AGENTE DE GILBERT REVELA: A UCI SABIA DOS MOTORES DESDE 2010

A UCI SABE DOS MOTORES DESDE 2010

AGENTE DE PHILIPPE GILBERT ESCANCARA A REALIDADE

Vincent Wathelet é produtor de provas de ciclismo para a televisão, também trabalha como agente de alguns ciclistas, destacando-se Philippe Gilbert , Arnaud Démare e Boris Vallée . Há vários anos ele vem tentando denunciar a utilização do doping tecnológico no pelotão profissional e garante que há algum tempo vem fornecendo informações sobre os motorzinhos a dirigentes do esporte

Bicicleta de Alberto Contador no Giro d'Italia 2015 - foto: reprodução tv

Bicicleta de Alberto Contador passando por um controle no Giro d’Italia 2015 – foto: reprodução tevê

 

Em entrevista à rede de comunicação belga RTBF, Vincent Wathelet não economizou ao declarar que há anos vem tentando denunciar a utilização dos motorzinhos nas bicicletas e para tanto aponta diretamente ao, agora famoso, ex-ciclista e engenheiro húngaro Stefano Varjas: “Ele abordou  um dos ciclistas de quem sou muito próximo, dizendo que ele tinha perdido muitas corridas para  concorrentes que usaram bicicletas elétricas. O que vemos na matéria ele já tinha mostrado a ele há três anos atrás”.

Com o contato aberto com Varjas o empresário belga, radicado em Mônaco, foi atrás da novidade: “Então eu, entrei em contato com o engenheiro. Pedi algumas explicações. Eu pedi para que equipasse uma bicicleta com todas estas coisas proibidas, a fim de demonstrar à UCI que elas existem e que são utilizados”. Os motorzinhos, segundo Wathelet já faziam parte do cenário em corridas de categorias inferiores e também dos profissionais: “Fala-se muito em 2010 (ndr.: as já tão comentadas vitórias de Cancellara no Tour de Flandres e na Paris>Roubaix) mas eu mesmo tenho as provas que está no pelotão há muito mais tempo do que isso”.  O caso de Femke van den Driesssche durante o mundial de ciclocross só veio à tona porque utilizaram um motor de primeira geração,  com a bateria escondida em uma das caramanholas, hoje tecnologia de amadores e que atualmente não apareceria num pelotão profissional.

A evolução dos motores agora eles são instalados na parte traseira da bicicleta - reprodução tevê

A evolução dos motores agora eles são instalados na parte traseira da bicicleta – foto: reprodução tevê

Por várias vezes, Whatelet tentou alertar a UCI do que vem acontecendo nas provas de ciclismo e ciclo-cross. “Eu fiz observações à UCI sobre a Copa do Mundo de ciclo-cross que eu produzo para a televisão.  Apresentei alguns relatórios ao presidente da Federação de Mônaco de Ciclismo, Umberto Langellotti , e ele me apoia 100% nisso, já que tenho um dossiê. E ele fez um relatório para levar ás assembleias da UCI”, a ação provocou algumas mudanças na regras, se antes uma ajuda mecânica ou elétrica pagava apenas uma multa de 100 francos suíços. “Felizmente, em 2014, o regulamento da UCI evoluiu. Mas é claro que após a chegada dos câmbios eletrônicos no ciclismo, isso facilitou e muito a trapaça uma vez que já existe uma bateria. Alguns engenheiros com muita sofisticação desenvolveram este produto, no início não era para o ciclismo, mas para ser usado em outros esportes”.

Ao ser questionado do porque da utilização dos motores não ter sido revelada há tempos desabafou: “Eu fiquei chocado. Eu reclamei várias vezes aos dirigentes. Eu disse que os controles eram insuficientes, que o scanner da UCI era um brinquedo que não permitia um controle eficaz. Lembram-se dos scanner que vimos em 2011 e 2012, eles não tinham capacidade de ver fontes de calou ou energia; câmeras de imagem térmica são a única maneira de demonstrar que alguma coisa está entregando uma energia além dos pedais”.

Segundo a entrevista à rede belga, hoje estamos em uma terceira geração dos motores, coisa para poucos com custos que oscilam entre 50 mil e 200 mil euros e muita sofisticação, pois são originários da indústria aeroespacial, aonde são utilizados para abrir as persianas de satélites que estão em órbita. “Você pode imaginar como esses motores são duráveis e poderosos, isso também significa que este tipo de material não é facilmente detectável por um simples scanner”.

Confirmando outros comentários que circulam no meio, Wathelet confirma que estes novos equipamentos funcionam interligados a frequencímetros  e quando o ciclista atinge um certo batimento cardíaco o motor pode ser acionado. “Geralmente é utilizado com o limite de 160 batimentos quando é possível fazer a recuperação com o motor compensando o esforço.  Como tudo é miniaturizado, é muito difícil de detectar”.

Eletro-imãs acionados por baterias fazem girar a roda "envenenada" reprodução tevê

Eletro-imãs acionados por baterias fazem girar a roda “envenenada” e gerar de 60 a 200 watts –  foto: reprodução tevê

Quando o assunto é a utilização das novas rodas, o manager de Gilbert e Démare levanta suspeitas sobre um procedimento que ele acha um tanto estranho: “No último Tour de France fiquei chocado ao descobrir que algumas equipes, importantes, mal o ciclista cruzava a linha de chegada pegavam a  bicicleta, tiravam a roda e a colocavam no rolo daqueles sem roda….”; talvez este senhor esteja sendo extremamente purista ou indo aos extremos do alarmismo, mas se essas rodas “envenenadas” com imãs de acionamento eletro-magnético estão rodando no pelotão, o melhor jeito de faze-las desaparecer rapidamente é esse: tira a roda traseira, coloque a bicicleta no home-trainer e bota lá o ciclista para rodar.

Praticamente é um consenso de quem critica o doping tecnológico que este é ainda pior que o doping a base de drogas medicinais: “Eu não aprovo o doping médico, é errado, e felizmente aos poucos está sendo estrangulado, mas o doping mecânico é muito mais chocante pois estamos tratando da trapaça em sua forma mais pura. É ainda mais grave. Ciclistas chamados de ‘saudáveis’ trapaceiam usando materiais proibidos e o fazem de forma consciente”, sabendo também que os materiais utilizados são também de difícil detecção”.

Com essa declaração volta-se mais uma vez ao tema da “Omertá” com o tradicional “não vi”, “não sei de nada”, “isso é absurdo”, discursos que anos atrás levaram o ciclismo ao seu momento mais sujo, e que hoje pode estar se repetindo com autoridades já sabendo dos problemas,  ainda buscando tecnologia para detecção e dizendo que estão trabalhando a fundo… mas os casos  estão aí, vindo à tona através dos meios de comunicação.

O combate ao doping tecnológico, tampouco é simples, serão necessários novos acordos entre os países,  segundo o entrevistado “Precisamos de cartas rogatórias para desmontar as bicicletas. Não é muito fácil a partir de um ponto de vista jurídico”.

Para a detecção dos trapaceiros, Wathelet  aponta para um caminho sinalizado por Antoine Vayer, o ex-treinador da Festina que se converteu em um dos mais combativos na luta contra o doping e as trapaças no esporte: “Temos que olhar o desempenho e também os parâmetros físicos. Quando você encontrar um ritmo de pedalada incrível em uma ladeira em alta altitude com baixa pulsação do coração, na minha opinião, é evidente que há trapaça. Esta é uma regra de três: … o batimento cardíaco, o ritmo da pedalada e inclinação.  Mas como eu disse, isso não é suficiente, devemos neste caso, ter algum dispositivo legal para a apreensão ao da bicicleta, das bicicletas reservas e que não se dê possibilidade ao mecânico de se aproximar dessas bicicletas”, além disso direciona também seus comentários para as trocas de bicicletas durante as provas, questão que deveria ser revista, deixando apenas as trocas para quando houver um grave problema mecânicos, apontando que as mudanças continuas durante uma corrida pode levar ao pensamento de que estamos lidando com uma trapaça.

A nova versão miniaturizada, dos motorzinhos reprodução tevê

A nova versão miniaturizada, dos motorzinhos podem ser instalados para descarregar potência no movimento central ou no cubo traseiro -foto: reprodução tevê

Questiona-se na matéria da RTBF, como após a apresentação da denuncia  do programa Stade2 e no Corrieri della Sera ainda não tenha aparecido algum comentário mais firme de Tom Van Damme, presidente da RLVB (Real Associação Belga de Ciclismo) e presidente da comissão de estrada da UCI. ”Eu sinto muito, isso é muito ruim. Seria seu papel como presidente da comissão de estrada tomar uma posição sobre isso. Espero que em todo caso esta matéria faça as pessoas pensarem sobre os trapaceiros e quais serão  os meios para lutar de forma eficaz. Quando você vê que em 2010 alguns ciclistas muito famosos levaram suas bicicletas ao seu quarto de hotel e dormiram ao lado, você pode fazer muitas perguntas porque não é nem a finalidade nem a prática em nossa profissão”, ao menos nestes tempos modernos aonde as equipes procuram aliviar toda pressão sobre o ciclista com mecânicos e soigners.

Mais uma vez o esporte se encontra naquela zona nebulosa entre o silêncio do pelotão, os anúncios do a UCI de que está trabalhando e da CPA – Associação de Ciclistas Profissionais, presidida pelo ex-profissional Gianni Bugno que exige uma atitude mais enérgica após a apresentação da matéria pelo canal francês e pelo jornal italiano.

A Associação dos Profissionais pediu à UCI que sejam impostas sanções exemplares e graves, tais como a suspensão por a toda a vida para os ciclistas que cometeram tais infracções, por acreditar que injustamente mancham o ciclismo honesto da maioria. Indo além, a ACP promete processar os ciclistas e todos o envolvidos na trapaça, afinal é impossível que isto ocorra sem a cumplicidade de mais pessoas da equipe.

 

2 comentário em AGENTE DE GILBERT REVELA: A UCI SABIA DOS MOTORES DESDE 2010

  1. VILEY PRAXEDES disse:

    Não consegui assistir à matéria.
    Mas pelo que vi, foram identificadas várias bicicletas com a câmera de calor.
    O que aconteceu com esses ciclistas identificados na Strade Bianchi?

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