Estudo realizado em sete cidades europeias, e publicado no final do ano passado, destaca o papel do transporte ativo na boa saúde mental e na autopercepção da saúde – A bicicleta é a chave para viver bem
Como os meios de transporte influenciam a saúde das pessoas? Um novo estudo conduzido pelo Instituto para a Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), um centro apoiado pela Fundação Bancária La Caixa, concluiu que a bicicleta é modal associado aos maiores benefícios para a saúde, o ciclismo usado nos deslocamentos melhora autopercepção da saúde geral, melhora saúde mental e produz um menor sentimento de solidão.
O estudo faz parte do projeto PASTA (Physical Activity Through Sustainable Transport Approaches – ou Atividade Física Através de Abordagens de Transporte Sustentável), financiado pela União Europeia e realizado em sete cidades do continente: Antuérpia, na Bélgica; Barcelona, na Espanha; Londres, na Inglaterra; Örebro na Suécia; Roma, na Itália; Viena, na Áustria e Zurique, na Suíça. Para levar adiante o trabalho, foi elaborado um questionário respondido por mais de 8.800 pessoas, dessas, 3.567 completaram uma pesquisa mais extensa sobre a relação transporte e saúde que incluiu perguntas sobre quais os meios de transporte utilizados, com que frequência usavam os meios de transporte e qual a percepção geral da saúde dos usuários. Os participantes da pesquisa tinham 18 anos de idade ou mais (sendo que em Zurique a pesquisa foi realizada com maiores de 16 anos) que residiam, trabalhavam ou estudavam em uma das cidades aonde foi feito o trabalho.
A pesquisa tem uma seção dedicada à saúde mental e se concentrou nas quatro principais dimensões da saúde mental (ansiedade, depressão, perda de controle emocional e bem-estar psicológico), vitalidade (nível de energia e fadiga) e estresse percebido. A pesquisa também abordou as relações sociais dos participantes, incluindo questões sobre solidão e contato com amigos e/ou familiares.
Os meios de transporte avaliados no estudo foram carro, moto, transporte coletivo, bicicleta, e-bike (bicicleta elétrica) e caminhada . Os efeitos desses meios de transporte foram analisados usando modelos de modo único e múltiplo.
Os resultados foram publicados recentemente no Environmet International e mostram que a utilização da bicicleta produziu os melhores resultados em todas as análises. O fato de pedalar foi associado a uma melhor autopercepção da saúde geral, uma melhor saúde mental, maior vitalidade, e uma menor autopercepção do estresse e menor sentimento de solidão. O segundo modo de transporte mais benéfico, a caminhada, sendo associada à boa autopercepção da saúde geral, maior vitalidade e maior contato com amigos e / ou familiares.
“Estudos anteriores analisaram os modos de transporte isoladamente ou compararam vários meios de transporte uns aos outros”, comentou Ione Ávila Palencia, pesquisadora do ISGlobal e principal autora do estudo. “O nosso é o primeiro estudo a associar o uso de múltiplos meios de transporte urbano a efeitos na saúde, como saúde mental e contato social”. “Essa abordagem nos permitiu analisar os efeitos de maneira mais realista, já que os moradores de hoje tendem a usar mais de um meio de transporte “, acrescentou e apontou “Também nos permitiu destacar o efeito positivo da caminhada que em estudos anteriores não foi muito conclusivo”.
As conclusões do estudo sobre os demais modais, além da bicicleta e da caminhada, não foram inteiramente conclusivas. “Dirigir um veículo ou a utilização do transporte público foi associado à autopercepção da saúde geral quando os meios de transporte foram analisados separadamente , mas esse efeito desapareceu nas análises de modo múltiplo”, comentou Ávila Palencia. Os carros também foram associados a um menor sentimento de solidão em todas as análises. “Este resultado é provavelmente devido ao fato de que a população do estudo dirigiu muito raramente e a maioria das viagens de carro foram provavelmente para fins sociais , como visitar um membro da família ou um amigo”, explicou a pesquisadora.
“As descobertas foram semelhantes em todas as cidades que estudamos. Isso sugere que o transporte ativo – especialmente o uso da bicicleta – deve ser incentivado para melhorar a saúde e aumentar a interação social ”, comentou Ávila Palencia. Ela acrescentou que a porcentagem de pessoas que andam de bicicleta “permanece baixa em todas as cidades europeias, exceto em países como Holanda e Dinamarca, o que significa que há muito espaço para aumentar o uso das bicicletas”.
Mark Nieuwenhuijsen, coordenador do estudo e diretor da Iniciativa de Planejamento Urbano, Meio Ambiente e Saúde, da IS Global, comentou “O transporte não é apenas uma questão de mobilidade; também tem a ver com a saúde pública e o bem-estar da população”. As descobertas do estudo mostram que “ uma abordagem integrada do planejamento urbano, planejamento de transportes e saúde pública é necessária para desenvolver políticas que promovam o transporte ativo, como a implantação de mais ciclovias segregadas em Barcelona , que estão transformando a cidade em um ambiente melhor para os ciclistas”.
Em outros estudos realizados como parte do Projeto PASTA também destacam os benefícios da utilização da bicicleta. Um estudo descobriu que os ciclistas têm um índice de massa corporal menor do que pessoas que não pedalam e outro sugere que até 10.0000 mortes poderiam ser evitadas através da expansão das redes cicloviárias nas cidades europeias.
Fonte: Polis – Cidades e Regiões para Inovação no Transporte