no final da última subida ele titubeou e teve que se ajeitar em cima da bicicleta para não cair, retomando o ritmo, mas quando tudo parecia sob controle, um salto de corrente, obrigou Koretzky a descer da bicicleta e recolocar a corrente no lugar, enquanto isso o grupo perseguidor o deixava para trás, indo parar na 5ª posição quando retomou as pedaladas.
Com o incidente do francês, Colombo apareceu na dianteira, depois foi a vez de Andreassen lançar um ataque decisivo no final da volta, mas sem forças para se distanciar de Colombo ou de Koretzky que voltava freneticamente à disputa.
A decisão ia para o sprint em um jogo aberto entre Andreassen, Colombo, Hatherly e Koretzky. O dinamarquês chegou com mais força e levou a vitória, Koretzky ressurgiu e ficou em 2º ultrapassando a Hatherly e a Colombo.
Destaque para a incrível recuperação de Blevins, avançado da última posição na corrida na 1ª volta após a queda para terminar em 23º .
Após as duas etapas brasileiras da Copa do Mundo Victor Koretzky é o líder com 520 pontos, seguido por Andreassen com 384 e Blevins com 383.
Ulan Galinski que terminou na 46ª posição ocupa o 30º lugar na classificação geral do XCO com 120 pontos, sendo o melhor brasileiro; depois em 61º está Gustavo Xavier com 23 pontos.
Ainda sem entender direito o resultado e emocionado Andreassen declarou: “Foi bom voltar a ganhar um Campeonato do Mundo (ndr.: ele foi bi-campeão mundial junior em 2014/2015), para ser sincero, ainda não pensei muito nisso. Já se passaram alguns anos desde que ganhei uma Copa do Mundo (em Vallnord 2023 como sub23) e vou reservar um momento para absorver isso”. Segundo colocado, Koretzky comentou: “Tive pernas muito boas hoje, tentei escapar com algumas voltas para o fim e estive bem na última volta, mas infelizmente tive um problema mecânico, deixei cair a corrente quase no topo, antes da seção de raízes Fiz um grande esforço para diminuir a diferença e fiquei completamente vazio. Estou triste, mas ao mesmo tempo estou feliz com a minha forma, então parabéns ao Simon, ele foi forte, fez um grande sprint, foi incrível estar na roda dele na última reta. Estou muito feliz e ansioso pela próxima parte da temporada“.
Whoop UCI MTB World Series – Copa do Mundo de Mountain Bike – Mairiporã
XCO– Cross Country Olímpico
Elite Feminina – circuito 3.65 km + 8 voltas x circuito 3.618 km – 28.98km – 59 competidores de 25 países
1- Haley Batten – Specialized Factory Racing – Estados Unidos – 1h23m04s – vel. media 20.928 km/h
2- Jenny Rissveds – Team 31 Ibis Cycles Continental – Suécia +17s
3- Savilia Blunk – Decathlon Ford Racing Team – Estados Unidos +40s
4- Alessandra Keller – Thömus Maxon – Suíça +1m05s
5- Alessandra Terpstra – Ghost Factory Racing – Países Baixos +1m46s
30- Karen Olímpio – Brasil +8m46s
37- Isabella Lacerda – Brasil -2voltas
44- Hercília Najara – Brasil -2voltas
47- Raíza Goulão – Brasil -3voltas
52- Liege Walter – Brasil -4voltas
53- Marcela Lima – Brasil -5voltas
Elite Masculina– circuito 3.65 km + 9 voltas x circuito 3.618 km – 32.59 km – 105 competidores de 29 países
1- Simon Andreassen – Cannondale Factory Racing – Dinamarca – 1h20m00s – vel. Media 24.441 km/h
2- Victor Koretzky – Specialized Factory Racing – França +1s
3- Alan Hatherly – Cannondale Factory Racing – África do Sul +1s
4- Filippo Colombo – Scott-Sram MTB Racing Team – Suíça +1s
5- Jordan Sarrou – Team BMC – França +10s
46- Ulan Galinski – Caloi-Henrique Avancini Racing – Brasil +4m39s
59- Gustavo Xavier – Specialized Racing BR – Brasil -1volta
60- Shermann Trezza – Brasil -1volta
66- Nicolas Romão – Brasil -1volta
67- Mario Couto – Brasil -1volta
68- José Gabriel Marques – Brasil -2voltas
73- Rubens Donizete – Brasil -2voltas
78- Leandro dos Santos – Brasil -3voltas
80- Rodrigo Rosa – Brasil -3voltas
84- Luiz Henrique Cocuzzi – Brasil -4voltas
88- Gabriel Gaspar – Brasil -5voltas
89- Flávio Lobo – Brasil -5voltas
90- Lúcio Soares – Brasil -5voltas
97- Alexandre dos Reis – Brasil -7voltas