Jenny Rissveds mais uma vez brilha no Brasil e vence em Mairiporã com um ataque fulminante na última volta, superando a Savilia Blunk e Haley Batten. Entre os homens, uma batalha intensa que se estendeu até os últimos momentos com a arrancada final de Chris Blevins. O brasileiro Ulan Galinski obteve seu melhor resultado na Copa do Mundo terminando em 20º
Um dia após a disputa do short track e sem o sol implacável do dia anterior, apesar do calor – neste novo formato da Copa do Mundo quando a etapa não tiver no programa uma prova de Downhill – a elite feminina entrou na pista da Arena iMTB Bike Park, em Mairiporã para medir forças correndo no dia seguinte após o esforço de uma prova mais rápida, o que exigiria ainda mais do físico e da resistência em um circuito com longas e desgastantes subidas.
Vencedora do XCC, a britânica Evie Richards optou por sair com força e comandar o pelotão desde a largada e com isso esticou o pelotão formando uma longa fila; atrás dela estavam Haley Batten, Jenny Rissveds, Kate Courtney, Anne Tauber, Alessandra Keller, Chiara Teocchi, Sina Frei.
O esforço de Richards na volta de largada no percurso mais curto de 2,2 km – e talvez o cansaço do dia anterior – cobraram um alto preço e já ao final da primeira volta ela rodava na quinta colocação, a 58 segundos num mesmo grupo aonde estavam Batten, Blunk e Teocchi tentando ir atrás da suíça Sina Frei que atacou para tomar a ponta e tentar uma fuga solitária, mas a intensidade durou pouco, sendo neutralizada e superada na volta seguinte quando foi para 9ª colocação.
Na terceira volta Batten, Blunk e Rissveds se isolaram na ponta e aos poucos se distanciaram de um pelotão totalmente quebrado. Na volta seguinte Batten ataca mais uma vez, mas não consegue dispensar suas adversárias diretas.
Na última volta Batten e Rissveds correm uma controlando a outra, enquanto Savilia Blunk acompanha de perto, mas com sinais de que não terá forças para disputar um sprint com as duas. Rissveds vai ao ataque enquanto em, uma das curvas inclinadas já entrando no final da prova, Batten perde a aderência da roda dianteira e vai ao chão, deixando a segunda posição para Blunk. A sueca sozinha na ponta abriu uma ampla vantagem para conquistar sua segunda vitória no país, afinal em 2016 ela faturou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
Entre as 7 brasileiras que disputaram a prova, o melhor desempenho foi da atual campeã brasileira de XCO, Karen Olímpio que terminou na 29ª colocação; Hercília Najara ficou com o 42º lugar e Raiza Goulão 45ª.
Após a corrida, Rissveds declarou: “Foi muito bom, corri no fim de semana passado exatamente no mesmo percurso e estava um pouco entusiasmado. Meu objetivo era sentir o fluxo nas trilhas e ser paciente, então tive isso em mente durante toda a corrida. Então Haley tentou me atacar algumas vezes na última volta, mas eu ainda me sentia muito forte e sabia que ainda tinha força nas pernas”.
“O que mais me deixa feliz é que Kelsey [Urban], minha companheira de equipe e melhor amiga, se saiu muito bem. Ela tem lutado muito com sua saúde, não correu meia temporada no ano passado e tem trabalhado muito para voltar. Ela está arrasando e estou muito feliz por ela”.
Segunda colocada, Savilia Blunk, destacou sua busca pela vaga olímpica para representar o seu país em Paris’2024 : “Foi uma corrida incrível, super difícil, mas não poderia estar mais feliz. Tem sido uma primavera (ndr.: no hemisfério norte) movimentada, tenho tentado correr com alta competição para me preparar para as primeiras Copas do Mundo da UCI e me qualificar para as Olimpíadas, por isso tem sido muito trabalho nos últimos três meses. Sinto que nunca estive tão comprometida com o processo e, para que isso valha a pena hoje, não consigo explicar.”
Haley Batten, terceira colocada mostrou-se um pouco desapontada com a maneira que correu em Mairiporã: “Honestamente, acho que fui uma das mais fortes hoje e não corri como deveria. Acho que fiquei um pouco ansiosa e excitada. Você não pode simplesmente fugir das melhores ciclistas do mundo. Aprendi muito hoje, é bom saber que estou forte e é só ter certeza de que realmente executo da maneira que preciso”.
DISPUTA INTENSA ATÉ OS ÚLTIMOS METROS
Em uma corrida aberta e sem favoritos, a prova masculina da Elite, começava com o destaque para Mathias Flückiger, o suíço de 35 anos, ao entrar na pista de Mairiporã estava completando sua centésima corrida da Copa do Mundo em sua carreira.
Correndo como se estivesse em casa – e contando com o apoio da torcida brasileira – o chileno Martin Vidaurre queria mais que o terceiro lugar conquistado no dia anterior no XCC e resolveu arrancar de bandeira, duelando mais uma vez com seu companheiro de equipe, Victor Koretzky e ainda tendo em sua roda o alemão Schwarzbauer que tradicionalmente começa muito forte, e o belga Pierre de Froidmont e por perto, ciscando a ponta o estreante na Elite, o francês Adrien Boichis campeão da Sub23 na temporada passada.
A estratégia de arrancar e buscar a frente tinha sua lógica, na largada estavam alinhados 106 ciclistas, uma distração ou um tombo faria a prova ainda mais difícil e encarar as subidas iniciais na volta de largada – no circuito menor de 3.5 km – no grupo intermediário poderia ser um desastre – e para alguns foi um trecho complicado – entre um estreitamento de pista que provocou um congestionamento, vários optaram por fazer essa subida empurrando.
Na primeira volta no circuito principal, Boichis manteve-se à frente com Kortezky, Colombo De Froidmont, Sarrou, Vidaurre, Sam Gaze, Vlad Dascalu e uma fila de perseguidores. Ainda no começo da prova Sam Gaze se enroscou em um trecho de rock garden, caiu e rapidamente, praticamente sem perder tempo retomou a corrida.
O ritmo alucinante imposto por Vidaurre, Colombo, Koretzy e Dubau contribuía para separar os ciclistas em pequenos grupos. Schurter desde a primeira volta não se encontrava em seus melhores dias, sumia num bloco rodando entre 35º e 40º.
O quarteto não conseguiu manter o ritmo, e pouco depois foi alcançado por Gaze, Blevins Sarrou que retomavam a disputa pela ponta e mantendo a prova aberta e a disputa feroz e que na penúltima volta ganhou mais um integrante, o belga Jens Schuermans que em um grande esforço tentava manter-se acompanhando a roda do grupo que pouco mais tarde se somariam Schwazbauer, Avondet, Haterly, Braidot – ao todo eram 14 ciclistas rodando um atrás do outro de forma intensa.
O chileno Vidaurre partiu para o ataque, levando um contra-ataque de Filippo Colombo. A batalha entre os homens da Specialized continuava, agora Koretzky atacava o chileno na subida, e assumia a ponta, essa ação tirou alguns da disputa pelas melhores colocações para a chegada.
Blevins ataca e faz toda a descida final na frente, deixando para trás a Koretzky, Colombo, Sarrou e Vidaurre em uma chegada eletrizante e que mais lembrava uma prova em circuito curto que um cross country com uma hora e meia de pedal e mais de 30 quilômetros.
Melhor brasileiro na prova, Ulan Galinski terminou na 20ª posição, após fazer a volta de abertura em 32º lugar, passou a se recuperar, ganhar posições terminar à frente de nomes como Flückiger (21º), Sebastian Fini (31º), Nino Schurter (35º) ou Tituoan Carod (36º) e ter o seu melhor desempenho pessoal no evento; os demais brasileiros não tiveram um bom dia em Mairiporã, em sua estreia na Elite, Gustavo Xavier ficou em 55º,
Blevins, que conquistou sua primeira vitória no XCO da Copa do Mundo (ele já havia vencido no XCC em Snowshoe em 2022), declarou: “É tão surreal que estou meio atordoado agora. Este esporte é tão lindo e quando você está em dias como este, não há lugar no mundo onde eu preferiria estar. Tive um dia muito ruim ontem e acho que é uma lição. Neste esporte você só precisa ouvir o seu corpo, você sempre pode tirar mais proveito dele do que pensa”.
O vencedor ainda destacou que sua equipe conseguiu colocar três ciclistas entre os 5 melhores: “Sonhávamos com um dia como este porque estamos todos na mesma equipe. Não sei se isso já aconteceu na história do mountain bike, três da mesma equipe no pódio? (ndr.: cinco melhores ) Eu amo esses meninos; Eu amo essa equipe ao meu redor. Não pensei que hoje pudesse ser o meu dia, mas você só precisa sempre acreditar em si mesmo e tudo é possível. Brasil, você é incrível, espero que voltemos todos os anos”.
Segundo colocado, o francês Victor Koretzky , vibrou com o despenho da equipe: “Hoje foi uma corrida super tática, e administramos muito bem. Vencemos a classificação por equipes, é incrível, e podemos esperar agora pelo próximo fim de semana. Estou muito orgulhoso de Chris, pois ele teve dois anos muito difíceis e agora está de volta à frente e ao pódio”.
Filippo Colombo destacou o seu retorno ao pódio: “Trabalhei muito neste inverno durante a minha lesão e estou emocionado por estar de volta ao pódio lutando pela vitória até a última volta. É uma pena, mas Blevins era o mais forte. Tentei tudo que pude”.
Whoop UCI MTB World Series – Copa do Mundo de Mountain Bike – Mairiporã
XCO– Cross Country Olímpico
Elite Feminina – circuito 2.2 km + 5 voltas x circuito 4.2km – 23.20km – 62 competidores de 26 países
1- Jenny Rissveds – Team 31 Ibis Cycles Continental – Suécia – 1h117m18s – vel. média 18.007 km/h
2- Savilia Blunk – Decathlon Ford Racing Team – Estados Unidos +27s
3- Haley Batten – Specialized Factory Racing – Estados Unidos +45s
4- Chiara Teocchi – Orbea Factory Team – Itália +58s
5- Jolanda Neff – Trek Factory Racing-Pirelli – Suíça +1m09s
29- Karen Olímpio – Brasil +6m47s
42- Hercília Najara – Brasil +9m29s
45- Raiza Goulão – Brasil +10m37s
51- Isabella Lacerda – Brasil +12m07s
52- Liege Walter – Brasil +12m49s
59- Danielle de Moraes – Brasil -2voltaS
60- Marcela Lima – Brasil -3voltas
Elite Masculina – circuito 3.5 km + 7 voltas x circuito 4.4km – 34.30km – 106 competidores de 30 países
1- Christopher Blevins – Specialized Factory Racing – Estados Unidos – 1h30m – vel. média 34.30 km/h
2 – Victor Koretzky – Specialized Factory Racing – França +2s
3- Filippo Colombo – Scott-Sram MTB Racing Team – Suíça +3s
4- Jordan Sarrou – Team BMC – França +5s
5- Martin Vidaurre – Specialized Factory Racing – Chile +5s
20- Ulan Galinski – Caloi-Henrique Avancini Racing – Brasil +1m36s
54- Gustavo Xavier – Specialized Racing BR – Brasil +7m39s
65- Sherman Trezza – Brasil +9m36s
66- Rubens Valeriano – Sense Factory Racing – Brasil +9m54s
70- Nicolas Machado – Sense Factory Racing – Brasil -1volta
71- Rodrigo Rosa – Brasil -1volta
72- Carlos Alberto Olímpio – Brasil -1volta
74- Luiz Henrique Cocuzzi – Brasil -1volta
77- Flávio Lobo – Brasil -2voltas
79- Leandro Donizete – Brasil -2voltas
80- José Gabriel Marques – Brasil -2voltas
82- Mario Couto – Brasil -2voltas
87- Cristian Lazzari – Brasil -3voltas 88- Gabriel Gaspar – Brasil -3voltas