De alma e coração italianos a Bianchi é uma das grandes marcas a fazer o movimento de trazer de volta para casa a sua produção de bicicletas. Para isso fará um investimento de 40 milhões de euros, aumentando sua produção a partir de agosto do próximo ano para 1000 a 1500 quadros por dia e o projeto de uma nova fábrica para produzir todos os quadros na Itália, inclusive os de carbono, além desse movimento, a holding independente que controla a marca também está de regresso às suas origens
A pandemia só acelerou um processo que vinha sendo notado por quem acompanha a indústria da bicicleta pelo mundo com muitas marcas levando de volta para a Europa suas linhas de produção e montagem de bicicletas, tema que abordamos em matéria de fevereiro de 2017 onde apontávamos que Portugal estava caminhando para ser um polo produtor de quadros e componentes ao implantar seu ‘Bike Valley’, e hoje o pais é líder na fabricação de quadros de alumínio.
Esse movimento ganha mais força com a explosão no custo dos fretes marítimos que encareceu e muito a produção na Ásia, adicione a tudo isso o recuo de alguns investimentos chineses após a guerra comercial com os Estados Unidos, o que obrigou muito fabricante daquele país a realocar sua produção em outros países asiáticos.
Essa realocação entre asiáticos trouxe um outro problema, se havia certa flexibilidade para aceitar esses novos países por parte de um grande comprador, esses ‘novos’ fabricantes não garantiam a mesma qualidade e flexibilidade. Além de dificuldade logística, aumento de custos e um tempo maior para expedição, em alguns casos os defeitos e erros na produção também acenderam o alerta.
Sinônimo de qualidade e marca icônica – principalmente fora da Itália quando o assunto é bicicleta de estrada, isso desde os tempos de Fausto Coppi , a Bianchi é mais um grande fabricante que busca sua volta para casa.
BIANCHI RETORNARÁ COM TODA SUA PRODUÇÃO PARA A ITÁLIA
Atualmente é exportada para mais de 60 países e conta com 20 filiais espalhadas pelo mundo, mas poucos fazem ideia, que a marca Bianchi já faz algum tempo não é oficialmente italiana – (pertence ao grupo sueco Cycle Europe – Grimaldi Industri Group dono de 13 grandes marcas europeias) porém nunca negou suas origens – é sueca, mas seu dono, Salvatore Grimaldi é italiano – além disso a Bianchi Holding tem a autonomia de uma holding independente e até o final do ano se juntará sua sede operacional em Treviglio, no município de Bassa Bergamasca, onde a fábrica italiana está há meio século.
A marca italiana vive um bom momento, e isso vem antes mesmo da explosão de vendas de bicicletas provocado pela pandemia. Se para muitos brasileiros ela é lembrada pelas estradeiras, ela atualmente aposta pesado em sua bicicleta elétrica e-Omnia que tem como garoto propaganda o ex-piloto de F1 Nico Rosberg e foi pensada para o mercado alemão, mas que se tornou sucesso de vendas na Itália.
O crescimento nas vendas foi exponencial nos últimos anos, saltando dos 50 milhões em 2018 para € 75 milhões no ano da pandemia. Em recente entrevista ao jornal ‘Il Sole 24 ore’, Fabrizio Scalzotto, CEO da Bianchi declarou: “Para 2021 estamos em torno de 120 milhões e para o próximo ano temos um faturaento estimado em 200 milhões”, além disto tem um grande volume de pedidos em carteira que se estendem até 2023. “Até pouco tempo as vendas eram de 8 a 12 meses, com o atual momento chegamos aos 18-20 meses”, quase dois anos para a entrega de uma bicicleta, uma realidade que também se estende para outras marcas .
Se a pandemia trouxe um aumento na produção, ela também mostrou a necessidade de muitas empresas buscarem uma certa independência dos fabricantes de quadros asiáticos , e Scalzoto deixa isso claro: “Nunca como neste momento Europa teve a grande oportunidade de trazer a produção e tecnologia de bicicletas de volta para casa”, e a fabricante italiana não quer perder mais tempo no resgate dessa ‘italianidade’ em um momento de alta onde a empresa mais que dobrou seu faturamento nos últimos três anos, e já com ambição de quadriplicá-lo; mas como todas as marcas enfrentando uma grande dificuldade operacional provocado pelo gargalo das compras de componentes em escala global.
Resgatando um pouco da história da indústria da bicicleta, Scalzoto volta ao final dos anos de 1980 para explicar as decisões atuais da empresa: “éramos líderes mundiais com os quadros de alumínio que o mundo inteiro invejava e marcas bem enraizadas na estrutura industrial do país. Os quadros de carbono nunca se enraizaram na Itália, todos vêm da Ásia, assim como a maior parte dos componentes, o que nos leva a uma dependência do exterior que não é mais sustentável: com tempos de pedidos que agora variam entre 500 e 700 dias, é o momento certo para recuperar a liderança também em tecnologia que poderia estar ao alcance ”.
MUDANÇA ‘É AGORA OU NUNCA’
O CEO da Bianchi é taxativo: “é agora ou nunca”, e para não perder a oportunidade o plano de ação prevê um investimento de quase 40 milhões de euros (R$ 240 milhões) todo direcionado para a a indústria na Itália.
A primeira fase desse investimento, estimando em 30 milhões de euros, é direcionado para uma nova planta de 10 mil metros quadrados, onde segundo a marca será possível quadruplicar a produção das atuais 250-300 bicicletas por dia para 1.000-1.500 com uma produção robotizada e assimilando as linha de montagem de bicicletas elétricas à das bicicletas tradicionais.
Além da nova planta, a empresa contratará 100 novos colaboradores, aumentando seu quadro dos atuais 180 para cerca de 300. A estimativa e que essa fase já esteja operando dentro de aproximadamente um ano, mais precisamente em agosto de 2022.
Mas essa primeira parte e não envolve a produção de quadros em fibra de carbono na Itália, isto faz parte de uma segunda etapa que exige o investimento de 10 milhões de euros. Para isso a Bianchi já tem um acordo com um fabricante de robôs para a montagem de uma linha de produção a vácuo das várias camadas de carbono para a construção dos quadros em um espaço de aproximadamente 6 mil m2. A produção não se limitará a quadros, mas também rodas, guidões e outros componentes em carbono.
A fábrica de quadros em fibra de carbono exigirá um tempo maior para sua implantação “pelo menos 24 meses, tendo em conta a complexidade do projeto. A maior dificuldade atualmente é encontrar as habilidades e a mão-de-obra qualificada” explica Scalzoto que destaca que além de gerar novos postos de trabalho será preciso investir em treinamento.