No final de semana de 25 e 26 de junho tivemos as disputas da prova em linha do Campeonato Brasileiro de Estrada das categorias Elite e Sub23. Na prova feminina, Aline Cavaglieri rompeu com a burocracia e o trabalho de marcação das equipes e atacou para conquistar seu primeiro título no ciclismo de estrada. No masculino, aos 21 anos, o único ciclista brasileiro do pelotão World Tour tira a pressão das expectativas ao conquistar o direito de vestir a camisa de campeão
As disputas do Campeonato Brasileiro disputado em Palmas, no Tocantins, no sábado (25/6) e no domingo (26/6) revelaram os novos campeões brasileiros das categorias Elite e Sub23, na prova de ciclismo em linha – ou resistência.
Na prova feminina, a gaúcha, radicada em Sorriso, no Mato Grosso, Aline Cavaglieri rompeu com o conformismo e a marcação burocrática do pelotão sobre as possíveis candidatas ao título e atacou para conquistar o inédito título brasileiro em sua primeira prova de estrada.
Além do ineditismo do título, a vitória de Aline, de 33 anos, tem muito de superação e amizade e parte dessa história veio a público graças à matéria do jornalista Lailton Costa, do Jornal do Tocantins, que revelou que a mountain biker, e agora campeã brasileira de estrada, teve o apoio desde que chegou ao aeroporto até o suporte durante a competição do motorista de aplicativo, Regis Marinho.
Marinho pode ser considerado aquele anjo da guarda que ao ver um ciclista chegar ao aeroporto com uma caixa fora dos padrões ser recusada por outros motoristas, ele aceitou a passageira – “Eu levo, mas aa gente vai encolhido dentro do carro”, um Ford Ka, comentou o motorista, nesse momento começou a ser escrita a história desse título.
No trajeto até o hotel, Aline conversando com o motorista fez um pedido: “Cara você tem que me dar o apoio na prova, eu não tenho equipe, não tenho nada. Você vai ter que me dar água”, ele aceitou e trabalhou muito, comprando até água de coco quando a água para abastecer a ciclista havia acabado durante a prova. Além da amizade, Marinho ganhou da ciclista uma bicicleta Cannondale, que era o prêmio pela vitória na prova.
Na estrada, a prova repetiu um roteiro que tem se repetido ao longo dos anos nas provas femininas, as principais equipes marcando a campeã ou as favoritas, e toda a ação é feita em relação ao que estas fazem e isso torna a prova um tanto burocrática e muitas vezes sem ritmo pois as adversárias se limitam a marcar ‘a roda’ daquela que é candidata ao título.
A campeã de 2021, Ana Paula Polegatch que estava correndo pelo bicampeonato fez um desabafo em sua conta pessoal no Instagram, sobre essa atitude das demais companheiras de pelotão. A ciclista que começou a prova ditando o ritmo do pelotão, pondo à cara à frente do grupo lutou pelo título até onde resistiu e jogou a decisão para a ‘sorte ou azar’.
Com um pelotão rodando compacto até a oitava, das onze voltas, a corrida se definiu na última volta. Aline que teve um problema com a corrente de sua bicicleta na 7ª volta, conseguiu se reconectar a um grupo de 12 ciclistas e partiu para o ataque buscando a ponta e tentando romper com a estrutura de esquipes.
A Unifunvic com Polegatch e Luciene Ferreira(campeã em 2012/13), Santos com Ana Paula Casetta e Taise Benatto e Abec com Welyda Rodrigues e Alice de Melo em rígida marcação entre elas, e ainda Tota Magalhães correndo pelo título da sub23 , mas também muito marcada, deram chance ao ataque de uma ‘outsider’ com fome de vitória.
Na última volta, Aline partiu para o ataque, jogou com o fator surpresa, e conseguiu tomar à frente impor seu ritmo e antecipar o sprint para cruzar na primeira posição, com uma pequena vantagem de 1s673, à frente de Wellyda Rodrigues e Talita de Oliveira.
“Não tem como não ficar emocionada, a ficha ainda não caiu. Eu vim aqui para Palmas sozinha, ainda tive um problema na minha corrente, mas acabou tudo dando certo no final e consegui manter uma pequena diferença suficiente para me tornar campeã”, comentou após sua primeira vitória no ciclismo de estrada, a nova campeã brasileira.
Na disputa da Sub23 feminina, Ana Vitória Magalhães, campeã em 2021 , teve problemas com um pneu furado, trocou de bicicleta; fez uma corrida de recuperação e conseguiu se reconectar ao grupo principal para cruzar na 10ª posição na Elite e a vencer na categoria sub23. A segunda posição foi de Ana Paula Finco e Vitória Santos Xavier ficou em 3º lugar.
“Eu sou carioca então o sol aqui de Palmas foi um fator positivo pra mim. O vento forte da cidade ajudou a selecionar o pelotão e tornar a prova ainda mais dinâmica, mas infelizmente precisei trocar de bicicleta e tive um pneu furado, isso acabou interferindo um pouco nos meus planos, porém, consegui terminar com a vitória e estou super feliz”, declarou a bicampeã brasileira Tota Magalhães.
RANGEL VENCE COM SUPREMACIA E UNIFICA OS TÍTULOS DA SUB23 E ELITE
A última prova do Campeonato Brasileiro de Estrada estava reservada para a Elite Masculina e a Sub23 (ambas categorias, assim como na feminina correram juntas) em um percurso de 185 quilômetros, 18 voltas no circuito.
Desde muito antes de começar a prova todas as expectativas – e a responsabilidade de estar no alto do pódio – estavam depositadas sobre o jovem Vinicius Rangel que aos 21 anos é uma das apostas de futuro da espanhola Movistar Team, no pelotão World Tour.
Sem apoio de uma equipe protege-lo, afinal estavam ali a Unifunvic-Pindamonhangaba, Swift Carbon, Santos Cycling, Indaiatuba, ERT – Rangel teve que se impor e conseguiu isso de forma marcante, sempre bem posicionado e correndo de forma consciente.
A prova foi marcada, além do muito calor e baixa umidade do ar, pelas equipes Swift Carbon Unifunvic e Santos procurando controlar o pelotão e colocar seus homens no comando da prova e gerando uma sucessão de ataques e contra-ataques o que provocou desgastes no pelotão e deixou a corrida sempre sob tensão.
Chaman, campeão do contrarrelógio individual, atacou e tomou a ponta, formando uma fuga onde estavam um atuante André Gohr, Kleber Ramos (campeão em 2021), o sempre combativo Cristian Egídio e ainda os que corriam sem apoio de equipe Alessandro Guimarães, Halysson Ferreira e Vinicius Rangel.
A equipe Swift queria deixar sua marca e arriscou uma ação quando faltavam 4 voltas para o final (pouco mais de 41 km) com Magno Prado atacando e abrindo uma fuga solitária, quase uma crono solitária onde conseguiu abrir uma vantagem que chegou à casa dos 50 segundos.
Porém debaixo do forte calor e sozinho, não foi fácil para Magno manter o ritmo, principalmente quando o grupo perseguidor tinha um Rangel que buscava a vitória e forçava o ritmo, rompendo o grupo perseguidor limitando-o a Halysson e Cristian Egídio. Faltando uma volta, pouco mais de 10 km, para o final, o trio neutralizou o escapado.
Rangel tinha a prova na cabeça, e aproveitou a última volta para se impor. Em uma demonstração de força que na Europa seria denominada ‘Tour de Force’ – o jovem atacou, aumentou o ritmo, e conseguiu se destacar do grupo, sendo acompanhado por Cristian Egídio que resistiu na roda enquanto pôde. Atrás o grupo se desmanchava com o calor e a força do ataque.
Com os braços em alto e a certeza de que cumpriu o objetivo, Rangel cruzou a linha de chegada para conquistar seu primeiro título brasileiro na Elite o que lhe garantirá o direito de vestir a camisa de campeão nacional no pelotão World Tour. A última vez que vimos a camisa de campeão brasileiro na elite mundial foi em 2011 com Murilo Fischer.
Cristian Egidio chegou a 13 segundos e garantiu a segunda posição. Só 1m39s depois chegou o terceiro colocado, Halysson Ferreira. O 4º colocado, Lauro Chaman, chegou a mais de 2 minutos, Magno foi o 5º a 2m13s, o campeão de 2021 chegou a 2m16.
Rangel também conquistou o título da Sub23 e nessa categoria, a medalha de prata foi para Pedro Figueiredo Leme que atualmente está radicado em Portugal, defendendo a equipe Trofa e que ficou a 6m24s do vencedor, e Felipe Ronzani obteve a medalha de bronze.
APÓS 11 ANOS CAMISA DE CAMPEÃO BRASILEIRO VOLTA AO PELOTÃO WT
Com o dever de missão cumprida e muito emocionado, Rangel declarou: “Cheguei no Brasil muito confiante e disposto a entregar todo o meu desempenho em busca desse titulo, que vai ser muito importante tanto pra minha carreira como para dar ainda mais visibilidade para o ciclismo brasileiro. É muito gratificante estar fazendo parte de tudo isso. Estou ansioso para chegar em casa e poder entregar essa medalha pra minha mãe, compartilhar essa felicidade com minha família”.
CAMPEONATO BRASILEIRO DE CICLISMO DE ESTRADA – Palmas, Tocantins
Elite Feminina – 113,300 km (11 voltas) – 25/06
1- Aline Cavaglieri – ATP Assessoria Esportiva – 3h25m54s269
2- Wellyda Rodrigues – ABEC Rio Claro +1s673
3- Talita de Oliveira – Liga de Ciclismo Campos Gerais +2s222
4- Tamires Radatz – Avaí-FMC Florianópolis-AGPF +3s796
5- Karine Frota – Evo Pro Team EPT – 5s364
Sub23 Feminina
1- Ana Vitória ‘Tota’ Magalhães – Lulu Five Team – 3h26m05s668
2- Ana Paula Finco Silva +9s
3- Vitória da Cruz +
4- Lara Bueno de Oliveira – SMEL Foz do Iguaçu
5- Emanuelle Viximiczen – Liga de Ciclismo Campos Gerais
Elite Masculina – 185,400 km (18 voltas) – 26/06
1- Vinicius Rangel – Movistar Team – 4h30m20s789 – vel. média 41,147 km/h
2- Christian Egídio da Rosa – Swift Carbon Pro Cycling Brasil +13s684
3- Halysson Ferreira +1m39s781
4- Lauro Chaman – Santos Cycling Team-Fupes +2m01m533
5- Magno do Prado Nazaret – Swift Carbon Pro Cycling Brasil + 2m13s733
Sub23 Masculina – 185,400 km (18 voltas)
1- Vinicius Rangel – Movistar Team – 4h30m20s789 – vel. média 41,147 km/h
2- Pedro Leme – Trofa +6m24s960
3- Felipe Ronzani – Unifunvic-Gelog-Pindamonhangaba +6m28s292
4- Victor Cesar de Paula – Balaverde Team – 6m48s.931
5- Pedro Volpato Rossi – Clube Maringaense de Ciclismo + 7m10s765