Falência de parceiros comerciais, erros administrativos como colocar um dos filhos na direção geral ou a opção de manter a produção de certos produtos no Canadá, conduziram a tradicional marca canadense de roupas e equipamentos Louis Garneau a pedir falência. “Não tenho nada para me culpar. Fiz como um corredor, dei o meu melhor” disse o fundador da empresa ao informar a insolvência, mas acredita que poderá se reerguer como depois de um tombo de bicicleta
Como muitos fabricantes de roupas esportivas, Louis Garneau praticamente deu início ao seu empreendimento impulsionado pela necessidade – a falta de roupas adequadas para a prática do ciclismo. Campeão canadense de ciclismo e classificado para os Jogos Olímpicos de 1984 em Los Angeles, decidiu que faria seu uniforme, e foi além passou a produzir em parceria com a sua esposa Monique, na garagem da casa dos seus pais roupas para a prática do ciclismo.
Ao longo dos anos, a marca ganhou o mundo graças aos cuidados com o design e a qualidade dos produtos. Com o tempo sua linha de produtos foi além das roupas esportivas, passando também a produzir capacetes, sapatilhas e bicicletas.
Louis Garneau, ex-atleta olímpico que se tornou empresário criando uma marca emblemática que carrega seu nome pessoal, apresentou na última terça-feira (3/3) os sérios problemas financeiros de sua empresa que a conduziu à falência com uma dívida com cerca de 500 de seus credores.
A conta é de 32 milhões de dólares canadenses (USD $ 23,9 milhões), e por isso entrou com pedido de falência. Desse valor 18 milhões teriam garantias e ou outros 14 não. No mesmo dia, a administração demitiu 66 funcionários de sua sede em Saint-Augustin-de-Desmaures, perto de Quebec.
“Estamos em um negócio que me fascina, é a minha vida, leva meu nome. É muito difícil, mas não vou desistir. Não é falência, é proteção ”, disse o presidente fundador na entrevista coletiva que tornou pública a situação falimentar da empresa .
A Louis Garnou ganhou respeito internacional pela qualidade e o design discreto de seus produtos, exportando para 40 países dando sinais de vitalidade. Porém, a realidade do mercado é bem diferente e a falência de dois grandes clientes internacionais – a Evans Cycles da Inglaterra e a Performance Bikes – com 102 lojas ligadas do grupo Advanced Sports Enterprises (este com dívidas da ordem de US$ 100 milhões) repercutiu no caixa da canadense que perdeu capital de giro, a empresa ficou sem dinheiro e para complicar ainda mais, a equipe financeira acabou saindo da empresa. A cerca de duas semanas outro problema com a La Cordée, uma rede canadense varejista de esportes e atividades ao ar livre que também pediu falência.
Mas de forma direta, o empresário Louis Garneau também admitiu ter cometido alguns erros, reconhecendo sua teimosia ao manter certas linhas de produção em seu pais, “Fui o último a parar de fabricar capacetes no Canadá. Ainda estou esperando perder dinheiro, fui um pouco exagerado”.
Ele também acha que as demissões poderiam ter chegado mais rápido. “Fiz de tudo para evitar o corte de empregos, em solidariedade com meus funcionários, até que o banco me disse” você corta ou somos nós que vamos cortá-lo “.
A autocritica também atinge a família, e acredita que ter nomeado seu filho William como diretor geral da empresa aos 27 anos, a cerca de dois anos “Foi um pouco cedo demais”. A estrutura da empresa é familiar, o outro filho Eduard é o diretor de ventas, e a filha Victoria, formada em Design de Moda também participa na empesa
Na coletiva de imprensa aonde apontou os problemas, Louis Garneau disse que está procurando uma nova equipe financeira, e ainda declarou estar pronto para desistir do controle dos negócios se um investidor majoritário aparecer.
As demissões “temporárias” realizadas na terça-feira (03/03) apenas deram continuidade ao processo que se iniciou com a demissão de 46 funcionários, em sua maioria costureiras e o fechamento da unidade têxtil de Saint Saint-Augustin-de-Desmaures. Atualmente a empesa tem operações no exterior com cerca de 150 funcionários no México e 50 nos Estados Unidos para garantir a produção, também tem instalações na França e naChina e outros 80 em Quebec, onde Garneau deseja manter o desenvolvimento de produtos e design. Segundo informações, as operações no exterior não estariam envolvidas no processo, aí incluídas as marcas de roupas Sugoi e Sombrio, adquiridas em 2018 do grupo Dorel e a Louis Garneau Sports
.
Segundo o empresário o erro esteve na insistência em manter sua produção em Quebec. “Não podemos mais fabricar produtos aqui, quando estamos competindo com a China”, afirmou. “O antigo modelo de fabricação em Quebec quebrou e eu quero ir para outro lugar com a empresa”, com a mudança ele acredita no potencial da sua marca e que a reestruturação poderia fazer a empresa crescer novamente, deixando claro que ser empreendedor é muito mais difícil que ser atleta, em alusão ao momento difícil que vem atravessando.
“Decidi com minha equipe lutar e fazer de tudo
para manter os negócios em St-Augustin”, disse ele. A reestruturação financeira será acompanhada de “mudanças estratégicas e operacionais
para garantir a rentabilidade da empresa no futuro”, destacando ainda que
ele e sua esposa Monique colocaram todos os seus bens e o seu fundo de pensão
na empresa .
“Eu e minha esposa estamos
perdendo vários milhões de dólares que reinvestimos pouco antes da Festas,
porque ainda acreditávamos nisso”, explica Louis Garneau. “Não tenho nada para me culpar. Eu fiz o meu melhor. “ Fechando o comunicado
distribuido à impensa com o seu tradicional slogan:
“Nunca desista”.
Entre os credores, da Louis Garneau estão a Investissement Québec (US $ 6,37 milhões), o Royal Bank (US $ 11,4 milhões) e vários fornecedores da empresa no exterior, principalmente na China e Taiwan. A marca ainda tem uma dívida da de US $ 671.000 com seus funcionários, outros US $ 56.000 à cidade de Saint-Augustin-de-Desmaures e US $ 212.000 ao Receiver General do Canadá.
Além disso há uma divida de US $ 1,86 milhão ligada à empresa Gestion Monique Arsenault, da esposa do dono. Entre os credores também aparecem um fundo de acionistas, o o FG2 trust e Louis Garneau (US $ 650.000 e também a filial estadunidense da marca com (US $ 614.500).
Um dia após o comunicado da falência, o Governo do Quebec também sinalizou de forma positiva e está avaliando a possibilidade de fornecer apoio financeiro para a recuperação da Louis Garneau, que está a sob a proteção da Lei de Falências e Insolvências. Segundo Mathieu St-Amand, secretário de imprensa do ministro da Economia, Pierre Fitzgibbon, seria uma forma de retribuir o que “Louis Garneau fez pelo Quebec”.
A reestruturação da Louis Garneau é liderada pela Raymond Chabot empresa especializada na recuperação e que está tabalhando no plano de recuperação que será apresentado aos credores. Louis Garneau está agora à procura de investidores – de preferência de Quebec – para relançar a “Garneau 5.0. O empresário deixou claro que deseja usar o período de proteção oferecido pela lei para “fazer as alterações necessárias em suas operações no difícil contexto enfrentado pela indústria e pelo setor de varejo em geral”.
Aqui no Brasil, a Louis Garneau também mantinha uma forte relação comercial com a ASW Racing /Silva Mattos e Cia. Ltda. A empresa nacional, além de representar a marca canadense, também desenvolvia uma linha de roupas para a marca canadense. Segundo Loris Verona, gerente comercial da divisão bike da ASW, a empresa brasileira, desde o ano passado, estava renegociando o contrato, porém já tinham percebido uma movimentação atípica por parte dos executivos canadenses, mas não havia uma expectativa de que a empresa entrasse em processo de falência. Ainda segundo Verona, a empresa que ainda tem o direito de preferência da marca vai acompanhar e aguardar esse momento em que a Louis Garneau buscará a sua recuperação, “porém enquanto a situação não se estabilizar é complicado retomar um trabalho mais forte com a marca”, destacou.