Segundo informações dos jornais franceses Ouest-France e Sud-Ouest, a ASO, organizadora do Tour de France está disposta a transmitir para a tevê as conversas de rádio entre os diretores esportivos e os ciclistas durante a próxima edição da grande volta. Nem todas as equipes aceitaram o acordo e outra questão merece ser discutida: 5 mil euros oferecidos pelo ‘conteúdo’ subvalorizam o produto
Em busca de oferecer mais conteúdo a ASO – Amaury Sport Organisation – organizadora do Tour de France vai atrás daquilo que a Fórmula 1 já oferece há alguns anos: as conversas entre diretores e pilotos.
No ciclismo as conversas entre diretores esportivos e ciclistas acontecem via rádio e com fones de ouvido com microfone – onde táticas de corrida, indicações de obstáculos na estrada, quedas, posicionamento, necessidade de alimentação e outros detalhes circulam nessa comunicação de duas vias já faz alguns anos, porém essas conversas sempre foram confidenciais e algumas só se tornaram públicas com os recentes documentários ‘El dia Menos Pensado’ (Cada dia uma surpresa) e o recente ‘Tour de France – Unchained’ (No Coração do Pelotão) ou uma ou outra postagem em mídias sociais.
Como na F1
A ideia da ASO é gravar essa comunicação e transmiti-la “semi-ao vivo”, com algum atraso, como é feito na Fórmula 1, por exemplo. Um moderador da geradora de imagens e da organização será responsável por “filtrar” o que pode ser transmitido para o grande público e o que não é.
A proposta da ASO foi aceita por uma grande maioria das equipes, mas há gente contrária a esse movimento. O diretor da Groupama-FDJ, Marc Madiot, não é favorável às transmissões, e comentou “Você imagina que vamos revelar nossas movimentações na tevê? Dá para imaginar uma câmera filmando um técnico de futebol no intervalo dando suas instruções aos jogadores?”.
Em posição favorável, Jean-René Bernaudeau, diretor geral da TotalEnergies, disse: “Não temos nada a esconder, então tudo bem para nós”. Benoît Génauzeau, diretor esportivo da TotalEnergies comentou: “Faz parte da evolução do nosso esporte, e tanto quanto para não desacelerar esse tipo de evolução. Não acho que vá revelar nenhum segredo, acredito que haverá um filtro”.
A ideia não é nenhuma novidade no ciclismo, a própria ASO testou o produto durante a edição feminina do Tour de France. A organizadora da Flanders Classics da Bélgica já disponibiliza essa comunicação no Tour de Flandres e na Ghent-Wevelgem.
Cada equipe leva €5 mil pelo ‘conteúdo’
O jornais franceses destacam que o acordo com cada equipe por ter acesso à comunicação é de 5 mil euros – ou pouco mais de 26 mil reais . E é nesse valor que a discussão deveria ser orientada – é pouco dinheiro por um conteúdo riquíssimo e que levará diálogos de personagens como o já conhecido diretor esportivo da Movistar, graças ao documentário da Netflix, Chente Garcia Acosta ou o emotivo Marc Madiot que não aceitou o acordo.
O ciclismo profissional em seu degrau mais alto, mais uma vez mostra que os valores de seus prêmios e agora por conteúdo estão subvalorizados apesar do crescente interesse e da maior exposição.