Um dos poucos setores da economia que vem mostrando sinais positivos com a crise da pandemia da Covid-19, em todo o mundo, é o de bicicletas com vendas em alta e investimentos. No Brasil a startup de mobilidade urbana, voltada para as bicicletas, Tembici acaba de receber um aporte de capital de 47 milhões de dólares para expansão dos serviços, aumento de frota implementação de e-bikes e investimentos em tecnologia. Algo que pode sinalizar que as bikes obrigatoriamente farão parte, cada vez mais, do dia a dia das pessoas
Em meio à comemoração do Dia Mundial da Bicicleta, celebrado nesta quarta-feira (03/06) a startup de mobilidade urbana Tembici informou que recebeu um aporte de US$ 47 milhões (cerca de R$ 240 milhões, no câmbio do dia) em uma rodada de Investimentos. A empresa é mais conhecida por ser fornecedora do serviço de aluguel de bicicletas do banco Itaú.
O montante será direcionado para a implementação de bikes elétricas, ampliação da frota nas cidades em que já opera e desenvolvimento tecnológico.
A empresa que opera o compartilhamento das bicicletas laranjinhas (ou azulzinhas ou verdinhas, dependendo da cidade) é conhecida por ser fornecedora do serviço de aluguel de bicicletas do banco Itáu na cidade de São Paulo, Porto Alegre, Salvador, Rio, Porto Alegre, Pernambuco e outros projetos como o Bike Belém com a empresa Hapvida; o Bike VV , com o Banestes e a empresa Samp em Vila Velha/ES; o Inegrabike em Sorocaba/SP; Rivibike na Riviera de São Lourenço/SP, Unimed Bike, em Juíz de Fora/MG
O investimento foi liderado pelo Valor Capital Group e Redpoint eVentures, International Finance Corporation (IFC) – braço financeiro do Banco Mundial – e Joá Investimentos. O aporte marca a entrada da IFC no mercado de micromobilidade, já que é a primeira vez que a organização investe no setor. A startup que gerencia as bicicletas do Itaú é a primeira do segmento de mobilidade que recebe um investimento do IFC.
Com o investimento, o sócio-diretor da Redpoint eVentures, Romero Rodrigues, e o sócio-diretor e cofundador da Valor Capital, Scott Sobel, passarão a fazer parte do Conselho de Administração da empresa.
“A bike terá um importante papel no cenário pós-pandemia, já que seu uso está sendo fortemente recomendado pelos órgãos de saúde por ser um transporte individual e sustentável. Ainda mais pessoas mudarão seus hábitos e os investimentos que faremos nos nossos sistemas vão de encontro às novas necessidades das cidades e da população”, explica, em nota, o CEO da Tembici, Tomás Marti
Para Romero Rodrigues, managing partner da Redpoint eVentures, o debate sobre mobilidade urbana passará por uma mudança radical. “Já passou da hora de assumirmos a bicicleta como uma das soluções dentro dos nossos inúmeros problemas de mobilidade, principalmente no contexto pós-coronavírus. E este investimento permitirá o incentivo ao transporte verde nos trajetos, além de evitar que o medo das aglomerações leve as pessoas a aumentarem o uso dos carros”, destacou.
Seguindo a mesma linha, o sócio-fundador da Valor Capital Group, Scott Sobel, aponta os meios de transporte sustentáveis e sua importância pós-Covid19: “Estamos felizes em apoiar a Tembici e seu crescimento sustentável na América Latina. A mobilidade urbana sempre foi uma questão de grande importância na região, e acreditamos que meios de transporte individuais e sustentáveis terão um papel importante no novo normal em todo o mundo”.
Criada em 2010 por Tomás Martins e Maurício Villar, a Tembici possui como principal patrocinador a maior instituição financeira do País. A startup opera uma frota de 16 mil bicicletas em 12 cidades — 10 no Brasil, uma em Santiago e outra em Buenos Aires. Com cerca de 80 mil viagens diárias e mais de 30% de seus colaboradores ligados às áreas de tecnologias. Com os novos recursos, a Tembici projeta investir em três diferentes aspectos:
- Aumentaro número de bicicletas nas cidades em que já atua
- Estar presentes em outras cidades da América do Sul;
- Iniciar a implantação do sistema de compartilhamento de bicicletas elétricas
Ao ser comparada com outras operadoras que literalmente explodiram com o boom dos serviços de compartilhamento de bicicletas – e também com os patinetes – modal que a empresa (apesar de uma operação no Rio de Janeiro com a Petrobras que durou 6 meses entre 2018 e 21019) não abraçou com o mesmo carinho que as bikes. A Tembici optou por se portar como um ciclista estratégico em uma prova de etapas, nada de arrancadas ou ataques fora do tempo – seu ritmo de crescimento, que para muitos poderia parecer mais lento, foi mais cadenciado, mais estável que seus concorrentes, Grow/Yellow e a norte-americana Lime. A primeira chegou com estardalhaço espalhando suas bicicletas amarelas por algumas capitais brasileiras, e que depois, juntamente com a Lime inundaram cidades com patinetes. Enquanto isso a Tembici foi mantendo o serviço ou ampliando – mesmo que em menor volume – oferecendo bicicletas com maior qualidade e mais confortáveis para o que se destinam – deslocamentos urbanos em trechos curtos, disponíveis em estações sinalizadas e sem comprometer calçadas ou outros espaços públicos que não aqueles destinados para as bicicletas.
Lime e Grow enfrentaram problemas nos últimos meses, retirando bicicletas e patinetes das ruas. A Lime teve vida curtíssima em São Paulo e no Rio de Janeiro, foram apenas 6 meses de operação e um prejuízo estimado por alguns analistas em 300 milhões de dólares em toda a operação latinoamericana. A Grow, uma fusão da Yellou e da Grin, encerrou sua operação com os patinetes em 14 cidades brasileiras – Belo Horizonte/MG, Brasília/DF, Campinas/SP, Florianópolis/SC, Goiânia /GO, Guarapari /ES, Porto Alegre/RS, Santos /SP, São Vicente/SP, São José dos Campos/SP, São José /SC, Torres/RS, Vitória e Vila Velha/ES; tudo isso após ser comprada por 1 dólar e assumindo as dívidas, na casa das dezenas de milhões de dólares, pelo fundo latino Mountain Nazca, dono de marcas como Peixe Urbano e Groupon.
As bicicletas da Yellow que sumiram, estão amontoadas em algum deposito, a Grow demitiu metade de sua equipe no Brasil, as justificativas caíram sobre o coronavírus, porém quem acompanha a movimentação ou estava de olhos nas ruas e notou o sumiço das “amarelinhas” sabe que os problemas da operadora datam do final de 2019. Em comunicado a Grow que atravessa por uma situação de caixa delicada informou: “A instabilidade do cenário econômico causado pela pandemia trouxe a emergência da difícil tomada de decisão que implicou no desligamento de grande parte da equipe operacional e corporativa no Brasil”.
A chegada desse capital à TemBici é um sinal que precisa ser interpretado com atenção. A chegada dos investidores se deu no momento em que muitos países começam a mostrar seus planos de mobilidade urbana, onde a bicicleta será o diferencial para distâncias entre 3 km e agora com a nova realidade de distanciamento indo um pouco além, até uns 10 km.
Pessoas que trabalham com mobilidade ou ligadas a grupos estruturados de cicloativistas sabem que algumas cidades brasileiras tem planos engavetados para o uso da bicicleta na hora da retomada, mas estranhamente estes ainda não vieram à público, salvo um movimento discreto realizado pela prefeitura de Curitiba – é o momento que esses projetos comecem a surgir para dar sustentação às necessidades de distanciamento para evitar ou minimizar riscos de contaminação.
Por outro lado vários fabricantes, distribuidores e importadores e alguns lojistas estão vivendo na crise um momento muito especial com vendas de bicicletas, acessórios e componentes em alta, com mais pessoas adotando a bicicleta seja para a prática desportiva, lazer ou como necessidade para seus deslocamentos.
Em meio à crise é preciso identificar a oportunidade e a bicicleta, mais uma vez, se apresenta como um bom negócio