VINHO OFICIAL DO TOUR DE FRANCE É CHILENO, E ISSO PODE DAR DOR DE CABEÇA

Confusão à vista. Viticultores Franceses estão indignados com o acordo para que os vinhos chilenos Bicicleta sejam os vinhos oficias do Tour de France. Produtores de Carcassonne estão irados e prometem fechar estradas durante algumas etapas do Tour

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Os viticultores da região do Audre, no departamento de Languedor-Rousillon estão se voltando contra o ASO – Amaury Sport Organization – organizadora do Tour de France. A raiz do descontentamento está no acordo comercial, aonde o vinho Bicicleta, do grupo chileno Cono Sur foi designado como vinho oficial do Tour de France até 2017. Segundo o jornal Le Figaro,  a mobilização dos enólogos franceses acontece de forma tardia, cerca de um ano após o anúncio do acordo. “Nós só tomamos conhecimento disso apenas a duas semanas por meio de um jornal. Ninguém nos contatou”, declarou ao Figaro, Fréderic Rouanet, presidente do Sindicato Departamental de Viticultores de Aude.

A escolha da ASO, organizadora da mais tradicional volta ciclística do calendário internacional, é incompreensível para o Sindicato de Aude que até o momento não conseguiu um canal de diálogo aberto com os organizadores para tentar um acordo. “Eles não vem ate nós, nós não os veremos. Eles (os viticultores) estão com raiva, eles tem a sensação de que foram humilhados”, desabafa Fréderic Rouanet.

O acordo prevê  a promoção dos vinhos Bicicleta apenas nas etapas disputadas além das fronteiras francesas – que nesta edição acontecerão na Espanha, Andorra e Suíça, isso porque na França há uma lei-  Evin  – que proíbe a propaganda de bebidas alcoólicas em eventos esportivos. Rouanet lamenta a falta de ligação da organização com as tradições francesas: “Na França o vinho é sagrado! O Tour de France é uma vitrine do patrimônio cultural, social e econômico. Acho incrível que ele seja representado por um vinho estrangeiro em etapas fora das nossas fronteiras”. Porém esta não é a primeira vez que a ASO dá uma “cortada de roda” nos produtores franceses, na edição de 2014 a vinícola Cono Sur, já havia patrocinado a Grand Départ – quando esta foi realizada “do lado de lá “ do Canal da Mancha, com as etapas de Leeds-Harrogate, York-Sheffield e Cambridge-Londres, e aonde foram servidas mais de 12 mil taças de degustação dos vinhos bicicleta para o público inglês. Em 2015 a ação, de forma mais discreta se repetiu na Holanda e na Bélgica.

Durante as etapas "britânicas" do Tour de 2014 os vinhos Bicicleta já fizeram parte da caravana promocional

Durante as etapas “britânicas” do Tour de 2014 os vinhos Bicicleta já fizeram parte da caravana promocional

Com 4000 membros, o Sindicato Departamental de Viticultores de Aude, promete não ficar de braços cruzados, bloqueios de estradas e manifestações dos produtores agrícolas são comuns na França, portanto não é de se estranhar que ameacem com paralisações da caravana: “ Vamos bloquear as etapas mais midiáticas”, ameaça Frédéric Rouanet. O coro dos enólogos começa a encorpar, recentemente o grupo de Jovens Agricultores do departamento de Aude se juntou para defender o savoir-fare (conhecimento) francês e de forma dura declaram: “Conhecemos as dificuldades que enfrentam todos os agricultores. O Tour de France deve apoiar os produtos franceses e não os estrangeiros” e a mobilização já começa a fazer ruído em outras regiões.

O caso já tomou contornos políticos, segundo o jornal regional L’Indépendant, o senador Roland Courteau – ligado a entidades que cuidam dos interesses do vinho e que também faz parte no senado do grupo dos “Amigos do Tour de France” teria enviado uma carta a Christian Prudhomme, diretor do Tour de France, alertando-o  sobre a incompreensão sobre a escolha de um vinho chileno “o que poderia ser feito enquanto os vinhos franceses por sua qualidade e enorme diversidade contribuem largamente para a influência da França no mundo “.

Em sua carta o senador Courteau pergunta: ” Por qual caminho estranho que poderíamos conseguir que um vinho chileno suplante os vinhos da França, no Tour de France? “. O senador pede esclarecimentos e que sejam consideradas todas as possibilidades, reforçando para que os vinhos franceses sejam representados no Tour de France  além das suas fronteiras. A 103ª edição do Tour de France acontecerá entre 2 e 24 de julho, segundo cálculos da ASO mais de 3,5  bilhões de pessoas no mundo acompanham a prova pela tevê. Para  muitos produtores locais, o Tour é uma vitrine fantástica à qual os vinhos e bebidas alcoólicas francesas  só tem acesso através das imagens dos vinhedos feitas pela tevê francesa quando estes são atravessados pelos ciclistas. Sem dúvida os vinhos chilenos podem sair beneficiados desta polêmica. Dando um sinal claro de que já foi o tempo em que o Tour de France era um verdadeiro patrimônio da cultura francesa. O ciclismo francês nas estradas perdeu suas grandes equipes e ainda falta-lhes  um ídolo que conquiste um Grand Tour;  a prova se  internacionalizou foi muito além das fronteiras francesas, especula-se a décadas de uma largada em Nova York,  surgiram os L’Etape do Tour espalhados pelo mundo e o faturamento, cada vez mais, está à frente das tradições, mesmo que para isso sejam obrigados a vender um vinho chileno, não se importando com a dor de cabeça e a ressaca que isso possa produzir no público interno.

Stand de sampling (degustação) dos vinhos Bicicleta na Grand Départ do Tour de 2014 na Inglaterra

Stand de sampling (degustação) dos vinhos Bicicleta na Grand Départ do Tour de 2014 na Inglaterra

 

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