Tour de France Feminino foi confirmado por Christian Prudhomme patrão do Tour de France, e será disputado em 2022, após a grande volta masculina. O futuro não está garantido e o evento só terá continuidade se não der prejuízos, dirigente questiona a igualdade de prêmios e diferenças técnicas de gênero afirmando que eventos para as mulheres não podem ter as mesmas dificuldades do pelotão masculino
Em recente entrevista ao jornal britânico The Guardian, Christian Prudhome confirmou a notícia que circulou no ano passado quando o presidente da UCI, David Lappartient declarou: “A ASO (Organizadora do Tour) me assegurou que eles estão prontos para organizar uma prova por etapas para mulheres na França. Se a prova vai se chamar Tour de France ainda não está claro, mas é um grande passo adiante no desenvolvimento do ciclismo feminino”, de fato agora a notícia se confirma.
Os detalhes sobre a nova versão do Tour de France Féminine, deverão ser divulgados no mês de outubro, muito provavelmente em conjunto ou sincronia com o lançamento do Tour masculino.
Evento terá de ser sustentável economicamente
Prudhomme foi direto em sua declaração ao jornal britânico “Vai acontecer no ano que vem, isso é certo. Teria acontecido este ano se não fosse pela pandemia Covid-19, obviamente, e acima de tudo se as Olimpíadas de Tóquio não fossem depois do Tour, pois as melhores ciclistas poderiam não estar disponíveis. Mas a decisão foi tomada. Haverá um Tour de France ‘femmes’ em 2022 logo após o Tour”.
Ainda sem uma definição de percurso ou até mesmo da quilometragem total, a ASO – Amaury Sport Organisation – pretende dar identidade própria à volta feminina “ligada ao passado e ao presente do Tour de France, e – Por que não? talvez o futuro também ”, comentou o diretor geral do Tour.
O Tour de France Feminino teve 6 edições, disputadas entre 1984 e 1989, foi nesta última que correu a ciclista brasileira, agora naturalizada francesa, Claudia Carceroni-Santaigne. Mas o ‘patrão do Tour’ deixa claro que para o futuro do Tour deve-se aprender com as lições do fracasso dos anos 1980.
Falta de equilíbrio econômico decretou fim do TdFFeminino ao fim dos anos 1980’s
O diretor da ASO vai direto a um ponto que certamente fere as ciclistas e desencadeara polêmicas – a igualdade de prêmios: “A meu ver, é preciso deixar de lado a ideia de paridade entre homens e mulheres. Por quê? Porque houve um motivo para aquela corrida durar apenas seis anos, e foi falta de equilíbrio econômico. O que queremos fazer é criar uma corrida que mantenha o seu rumo, que se estabeleça e resista ao teste do tempo. O que isso significa é que a corrida não pode perder dinheiro”.
Prudhomme se baseia nos balancetes e nos números em vermelho para dar tal afirmação, e acrescenta: “Hoje, todas as corridas femininas que organizamos nos fazem perder dinheiro. Mesmo assim, realizamos a Flèche Wallonne, Liège-Bastogne-Liège, La Course de Le Tour. Houve o Tour de Qatar Feminino e o Tour de Yorkshire, haverá Paris-Roubaix em outubro. Se der dinheiro, ótimo, mas não deve perder dinheiro ou vai acabar como o Tour dos anos 80 e vai morrer”.
De volta aos números e à tentativa de equilibro de contas, dá pistas do que pode acontecer com a nova versão do Tour Feminino: “Se esse equilíbrio tivesse sido alcançado, agora estaríamos em nosso 35º Tour feminino. O desafio é montar uma corrida que possa viver 100 anos. É por isso que queremos que siga o Tour masculino, para que a maioria dos canais que transmitem o Tour masculino também o façam a cobertura”.
O dirigente também faz uma avaliação técnica, muitas vezes comentada por pessoas ligadas ao esporte em conversas sobre a modalidade, segundo Prudhomme, o TDFF também precisa levar em consideração o fato de que “o ciclismo feminino tem um nível muito alto, mas é mais díspar”. Ele concluiu : “O ciclismo masculino tem um nível alto e está mais no mesmo nível. Para um organizador de provas masculino, isso é difícil – você precisa de subidas mais íngremes o tempo todo, subidas mais difíceis e assim por diante”.
Prudhomme acredita em percursos mais ‘naturais’ para as mulheres
Se organizar a prova masculina é sempre um desafio para encontrar percursos cada vez mais desafiadores, ele aponta a traçados dentro da realidade para as mulheres: “Para uma prova feminina é mais simples, você não precisa de 50 subidas muito íngremes, você pode ser mais natural sobre isso. O ciclismo feminino é muito menos controlado do que o masculino. Posso dizer que haverá ligações com o passado, com o presente e talvez com o futuro na rota do Tour [feminino]”.
Por suas posições quanto a igualdade econômica e quanto aos desafios do percurso Prudhomme já recebeu críticas, como por exemplo do CEO da Flanders Classic, Thomas VanDen Spiegel, que foi direto ao ponto ao dizer que acredita no ciclismo feminino e ao invés de chama-lo de prejuízo ele o trata como investimento, com emissoras e patrocinadores se aproximando e querendo entrar nos eventos da sua organização.
Mas as críticas mais duras vieram da ex-ciclista profissional Kathryn Bertine que disse que o diretor do TdF estava ultrapassado por pensar que as mulheres não poderiam fazer o mesmo percurso dos homes e desafiou apontando o desempenho de duas das maiores ciclistas da atualidade : “Claramente, Christian Prudhomme não viu Marianne Vos ou Annemiek van Vleuten atacar uma subida. … No triathlon profissional, ou nas modalidades de corrida, eles não mudam a distância de um Ironman ou de uma maratona para as mulheres, então por que faríamos nessa situação? “.
A posição de Prudhomme trará uma longa discussão, mas o Tour de France Feminino com 3 semanas de competição teve apenas três edições , depois passou a duas semanas até ser posta de lado pela ASO, sendo realizada, sem o mesmo apelo, por outros organizadores com outros nomes por questões de propriedade intelectual (Tour EEC Women, Tour Cycliste Féminin e Grande Boucle Féminine Internationale), sendo realizado até 2009.