Tahnée Seagrave comemorou seu 29º aniversário no melhor estilo possível – conquistando sua primeira vitória na Copa do Mundo de Downhill após três anos, na famosa pista Black Snake de Val di Sole. Também voltando no tempo e surpreendendo todo mundo, estava o vencedor de 2018, Amaury Pierron entrando no percurso pela primeira vez desde que sofreu uma grave lesão no ano passado
Um percurso de 2,1 km com 555 m de queda “física e irregular” foi como Josh Carlson descreveu a notória pista Black Snake de Val di Sole antes das finais. À medida que o sol ficava escondido e as nuvens surgiam, outro adjetivo que poderia ser adicionado à essa mistura era o de “traiçoeiro”.
SEAGRAVE VENCE MAIS UMA VEZ EM VAL DI SOLE
Devido a uma lesão sofrida pela manhã, a mais rápida das semifinalistas femininas, a jovem neozelandesa de 20 anos, Jess Blewitt, foi a principal baixa, não conseguindo ocupar o seu lugar como última piloto enfrentar a descida.
Com algumas gotas de chuva caindo no percurso, Valentina Roa Sánchez foi a primeira, de onze competidoras a enfrentar a desafiadora descida conhecida por Black Snake. A campeã nacional colombiana disputava sua primeira final na Elite, no percurso tido por muitos como sendo, provavelmente, o mais difícil do circuito.
Sánchez teve boa velocidade, escolheu boas linhas entre as árvores e desceu com firmeza para estabelecer 4m46,7 – cinco segundos mais rápido do que havia conseguido na semifinal no dia anterior.
Lisa Bouladou mostrou como era fácil o traçado da pista induzir um piloto ao erro, perdendo o controle logo na primeira seção. Mas a jovem francesa de 19 anos, não se entregou, retomou o ritmo e foi até o fim.
A eslovena Monika Hrastnik, começou sua descida fazendo a melhor intermediária e à medida que ia avançando melhorava o seu tempo. No quarto ponto de cronometragem, ela estava 13 segundos à frente e colocava-se em posição de destaque como líder, naquele momento.
As jovens mostraram não temer a Black Snake, e britânica Phoebe Gale foi mais uma a não se intimidar, lutando muito fisicamente para enfrentar os trechos mais técnicos, perdendo impulso sobre as rochas maiores, não fosse esse trecho teria executado uma corrida limpa, mesmo assim alcançou o segundo lugar provisório.
A suíça Lisa Baumann não se entendeu com o circuito, caiu duas vezes no segundo setor, perdendo muito tempo e indo diretamente para a última posição.
Nina Hoffmann teve um início de temporada difícil e chegou à final de Val di Sole sem grandes expectativas. Ela executou uma corrida sólida, mas não espetacular, para produzir seu melhor resultado do ano desde Fort William quando ficou com o 2º lugar.
Apesar de lutar para encontrar o ritmo nas eliminatórias – onde foi 8ª na classificatória e 12ª na semifinal, Tahnée Seagrave conseguiu se reencontra na final em Val di Sole. Ela atacou a parte superior do percurso com uma vontade que faltou na sexta-feira. Com dois segundos de vantagem sobre Hrastnik, o cansaço pareceu afetar um pouco a britânica, que perdeu um pouco de tempo no terceiro e quarto setores. No entanto, ela manteve-se relaxada e firme, entrando definitivamente na competição fazendo o melhor tempo, quando ainda faltavam 4 competidoras para descer.
Segunda colocada na etapa anterior em Leogang, Anna Newkirk queria provar que o resultado não foi por acaso, mas teve dificuldades nas partes mais técnicas do circuito, perdendo vários segundos para Seagrave em todos os setores. Destemida até ao fim, ela não conseguiu passar do 6º lugar provisoriamente, fechando sua participação claramente desapontada.
Quando a antepenúltima a descer, a campeã francesa Marine Cabirou, a neblina começou a tomar conta do trecho mais alto do circuito. Cabirou não conseguiu superar o tempo de Seagrave no trecho inicial, porém na terceira intermediária sua velocidade já era maior e estava quase no mesmo tempo da britânica, porém sua arrancada no trecho final não foi suficiente para superá-la, ficando a 32 décimos.
Penúltima a descer, Valentina Höll com sua camisa arco-íris entrou no nevoeiro e despencou com toca velocidade. Na primeira intermediária, rodava a 5 décimos de Seagrave, sinalizando que sua descida seria ainda mais veloz, porem um erro no trecho de pedras provocou um escorregão que a fez cair. O tombo não teve maiores consequências, Höll tentou recuperar o ritmo e descontar os 8 segundos que perdeu. No meio da descida ela esteve muito próxima do pódio, porém no final ainda teve que se segurar para não cair, se esforçou para terminar com o 4º melhor tempo.
Após um ótimo desempenho na fase de classificação – com o melhor tempo na descida qualificatória e o segundo lugar na semifinal, Myrian Nicole entrou na pista dando o máximo, com isso na primeira parcial estava a 5 décimos de Seagrave, com o terceiro melhor tempo e sinalizando que tinha muita velocidade. Porém ao chegar no segundo controle, mostrou-se esgotada, perdendo mais de 1 segundo para Seagrave. No rock garden optou por um bom traçado, mas faltava energia, e na terceira intermediária ela rodava com o 4º tempo, sem conseguir melhorar até a chegada.
Tahnée Seagrave mal conseguia acreditar, vibrou muito no dia do seu aniversário pois estava de volta ao topo do pódio pela primeira vez desde Les Gets em 2021, e comentou: “Não pensei que fosse possível hoje. Eu estava muito atrasada ontem (12ª na semifinal). Eu tinha muito trabalho a fazer e fazia muito tempo que não revertia algo dessa maneira. Acho que hoje vimos Tahnée que costumava correr assim. Estou feliz”.
Com o resultado ela se mantém na segunda posição na Classificação Geral, a 229 pontos da líder, Valentina Höll . Marine Cabirou está em terceiro lugar, apenas nove pontos atrás de Seagrave.
PIERRON SUPERA A BLACK SNAKE E DÁ A VOLTA POR CIMA
“Acho que hoje pode ser o dia de Amaury”, disse Reece Wilson antes da final masculina da Copa do Mundo de Downhill em Val di Sole, do piloto francês que fez o melhor tempo na semifinal e seria o último, dos 32 melhores, a descer pela Black Snake, de Val di Sole.
Outro francês abriu as disputas. Antoine Vidal que recentemente trocou o Enduro pelo Downhill, foi o primeiro a descer fazendo uma descida solta e corajosa. Um erro no trecho final custou-lhe o que de outra forma seria uma corrida limpa. Ele cruzou a linha de chegada para estabelecer o primeiro tempo mais rápido de 4m04 – sete segundos mais lento do que conseguiu na semifinal.
Greg Minnaar, o campeão mundial em 2021 que havia sofrido uma queda em Fort William e que em Leogang não passou da semifinal, estava rodando bem, quase no mesmo nível de Vidal, mas ainda longe do seu melhor desempenho, mesmo assim melhorou a marca em seis segundos.
Ainda faltavam muitos pilotos e os tempos começavam a melhorar pouco a pouco. Quinto homem a encarar a Black Snake, o canadense de 19 anos Bodhi Kunh sofreu a primeira queda do dia, ao ser ejetado da bicicleta quando atravessava a floresta no segundo setor; sem maiores consequências ele conseguiu retomar a descida para completar a descida.
Com grandes nomes da modalidade, vindos de uma semi-final ruim, a possibilidade de um desempenho surpreendente poderia acontecer muito antes da entrada na pista dos pilotos com os 10 melhores tempos.
Thibaut Daprela foi um desses que tentou surpreender, fazendo uma boa leitura da pista, para assumir momentaneamente a liderança. Pouco depois foi a vez de Danny Hart, duas vezes campeão mundial (Champéry’2011 e Val di Sole’2016) atacar com determinação a descida e superar por 22 décimos a marca do francês.
O atual campeão mundial, Charlie Hatton, que conseguiu um resultado melhor do que um 7º lugar em Val di Sole, cometeu alguns no topo da pista, mas nada que o colocasse completamente fora de disputa, porém não foi veloz o suficiente para incomodar a marca de Hart.
O percurso estava começando a ficar escorregadio com a mudança do tempo, com as chegadas das nuvens e um pouco de umidade enquanto Dylan Maples iniciou sua descida encontrando melhor aderência na seção intermediária do que muitos dos pilotos antes dele – apesar de um segundo e meio abaixo na primeira parte, na terceira intermediária ele estava 0,7s acima. No último trecho se recompôs, superando a marca de Hart em 1,2 segundos, sendo a partir daquele momento a referência a ser superada.
Dakotah Norton, 19º largar fez uma entrada furiosa na pista, e no primeiro setor conseguia baixar o tempo em quase 2,5 segundos. Ele optou por linhas que ninguém mais havia ousado, unindo tudo para construir esse começo forte. Norton derrapou curva final, alcançando a linha de chegada com 6 segundos de vantagem , marcando 3m43s9. Um tempo que ninguém havia conseguido na semifinal e o primeiro a se colocar com chance de um lugar no pódio.
“Eu estava muito nervoso ao subir e sabia que seria muito escorregadio e fácil ultrapassar o limite”, disse Norton enquanto observava a descida dos outros 13 pilotos.
Líder da Copa do Mundo, vencedor em Fort William e Leogang, Loïc Bruni que vinha de uma ótima qualificação com o melhor tempo e uma queda na semifinal foi o 21º a largar, uma posição não muito comum para ele e que também se refletiu no desempenho, pois ele não conseguiu encaixar o seu melhor estilo, terminando sua descida 3,3 segundos atrás de Norton.
Quando o francês Simon Chapelet , o primeiro a encarar a descida entre os pilotos com os 10 melhores tempos, a visibilidade da pista pista foi severamente reduzida e isso repercutiu no desempenho, sem conseguir repetir o desempenho que teve na semifinal.
Oisin O’Callaghan, 4º colocado na etapa anterior, parecia calmo enquanto descia a montanha, e entrando sem erros no trecho de troncos e raizes. Ele ganhou velocidade à medida que avançou pelo percurso, mas exagerou um pouco e foi obrigado a se recolocar para não perder o controle , sem conseguir chegar perto do tempo de Norton, ao menos uma vez mais conseguiu terminar entre os 10 melhores.
Antepenúltimo a descer, Troy Brosnan já tem afinidade com a pista de Val di Sole e com o pódio deste lugar, isso lhe deu a segurança para largar forçando o ritmo. Na primeira intermediaria, estava a 2 décimos de Norton, na segunda parcial estava a menos de um segundo quando quase perdeu o controle da dianteira de sua bicicleta. Continuo forçando e sem cometer erros ao abordar curvas e obstáculos ele finalizou a prova a 1,7 segundos de Norton, fazendo o segundo melhor tempo.
Finn Iles, segundo colocado em Leogang, mostrava uma tranquilidade quase absurda momentos antes da largada e isso se refletiu na descida, sendo o único piloto a ser mais rápido que Norton na primeira parte, 0,6 segundos à frente, mas perdeu um pouco de velocidade no segundo setor. Superou bem os trechos mais escorregadios do percurso e ainda estava – apenas – na metade do caminho. Quando estava conseguindo melhorar ainda mais o seu tempo, mas um escorregão lhe custou quase 1,5 segundo e a necessidade de retomar com ainda mais força para tentar encurtar a diferença, mas apesar do esforço, não conseguiu superar a marca de Norton.
Mais rápido na semifinal e com o direito de ser o último a descer Amaury Pierron era o único que poderia destronar a Norton. Após quebrar a vertebra C5 da coluna na etapa de Lenzerheide em 2023, ele estava aproveitando ao máximo cada momento ao fazer uma largada limpa e confiante que na primeira intermediária ele já baixava a marca do estadunidense em 1 segundo. No segundo setor, com uma pilotagem perfeita era 2,7 segundos mais rápido, mostrando que estava disposto a arriscar tudo para ganhar. Pierron baixou mais um segundo no terceiro setor, fazendo o melhor traçado sem perder velocidade.
Ao final dos 2.261 metros de descida ele cruzou a linha baixando o tempo de Norton em 4,9 segundos, cravando 3m39s004.
Sem acreditar na façanha e emocionado, Pierron comentou: “É uma loucura. Esta semana marca um ano desde a cirurgia no meu pescoço quebrado. Passei por tanta coisa este ano. Foi muito ruim, mas nunca desisti, continuei sonhando… Ganhar uma Copa do Mundo na pista mais difícil é uma loucura… Essa pista era super técnica – não foi a todo gás, foi mais uma corrida inteligente com boas linhas. Foi muito difícil mental e fisicamente. Eu não poderia estar mais feliz.”
Na classificação geral, após a 4ª etapa da Copa do Mundo, Löic Bruni mantém a liderança com 1223, seguido por Finn Iles com 947. Com o 4º lugar e uma boa pontuação na fase de classificação, Troy Brosnan assume o 3º lugar com 873 pontos.
Os irmãos Vieira não passaram da fase semifinal. O campeão brasileiro de 2023, Douglas começou bem e fez o 19º tempo na classificação, avançando para a semifinal; Roger foi o 58º e também avançou para a semifinal. Na semi – Roger sofreu uma queda e terminou em 53º e Douglas foi 45º, onde apenas os 32 melhores tempos avançam para a final.
Whoop UCI MTB World Series – Copa do Mundo de Mountain Bike Downhill – Val di Sole – Itália – 4ª etapa
Elite Feminina – Descida 2.261 m – final 12 pilotos de 9 países
🥇- Tahnée Seagrave 🇬🇧 – Canyon CLLCTV FMD – 4m31s471 – vel. média 29.983 km/h
🥈- Marine Cabirou 🇫🇷 – Scott Downhill Factory +0s320
🥉- Monika Hrastnik 🇸🇮 – Dorval AM Commencal +0s941
4- Myriam Nicole 🇫🇷 – Commencal /Muc-Off by Riding +3s956
5- Valentina Höll 🇦🇹– YT MOB +6s721
Elite Masculina – Descida 2.261 m – final 32 pilotos de 11 países
🥇- Amaury Pierron 🇫🇷 – Commencal /Muc-Off by Riding – 3m39s004 – vel. média 37.166 km/h
🥈- Dakota Norton 🇺🇸 – Mondraker Factory Racing +4s893
🥉- Finn lles 🇨🇦– Specialized Gravity +5s880
4- Troy Brosnan 🇦🇹 – Canyon CLLCTV FMD +6s631
5- Loïc Bruni 🇫🇷 – Specialized Gravity +8s236
45- Douglas Vieira 🇧🇷 – semi-final
53- Roger Vieira 🇧🇷 – semi-final