BRASILEIRO DE ESTRADA: FUGAS E ATAQUES MARCAM AS DECISÕES DA ELITE

Com um ataque surpreendente e muita garra a catarinense Tamires Radatz conquistou seu primeiro título nacional. No masculino o campeão traz mais uma vez  a mácula de gente que pagou pelos erros do doping e que está de volta ao topo. Aos 41 anos, Roberto Pinheiro conquistou seu segundo título nacional ao entrar na fuga da fuga. As disputas da Sub23 – tanto para homens quanto para as mulheres aconteceram junto aos pelotões da Elite e os campeões são Ana Laura Moraes e Wilson de Sousa

6 meses após ser mãe, Tamires voltou à estrada para conquistar o título que faltava – foto: Thiago Lemos/CBC

No último final de semana em Palmas, no Tocantins, mais uma vez recebeu a Elite do ciclismo brasileiro para as disputas do Campeonato Brasileiro de Estrada. No mesmo percurso utilizado em 2022, e sob forte vento e calor tivemos duas realidades – apesar de todas as definições terem começado com uma fuga – no feminino a garra e a coragem de ir ao ataque e acreditar em uma ação solitária foi o grande diferencial, enquanto no masculino, pode-se dizer que a fuga dentro da fuga vingou, e quem soube se encaixar e tirar proveito de quem mais se colocou na ponta para puxar teve forças para um melhor arremate.

Roberto Pinheiro, conquista pela segunda vez o título nacional – foto: Thiago Lemos/CBC

AOS 41 ANOS, BETINHO ESTÁ DE VOLTA

A prova da Elite masculina foi disputada em um percurso de 187,2 km com um pelotão de 141 ciclistas (entre a Elite e Sub23) que desde os primeiros quilômetros já se mostrava nervoso com as constantes ações tentativas de fugas, ataques e contra-ataques.

A intensidade das ações no pelotão e um percurso que mesmo sem apresentar grandes exigências técnicas, mas um falso plano com uma longa subida em um retão, se fez extremamente desgastante e também contribuiu para quebrar o pelotão em vários grupos.

Uma grande fuga se formou com cerca de 30 ciclistas e estava consolidada com apenas 5 das 18 voltas no circuito de 10,4 km, dela sairiam os ciclistas que fariam a decisão na chegada.  O grupo se manteve praticamente unido – com muito controle e neutralização de ações até a 15ª volta – quando um ataque mais efetivo de Euller Rabelo respondido por Armando Camargo elevou a tensão no grupo que já acusava desgaste, onde nem todos conseguiam acompanhar o ritmo na mesma intensidade. O sub23 Wilson de Sousa era outro que também demostrava muita atividade no pelotão, buscando sempre uma boa colocação no grupo, sendo marcado pelo também Sub23 – Otávio Gonzeli.

A primeira grande fuga fez a selecionou o pelotão – foto: Thiago Lemos/CBC

A ruptura final do grupo aconteceu na metade da  penúltima volta quando 5 ciclistas – Felipe Marques, Alessandro Guimarães, Wilson de Sousa, Gabriel Metzeger e Rodrigo do Nascimento – se destacando com 20 segundos do grupo perseguidor que havia se formado após a primeira fuga.

Entre os cinco não havia acordo aparente no início da última volta, alguns acreditando que algum companheiro de equipe pudesse conectar-se para tentar ir para a chegada, para outros o cansaço se fazia sentir nas pernas e o grupo, na metade da última volta, se rompia com uma ação de Alessandro Guimarães que arrancou tomando a frente sendo acompanhado por Roberto Pinheiro e Gabriel Metzeger – Felipe Marques chegou a perder distância mas conseguiu se reconectar com o pequeno grupo.

O quarteto tomou a ponta com Metzeger  e Felipe Marques forçando o ritmo, enquanto Alessandro e Betinho Pinheiro mantendo a roda – atrás o garoto da Sub23,  Wilson de Sousa não conseguiu reconectar e ficou para trás, sendo engolido pelo grupo.

Faltando 600 metros Felipe tomou a dianteira acompanhado por Indinho Guimarães, enquanto o veterano do grupo, Betinho Pinheiro se colocava atrás, controlando e poupando as pernas para a chegada.

Alessandro ‘Indinho’ Guimarães, foi dos mais combativos na fuga – foto: Thiago Lemos/CBC

Após a última curva e a 300 metros da chegada, Betinho saiu de trás, arrancou e tomou a dianteira tendo ao seu lado Felipe que não teve forças para dar resposta à arrancada que assegurou o segundo título brasileiro a Pinheiro, logo atrás dos dois, Indinho Guimarães ficou com o terceiro lugar

Na disputa pelo título da Sub23, Wilson de Sousa chegou na 9ª posição geral, garantindo o título da categoria ao cruzar com 14 segundos de vantagem sobre Otávio Gonzeli, segundo colocado que superou Pedro Kunst no sprint. 

“Foi um longo trajeto até chegar aqui novamente, muitas coisas aconteceram. Toda a equipe confiou muito no meu trabalho, eu recebi mais uma oportunidade do meu técnico Kid e sou muito grato por isso. A cada quilometro que se passava na prova eu me sentia bem e consegui a vitória, tenho certeza que a minha mãe e minha esposa que faleceu estão muito felizes”, declarou Roberto Pinheiro que conquistou em Palmas o seu segundo título brasileiro.

Wilson de Sousa #179 entrou na grande fuga do dia, rodou na ponta e ao final se manteve no grupo perseguidor para conquistar o título da Sub23 – foto: Thiago Lemos/CBC

O novo campeão da Sub23,  Wilson de Sousa, enfrentou pela primeira vez uma quilometragem como a do brasileiro e conseguiu mostrar além de resistência, muita combatividade ao estar bem posicionado nos momentos decisivos, inclusive rodando lado a lado dos ciclistas da Elite. Sobre a prova, Wilson comentou: “Foi bem dura, com uma quilometragem alta, eu nunca tinha competido essa distância, então fiquei muito feliz com o resultado e agora é comemorar a medalha de ouro”.

COM GARRA E DETERMINAÇÃO 6 MESES APÓS SER MÃE RADATZ É CAMPEÃ

A catarinense de 29 anos, já havia sido campeã nacional de contrarrelógio como Sub23 em 2016  e da Elite em  2018 e 2019, agora no calor e vento da prova de estrada em Palmas, surpreendeu as demais adversárias ao atacá-las e escapar para conquistar seu primeiro título brasileiro de estrada, apenas seis meses após se tornar mãe.

Em uma ação ousada, saindo do pelotão para perseguir o grupo de ciclistas formado por Taise Benato , a primeira a se destacar e a ela se juntaram Marcella Toldi, Márcia Fernandes  e Lara Marinho que rodavam escapadas desde pouco antes da metade da prova com mais de um minuto sobre o pelotão onde estavam outras possíveis candidatas ao título como Tota Magalhães, Wellyda Rodrigues ou Thayná Araújo.

Taise Benato mostrou muita combatividade e foi a primeira a conseguir uma fuga que levaria ao pódio – foto: Thiago Lemos/CBC

Lara não resistiu ao ritmo das escapadas e começou a sofrer com cãimbras perdendo terreno na penúltima volta.

Tamires saiu do pelotão na metade da última volta no circuito de 10,3 km,  e chegou no trio faltando pouco mais de 1 quilômetro para a chegada, e nem se deteve, passou com um ritmo mais forte e se distanciou para cruzar a linha de chegada com uma boa vantagem e garantir o título nacional.

Marcella Toldi, acusou o cansaço da fuga e não conseguiu acompanhar a última aceleração para disputa das medalhas de prata e bronze, assim ficou um guidão a guidão entre Taise Benato e Marcia Fernandes.

Lara Marinho e Marcella Toldi, escapam do pelotão – foto: Thiago Lemos/CBC

Marcia Fernandes, aos 33 anos e que em junho de 2014 recebeu uma suspensão de 2 anos por uso de EPO no brasileiro de São Carlos onde havia conquistado o título nacional e posteriormente caçado pelo positivo, estava de volta à luta por um lugar no pódio; tentou arrancar e se antecipar a Taise, mas sua ação foi cedo demais, faltavam poucos metros, Taise usou os últimos metros para acelerar e deixar Fernandes para trás.

A vitória de Tamires foi uma surpresa, ela é especialista em provas de contrarrelógio com dois títulos nacionais – 2018/19, e sua ação digna de entrar para a história do ciclismo nacional pela coragem e determinação ao escapar do pelotão e fazer um ataque solo e quase uma contrarrelógio para chegar no trio de escapadas e ir sozinha para a vitória.

Tamires em seu ‘voo’ solitário para a vitória – foto: Thiago Lemos/CBC

“Este ano tem sido realmente uma grande mudança na minha vida com a chegada do meu filho, que agora tem seis meses, e conquistando o título nacional de resistência. Posso confessar que tive muitas dúvidas sobre conciliar a maternidade com a carreira de atleta, mas é impressionante como isso me deu ainda mais determinação. Estou há oito anos perseguindo esta camisa e agora chegou a minha vez. Estou muito feliz”, comentou Tamires.

As garotas da categoria Sub23 que largaram e correram junto com a Elite, também tiveram uma classificação à parte, assim Ana Laura Oliveira 9ª colocada na classificação geral, e que estava no pelotão perseguidor, ficou com a medalha de ouro, logo atrás dela chegou Pietra Meneghini que ficou com a medalha de prata, a terceira posição foi para Emanuelle Broniski.
“Estou muito feliz com essa conquista. Busquei me posicionar bem e participei de uma fuga que acabou selecionando bastante as competidoras. Por isso, fiquei atenta às atletas da minha categoria e mantive uma boa posição no grupo até o final”, declarou a nova campeã da Sub23 Ana Laura.

Campeonato Brasileiro de Ciclismo de Estrada Palmas/Tocantins

Prova em linha – Estrada

Elite feminina – 113,300 km

🥇- Tamires Radatz – Avaí FC-FME Florianópolis-APGF – 3h07m18s – vel. média 36,295 km/h

🥈- Taise Benato – Avaí FC-FME Florianópolis-APGF +5s

🥉- Marcia Fernandes – Clube Fernandes de Ciclismo +5s

Sub23 feminina – 113,300 km

🥇- Ana Laura Moraes – 3h08m57s – vel. média 35.978 km/h

🥈- Pietra Meneghini – Ass. Pedala Itapema de Ciclismo – m.t.

🥉- Emanuelle Broniski – Liga de Ciclismo Campos Gerais +1s

Elite Masculina – 187,200 km

🥇- Roberto Pinheiro – Pindamonhangaba Cycling Team – 4h19m49s – vel. média 43.230 km/h

🥈- Felipe Marques – Indaiatuba Cycling Team – m.t.

🥉- Alessandro Guimarães – Swift Carbon Pro Cycling Brasil – m.t.

Sub23 Masculina – 187,200 km

🥇- Wilson de Sousa – 4h20m05s – vel. média 43,186 km/h

🥈- Otávio Gonzeli –  Swift Carbon Pro Cycling Brasil +14s

🥉- Pedro Kunst – Taubaté Cycling Team-Tarumã-Araújo Simão +14s

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.