O aguardado duelo entre Nino Schurter e Mathieu Van der Poel não aconteceu, mas nem por isso a etapa da Copa do Mundo de XCO em Les Gets foi uma corrida morna. No empoeirado circuito travaram-se duras batalhas pela liderança. Schurter levou a melhor e Henrique Avancini mais uma vez marcou presença, atacando, ditando o ritmo e colocando a bicicleta lado a lado, não se importando quem fosse o adversário. Após 8 disputadíssimas voltas, o mountain biker brasileiro repetiu o pódio de Vallnord ficando em 3º e assumindo a vice-liderança na Copa do Mundo. No feminino Kate Courtney mantém o domínio, conquistando a sua terceira vitória em 4 etapas
A última vez que o paraíso francês do mountain bike nas Portas do Sol de Les Gets recebeu uma prova de grande expressão do cross country foi em 2004 quando ali se disputou o Mundial. Desde então, as centenas de quilômetros de pistas e trilhas ficaram exclusivamente para a competições de downhill, freeride e 4X, além do uso para treinos e lazer. Seu retorno foi em grande estilo e já estão certas as disputas da final da Copa do Mundo de XCO e DH em setembro de 2020 e lançou sua candidatura para receber o encerramento, também em 2021 além de já ter assegurado os mundiais de cross country e downhill de 2022.
Se Les Gets não é daquelas pistas extremamente técnicas, que exigem habilidade e muito cuidado no momento de escolher aonde se colocar a roda da bicicleta. Seu piso quase arenoso que compromete em muitos trechos a tração e a aderência, as longas subidas e suas descidas rápidas acabam exigindo muito do corpo dos pilotos, ao menor vacilo se perde o contato com o grupo e corre-se o risco de ficar sozinho perseguindo o grupo dos mais fortes. Nesse cenário e diante de uma multidão de torcedores franceses que comemoravam o seu feriado nacional foi disputada a 4ª etapa da Copa do Mundo de Cross Country.
A disputa do short track – ou short circuit – o aperitivo da sexta-feira (12/07) antes do cross contry, deu sinais do que teríamos no domingo. Naquela oportunidade tivemos um pódio com Mathieu Van de Poel, Avancini , o francês Koretzky e Schurter e para muitos estava certo que haveria um duelo particular entre o suíço Schurter e o holandês Van der Poel. Mas a corrida mostrou outra coisa.
Luz verde e mais uma largada que parecia a disputa de uma prova muito mais curta, com muitos competidores arrancando como se fosse um sprint para buscar a ponta do grupo, entre o medo de ficar para trás e a necessidade de se evitar as nuvens de poeira o jeito foi tentar saltar à frente. Nessa ação mais uma vez o brasileiro Avancini, buscou já desde a largada atacar e ir à ponta o grupo; lutando pelo mesmo espaço estavam Schurter e toda a legião francesa com Victor Koretzky, Jordan Sarrou e Stephane Tempier querendo mostrar serviço em casa, ainda mais no dia em que se comemora a data mais importante daquela república: a Queda da Bastilha.
A largada já fez uma pequena seleção formando dois grandes blocos, e na ponta Avancini com Schurter pendurado em sua roda e o francês Korettzky e um pouco mais atrás o checo Andrje Cink. Entre uma ação de desgaste mental, estudo dos adversários, era ainda muito cedo para se fazer qualquer previsão por havia ainda muita poeira pra ser levantada.
Após a metade da segunda volta se acendeu momentaneamente um sinal de alerta, em um trecho de descida e após uma curva rápida Avancini colocou sua roda em um montinho de areia e perdeu a roda traseira, levando o mountain biker brasileiro ao chão, e junto com ele obrigando o suíço Schurter a colocar o pé no chão. Mas nada que abalasse os dois que rapidamente se recolaram na disputa e entrando no mesmo grupo de 6 ciclistas que eles se encontravam .
Na terceira volta, surge na ponta do grupo o francês Stephane Tempier, buscando abrir diferenças sobre o grupo e levando em sua roda a Avancini que mantinha alta a combatividade. Tempier que ao final do ano ficará sem equipe pois a principal patrocinadora, a Bianchi se retirará das competições, era o único do seleto grupo de 6 ciclistas que rodavam a frente a pedalar uma bicicleta hardtail. Um pouco mais atrás apareciam Schurter, Sarrou, Cink e o italiano Gerhard Kerschbaumer que vinha crescendo aos poucos. O italiano faria uma ação mais enérgica no trecho mais duro de subida na 4ª volta, com Nino, Avancini, Tempier e Cink enfileirados. Pouco depois, já no trecho de bosque o suíço Mathias Fluckinger se integraria ao grupo.
Nesse momento já estava claro para todos que Mathieu Van der Poel que vinha de um período de preparação em altitude estava fora da disputa, com um atraso que superava os 2 minutos para o grupo ponteiro.
Cink que sofreu arritmia na altitude de Vallnord, sinalizava que se encontrava em melhor forma e atacou logo na primeira subida da 5ª volta com um grupo compacto formado por Kerschbaumer, Avancini, Schurter e Tempier seguindo a tocada.
A duas voltas do final, quando o desgaste do rápido traçado já fazia os competidores acusarem o cansaço da prova, o italiano Kerschbaumer ataca com força e apenas Avancini e Shcurter conseguem acompanhar o ritmo. A seleção estava feita e seriam esses três mountain bikers que definiriam a prova. Porém, Avancini ao final da 7ª volta começa perder terreno para o italiano e o suíço.
A última volta ficou marcada por um duelo nos trechos de subida entre Kerschbaumer e Nino que mostra ainda muita vitalidade ao atacar no último trecho de subia, deixando o italiano para trás colocando uma pequena vantagem e indo em busca e sua segunda vitória na temporada.
N1No mostrou que ainda mantém sua força e cruzou tranquilo em primeiro com uma vantagem de 4 segundos sobre o Kerschbaumer. O suíço comemorou a sua 32ª vitória em etapas da Copa do Mundo, e pedala rapidamente para empatar e quem sabe superar o recorde do francês Julian Absalon que em usa carreira conseguiu 33 conquistas nesse torneio.
Avancini mais uma vez fez uma grande prova, e de forma consecutiva, com uma diferença de 7 dias, conquista o terceiro lugar em uma etapa da Copa do Mundo e com isso saltou para a inédita vice-liderança do torneio com 915 pontos, contra os 1160 de Schurter.
O vencedor da etapa, Nino Schurter destacou as dificuldades de les Gets e sinalizou que vai em busca do recorde de vitórias: “É um traçado difícil, é muito físico. O Gerhard esteve muito forte. Fiquei surpreso quando o superei na penúltima volta, logo na última passagem me senti forte para atacar. É difícil abrir diferenças, e por muito tempo foi uma disputa aberta. A vitória de hoje foi um grande passo para a vitória na classificação geral. Eu gosto muito da pista de Val de sole e seria incrível alcançar ali o recorde de Julien”.
Por outro lado, o italiano Kerschbaumer comemorou sua evolução ao longo das etapas: “Hoje estou realmente contente. Em Albstatd, fui 14º, em Nove Mesto 9º, em Andorra 6º e hoje 2º é uma evolução. Nino hoje estava muito forte, mas eu estou muito contente. Agora vamos para Val di Sole, corrida em casa e talvez lá possa ser mais forte que o Nino em um percurso que eu gosto e diante da grande torcia que tenho na Itália”.
Com mais um resultado que destaca o trabalho que Avancini vem realizando em busca a tão sonhada vitória em uma etapa da Copa do Mundo, Avancini comentou assim a etapa de Les Gets: “Me senti bem na corrida. Sabia que no início seria muito duro, pois todos queriam andar na frente. Quando Kerschbaumer chegou ele colocou um ritmo muito forte e ao final faltou um pouco de força para estar com os dois na frente. Tive um pouco de cãimbras na última volta, mas estou bastante satisfeito com o desempenho, mas se que ainda há algumas coisas que precisam ser corrigidas”.
Com um decepcionante 16º lugar e caindo para a 3ª posição na classificação geral, o holandês Mathieu Van der Poel, revelou a um site do seu país que não tinha grandes objetivos para a etapa de Les Gets, isso após não disputar, na semana anterior a prova de Vallnord. “Havia uma chance de as coisas darem errado aqui. Estou trabalhando para o Campeonato Europeu. O objetivo é dentro de duas semanas”, essa prova acontecerá no dia 28 de julho em Brno, na República Tcheca; e um insucesso ou mesmo uma queda de produção, segundo Van der Poel estavam dentro daquilo que foi projetado pela equipe, “Eu não encontrei meu ritmo. As coisas melhoraram no final, mas já era tarde”, disse o atual campeão holandês de XCO que assim como fez no campeonato de estrada holandês quando não disputou a prova, ele também não correrá para defender o título do mountain bike.
A prova feminina, que foi disputada algumas horas antes da masculina, teve um desenrolar bem diferente ao longo das 7 voltas. A atual campeã mundial, a estadunidense Kate Courtney não deu margem ás adversárias e fez uma corrida solo em busca da sua terceira vitória, em quatro etapas da copa do Mundo e mantendo a liderança da classificação geral.
Courtney fez uma primeira volta avaliando as suas adversárias e buscando sentir o circuito. No início da prova, a alemã Elisabeth Brandau, a francesa Pauline Ferrand Prevot e a holandesa Anne Tepstra se embolavam em busca de posições. Com a atual campeã da Copa do Mundo, a suíça Jolanda Neff fazendo uma largada ruim chegando a rodar a mais de 30 segundos atrás das ponteiras. Aos poucos ela foi crescendo na prova até superar a alemã Brandau e assumir a segunda colocação.
Com mais uma vitória Courtney tem uma vantagem de 175 pontos na classificação geral, sobre a campeã da Copa do Mundo de 2018, Jolanda Neff. “Hoje fiz minha própria corrida, focada em meus objetivos e estou feliz por isso ter funcionado. Fiz minha corria e não deixei a pressão chegar. É claro que ter uma competidora como a Jolanda, que é muito forte nas subias, mas que também é alucinante nas descidas, atrás de você coloca alguma pressçao, mas eu apenas tentei manter o foco e o ritmo”.
Vice-líder da competição, Jolanda Neff comentou seu desempenho, “A primeira volta me custou muito. Estou super feliz por me manter até o final. Ainda temos três etapas pela frente e estou começando a me sentir melhor ao longo da temporada.”.
Surpresa do dia ficou por conta da alemã Elisabeth Brandau que com o 3º lugar, obteve seu melhor resultado em uma etapa da Copa do Mundo e com isso dando um salto da 11 ª posição na classificação geral para a 4ª colocação. A suíça Sina Frei ficou com o 4º lugar em Les Gets e a francesa Pauline Ferrand Prevot foi a 5ª. A brasileira Raiza Goulão ficou na 65ª colocação.
A Copa do Mundo fará uma breve parada para a disputa de alguns títulos nacionais e volta no entre os dias 2 e 4 de agosto em Val di Sole Bike Land, na Itália
MERCEDES BENZ COPA DO MUNDO UCI DE MOUNTAIN BIKE DOWNHILL
5ª Etapa – Les Gets – França – 14 de julho
Circuito de 3,6 Km x 8 voltas – 28.80 km
Elite Masculina – 118 competidores de 26 países
Volta mais rápida: Nino Schurter – 10m00 – vel. média: 21.57 km/h
1- Nino Schurter/Scott-Sram MTB Racing – Suíça – 1h22m10s
2- Gerhard Kerschbaumer/Torpado Ursus – Itália + 4s
3- Henrique Avancini/Cannondale Factory Racing – Brasil +38s
4- Stephane Tempier/Bianchi Countervail – França +48s
5- Ondrej Cink/Kross Racing Team – República Checa +48s
Elite Feminina – 73 competidoras de 26 países
Circuito de 3,6 Km x 7 voltas – 25.20 km
Volta mais rápida: Kate Courtney – 11m59s – vel. média: 18.00 km/h
1- Kate Courtney/Scott-Sram MTb Racing – Estados Unidos – 1h26m29s
2- Jolanda Neff/Trek Factory Racing – Suíça +33s
3- Elisabeth Brandau – Alemanha +1m05s
4- Frei Sina/Ghost Factory Racing – Suíça +1m15s
5- Pauline Ferrand Prevot/Canyon Factory Downhill Team – França +1m32s
65- Raiza Goulão/Audax – Brasil -3 voltas