MUNDIAL DE MTB XCO: 9X N1NO SCHURTER

O Mundial Mountain Bike Cross Country da categoria Elite em Val di Sole mostrou momentos bem diferentes de dois grandes ídolos da modalidade. No feminino a derrocada de Pauline Ferrand-Prevot que se arriscou ao forçar o ritmo na primeira volta do duro traçado italiano, pagou com o cansaço e não resistiu ao ritmo de Evie Richards; no masculino o ressurgimento de Nino Schurter que aos 35 anos conquistou seu 9º título mundial de XCO quando muitos já o colocavam com um pé na aposentadoria

Aos 35 anos a conquista do 9 campeonato Mundial de XCO de Nino Schurter – foto: Bartek Wolinski/Red Bull Contet Pool

A primeira grande competição após os Jogos Olímpicos de Tóquio, foi simplesmente a mais importante da temporada:  o Campeonato Mundial de XCO. A corrida que entrega a camisa arco-íris que o vencedor carregará já na próxima competição por mais um ano e que atrairá por esse período as atenções de todos. 

Neste ano, o mundial de cross country foi disputado pela segunda vez em Val di Sole, no Bikeland, uma estação de mountain bike localizada em Daolasa di Commezzadura, na  região do Trentino. Em um percurso de 4 km com  190 metros de elevação e extrema dificuldade com muitas trilhas apertadas, raízes e trecho complicados como a ‘Floresta do Urso’ o rock Garden batizado de ‘Rochas Dolomitas’ – um traçado seletivo e que por si só faz a seleção dos participantes.

Pauline Ferrand-Prevot arriscou tudo na primeira volta, e ficou fora do pódio – foto: Bartek Wolinski/Red Bull Contet Pool

Na prova da Elite feminina, após o estrondoso sucesso das suíças quando tomaram o pódio de Tóquio na prova de MTB XCO levando as três medalhas em disputa, também era aguardado a reedição do duelo da Copa do Mundo de 2019 quando a suíça Jolanda Neff travou uma longa disputa com a campeã mundial daquele ano, Pauline Ferrand-Prevot e onde francesa levou a melhor.

A volta de largada escancarou a tensão do grupo com a australiana Rebecca McConnell tomando a dianteira logo na primeira subida sendo seguira por Eva Lechner, Pauline Ferrand-Prevot, Kate Courtney, Evie Richards,  Jolanda Neff, Linda Indergand , as principais competidoras estavam agrupadas.

Evie Richards e Sina Frei no rock Garden das ‘Rochas Dolomitas’ – foto: Bartek Wolinski/Red Bull Contet Pool

Jolanda Neff assumiu a dianteira antes de se completar a volta de largada, feita no trecho curto do circuito, com 1.96 km e que serve para ‘espalhar’ e colocar as competidoras na corrida. Porém mal começava a primeira volta no circuito de 4 km, logo após a passagem do rock Garden e ao começar a primeira subida, Pauline Ferrand-Prevot apostou alto e atacou como se fosse definir ali a corrida.

Com o ataque Pauline tentava abrir a maior vantagem possível que chegou a superar os 30 segundos, porém a ação antecipada da francesa custou caro, e praticamente a  partir do mesmo ponto onde ela havia assumido a liderança, na passagem da primeira intermediaria da segunda volta,  começou a sua derrocada, perdendo ritmo e já sentindo a aproximação de Evie Richards e de Sinai Frei e um pouco mais distantes a perseguição era comandada por Anne Teptra trazendo na roda a polonesa Maja Wloszczowska, Jolanda Neff e Rebecca McConnell.

Anne Terpstra segunda colocada no Mundial de XCO – foto: Bartek Wolinski/Red Bull Contet Pool

A britânica Evie, encostou na francesa ao final da segunda volta, chegaram a rodar juntas, mas a cadência da britânica era superior e Pauline não conseguia acompanhar o ritmo elevado de pedaladas imposto. Ao final da terceira volta Richards tinha uma vantagem de 38 segundos sobre a francesa, que dava sinais claros de que sua tática havia falhado acusando um grande desgaste.

No início da quarta volta Ferrand-Prevot  já tinha em sua roda a holandesa Anne Terpstra, as suíças Sina Frei e Jolanda Neff e a polonesa Maja Wloszczowska .  Terpstra não perdeu tempo e conseguiu se desligar do grupo e abrir uma vantagem de 44s e praticamente assegurando a medalha de prata, bastava manter o ritmo e não errar.

Pelotão feminino na volta de largada com Rebecca McConnel #2 e Pauline Ferrand-Prevot #1 á frente – foto: UCI

À frente com pouco mais de um minuto de vantagem Evie Richards rodava com fluidez e com a segurança de que estaria conquistando para a Grã Bretanha o primeiro ouro no cross country – na história da modalidade o país tinha apenas uma prata com Anne Last em Cairns’2017 e duas medalhas de bronze com Tim Gould – Durango’1990 e David Baker em Bromont’1992.

O grupo que lutava pela medalha de bronze estava formado por 4 competidoras: Pauline Ferrand-Prevot, Sina Frei , Jolanda Neff e a polonesa Wloszczowska que disputava seu último mundial, pois já havia declarado que estaria encerrando ali sua carreira.

Evie Richards construiu sua vitória volta a volta, assumiu a liderança na 2ª volta e gerenciando o ritmo abriu vantagem – foto: UCI

Ao começar a última volta estava claro que Ferrand-Prevot não teria forças para disputar a terceira posição, a francesa não tinha forças para acompanhar os ataques de Sina Frei nas subidas. Na segunda e última descida do circuito Sina forçou uma curva em uma passagem técnica, induzido a polonesa Maja ao erro, favorecendo com isso a Jolanda Neff, esse movimento deixou as duas suíças juntas para decidir no sprint a medalha de ouro, onde Frei  foi a mais forte conquistando a medalha de bronze, a sua segunda neste mundial, após ter vencido o XCC , deixando para trás a campeã olímpica.

Letícia Cândido representante brasileira em Val di Sole – Foto: Instagram / Marcelo Rypl

A brasileira Letícia Cândido em sua segunda participação em um Mundial terminou a prova na 55ª posição, com uma volta a menos que a vencedora.

A prova masculina começava com a ausência do campeão olímpico Thomas Pidckoc  que no ano passado havia conquistado o título na categoria sub23 e que trocou a disputa de mais uma camisa arco-íris para cumprir seu contrato com a equipe de ciclismo Ineos-Granadiers e disputar a Vuelta a España, onde no mesmo dia conseguiu seu melhor resultado um 4º lugar na 14ª etapa.  Outro ausente foi o holandês Mathieu van der Poel que ainda está sofrendo com as dores nas costas provocadas pela queda que sofreu na prova de XCO em Tóquio e que também o afastarão do Benelux Tour – prova por etapas que ele venceu no ano passado.

Largada da Elite masculina – foto: UCI

Mas o Mundial não se limita a esses dois grandes competidores, o grupo de 94 competidores que alinhou em Val di Sole tinha muita gente boa e facilmente 15 destes estariam lutando pelas três posições do pódio. 

Motivado pela medalha de prata obtida na prova de XCC na quinta-feira, Henrique Avancini deixou claro na largada que havia se reencontrado (e fazendo a torcida e a mídia esquecerem suas enigmáticas postagens no Instagram que induziram a vários a acreditar numa provável parada) impondo seu estilo de largar, buscando a frente do grupo e forçando o ritmo.

Avancini deu ritmo à prova, indo para a ponta volta de largada – foto: Bartek Wolinski/Red Bull Contet Pool

A acelerada de Avancini nos primeiros metros da volta de largada trouxe junto a Ondrej Cink que buscava a roda do brasileiro, dando claros sinais que a luta estava aberta. Atrás eram perseguidos por Victor Koretzky, Mathias Flueckiger, Nino Schurter, Jordan Sarrou, Filippo Colombo e Vlad Dascalu. Mas Cink conseguiu tomar a frente de Avancini na passagem do rock Garden.

Na primeira volta , pouco depois da segunda intermediária cronometrada, Henrique Avancini se enrosca num trecho de subida, cai perde algumas posições, mas consegue voltar rapidamente sem perder contato com  o grupo ponteiro, rodando na 5ª posição. Mas foi nesse momento que Nino Schurter aproveitou para acelerar e testar o grupo.

O grupo mantinha-se enfileirado, quando ao começar o trecho mais duro de  subida da segunda volta, Nino Schurter atacou;  seu compatriota Mathias Flueckiger aproveitou a oportunidade e seguiu a ação o que pode ser considera a ação que decidiu a corrida, pois aos poucos os dois começaram a aumentar o ritmo e se destacar dos perseguidores.

Ondrej Cink e Avancini – foto: Daniele Molineris/Val di Sole Bikeland

Ao final da terceira volta, a dupla suíça tinha 50 segundos de vantagem sobre o grupo que tinha à frente Koretrzky , Dascalu e Cink que tinham uma pequena margem sobre Avancini, o sul-africano Haterly , o alemão Brandl e o suíço  Colombo. Cink  arriscou e tentou ir à caça dos escapados e conseguiu se separa do grupo.

Os suíços rodavam à frente, trocando de posições em alguns trechos da pista, Flueckiger tentou na quinta volta, mas foi neutralizado. Enquanto isso , Cink rodava na terceira posição quando foi alcançado por Koretzky, a disputa estava ficando emocionante, porém o azar mais uma vez se tocou Cink que passou a ter problemas mecânicos, foi traído pelo câmbio de sua bicicleta e com isso saiu da disputa, deixando o caminho livre para Koretzky que tinha 18 segundos de vantagem sobre Avancini e 23 segundos de vantagem sobre o grupo onde estavam Avancini, Haterly, Dascalu e Samuel Gaze.

Flueckiger e Schurter abrem a última volta, a dupla vinha se estudando há quatro voltas restava saber se Schurter deixaria a decisão para o sprint ou se tentaria um ataque em algum trecho mais técnico. Fluekiger tentou forçar na subida, mas tinha Nino colado em sua roda, forçava nas descidas e Nino estava lá.

 No último rock Garden, Nino precisou segurar a bicicleta, pois errou a passagem sua roda traseira descolou quase emborcando, mas a experiência pesou, Nino controlou a bicicleta para, pouco depois, na penúltima curva do circuito encostar em Flueckiger e com precisão cirúrgica ultrapassá-lo tomando a dianteira e aumentando o ritmo de pedaladas para entrar na reta na primeira posição para assegurar a sua nova vitória em campeonatos mundiais (Camberra’2009, Leogang-Saafelden’2012, Pietermaritzburg’2013, Vallnord’2015, Nove Mesto’2016, Cains’2017, Lenzerheirde’2018, Mont Sainte-Anne’2019 e Val di Sole’2021).

Além de Avancini que cruzou na 7ª posição, o Brasil teve Luiz Henrique Cocuzzi em 44º, Ulan Galisnki em 49 e Guilherme Muller em 61 todos completando a prova dentro da volta do líder.

Nino mais uma vez entra para a história , se em 2009 em Camberra, aos 23 anos foi o mais novo mountain biker ao conquistar uma medalha de ouro, neste ano em Val di Sol se tornou, por questão de uns poucos meses o ciclista mais velho a vencer, superando Ned Overend, que foi o primeiro campeão do mundo em Durango 1990.

Nino Schurter – foto: Daniel Molineris/Val di Sole Bikeland

CAMPEONATO MUNDIAL DE MTB XCO – cross country

Elite Feminina –  1 volta de largada 1.96 km  + 5  voltas x 4 km – Distância Total: 21.96 km

1- Evie Richards – Grã Bretanha 1h23m52 – vel. média 15.711 Km/h

2- Anne Terpstra – Holanda +1m03s

3- Sina Frei – Suíça +1m08s

4- Jolanda Neff – Suíça +1m08s

5- Maja Wloszczowska – Polônia +1m47

55- Letícia Cândido – Brasil  -1 volta

Elite Masculina –  1 volta de largada 1.96 km  + 6  voltas x 4 km – Distância Total: 25.96 km

1- Nino Schurter – Suíça o 1h22m31s- vel. média 18.876 Km/h

2- Mathias Flueckiger – Suíça +2s

3- Victor Koretzky – França +1m08s

4- Vlad Dascalu – Rômenia +1m36s

5- Maximilian Brandl – Alemanha +1m43

7- Henrique Avancini – Brasil +2m30s

44- Luiz Henrique Cocuzzi – Brasil +7m29s

49- Ulan Galinski – Brasil +8m17s

61- Guilherme Muller – Brasil +10m16s

82- Edson de Rezende – Brasil -3 voltas Juliano Cocuzzi – DNS – não largou

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