Não há como negar: a 9 de Julho esta no caminho de resgatar a sua história e também a de se tornar a mais importante prova popular do ciclismo brasileiro graças à participação de um pelotão gigantesco com mais de 1600 ciclistas largando no pelotão de Aspirantes. Ao todo mais de 2000 ciclistas participaram da corrida que coroou o casal Joel Prado Jr e Daniela Lionço como os grandes vencedores
A tradicional prova de ciclismo 9 de julho, criada em 1933 pelo jornalista Cásper Líbero para render homenagem ao movimento dos paulistas de 1932 por uma constituição chegou a sua 70ª edição. A aprova ao longo dos anos viveu seus altos e baixos, cortou a cidade, cruzou estradas e chegava nas ruas centrais, deu voltas no Parque do Ibirapuera, por várias vezes foi levada ao autódromo de Interlagos e entre 2011 e 2014 por falta de acordo entre a Federação Paulista e a Fundação Cásper Líbero, verdadeira dona da prova, a competição deixou de ser realizada dando lugar ao GP São Paulo, porém no ano passado as duas entidades chegaram a um acordo, e a mais importante clássica do ciclismo brasileiro voltava às ruas da capital paulista, graças também a um acordo com prefeitura da cidade que apoiou a iniciativa.
Se em 2015 os 54 quilômetros da prova da Elite masculina e a prova feminina corrida por um pelotão único receberam merecidas criticas, a 70ª edição passou por boas e importantes correções. Talvez a mais importante tecnicamente, foi o aumento da quilometragem. Os homens e mulheres da elite pedalaram respectivamente 96,4 km e 73,7 em dois circuitos, a primeira volta em um traçado de 28,3 km e depois em outro de 22,7 km.
Porém a fundação Càsper Líbero deixou claro durante a apresentação desta última edição que deseja tornar a 9 Julho um grande evento popular, a referência está na própria casa com a São Silvestre, a mais tradicional prova do atletismo brasileiro de rua. As inscrições gratuitas, uma contrapartida que isenta os organizadores de eventos das taxas para o uso do espaço urbano (e isso veio graças a ação de vereadores paulistanos que criaram uma lei para o apoio e desenvolvimento do esporte na cidade), serviram para fazer a prova crescer; foram mais de 2000 inscritos divididos nas categorias Aspirantes masculino e feminino, Federados masculino e Feminino e a categoria mais importante do ciclismo nacional a Elite masculina e Feminina.
Os primeiros a encararem o desafio de 28,3 km foram os aspirantes, que às 6h45 da fria manhã paulistana com os primeiros raios do sol já estavam alinhados para a disputa. Um pelotão gigantesco se formou na Avenida Lineu de Paula Machado, popularmente conhecida por Avenida do Jockey e que por muitos anos era local de treinamento de muitos ciclistas. A prova foi bem tensa, só de imaginar o tamanho do pelotão com mais de mil ciclistas já é possível fazer uma ideia do que rolou ao longo do percurso. Talvez para as próximas edições uma boa solução seria dar largadas em blocos de 200 ciclistas como acontece em algumas provas de atletismo de rua, isso poderia minimizar algumas quedas e também melhorar a competitividade de muitos.
Além do lado desportivo e histórico a 9 de Julho, para os fãs do ciclismo, também serve como um momento do ano para reencontrar amigos e falar de esporte, é assim já faz muito tempo, e a conversa quase sempre é sobre ciclismo, bicicletas e política do desporto. Se a prova ainda não conseguiu atrair um grande público à chegada – sim ainda somos os mais fanáticos e familiares a assistirmos a passagem do pelotão – o ressurgimento da prova pode, com o tempo, torná-la novamente uma atração para o grande público, afinal ela passa por alguns locais de grande movimento em finais de semana e feriados como os parques do Povo, Ibirapuera e Villa Lobos.
A prova da Elite masculina foi marcada por um ritmo bem intenso, tivemos algumas tentativas de fuga, porém com um pelotão muito compacto girando em amplas avenidas da capital paulista com velocidade sempre elevada, muitas vezes superando os 50 km/h não dava muito espaço para ações aventureiras, a prova estava toda desenhada para uma chegada massiva . No pelotão chamavam a atenção os olímpicos Kleber Ramos e Gideoni Monteiro que chegou da Suíça aonde fazia sua preparação e em menos de 24 horas estava alinhando para disputar a clássica 9 de julho.
No pelotão também estavam o campeão de 2015, Joel Prado Junior/Green-Piracicaba, e os homens da Funvic-Soul Cycles Flavio Cardoso vencedor do GP São Paulo de 2014, Roberto Pinheiro vencedor do GP São Paulo de 2013 e da 68ª 9 de Julho disputada no Autódromo de Interlagos e também o velocista argentino Francisco Chamorro vencedor da primeira edição do GP São Paulo em 2012 e da 67ª 9 de julho em 2010, entre outros nomes que costumam se apresentar para chegadas no plano.
A chegada se deu com um grande grupo de onde se destacou o campeão de 2015, Joel Prado Jr. que soube aproveitar o trabalho dos homens da Funvic, Osasco e Taubaté que se apresentaram em maior número para a finalização no quilômetro final. Prado Jr, da Green Piracicaba atacou no momento certo para cruzar, com uma pequena vantagem, à frente de Bruno Tabanez e do campeão de 2011, Roberto Pinheiro, de um surpreendente Gideoni Monteiro e de Cristian Egídio da Rosa.
Joel , após a corrida contou como foi o seu bicampeonato consecutivo na 9 de Julho: “No decorrer da prova comecei a ficar preocupado quando começaram os ataques com algumas fugas, pensando que talvez não conseguisse vir para a chegada, foi quando aconteceu uma fuga comprida, bem grande aí eu tive que assumir o momento e saltar na fuga o que me deixou mais calmo. Ai São José (ndr: Funvic-Soul Cycles) assumiu daí me dei conta que poderia entrar no sprint. Com 600 metros houve um ataque, mas todos ficaram receosos , estava entre o 7º e 8º e faltando uns 150 metros consegui ir para a frente e ir para a vitória”.
O vencedor também apontou as dificuldades encontradas durante a prova: “Corremos praticamente em três Eriberto, Novello e eu, porque o Erick teve um imprevisto com sua roda e o Alessandro também teve um imprevisto, no meio da prova, com sua bicicleta. Mas a prova foi excepcional, todos me ajudaram, estiveram perto de mim em tudo que eu precisava. Ótima prova, em circuito muito rápido”
Quem também comemorou muito o pódio foi Gideoni Monteiro, que não tinha nos planos uma boa colocação pois estava muito preocupado em completar a prova, mas sem se envolver em ações que pudessem coloca-lo em risco faltando um mês para os Jogos Olímpicos.
No pelotão feminino também tínhamos algumas campeãs que pedalaram em busca do tricampeonato da 9 de Julho. Camila Coelho/Memorial Girls bi-campeã em 2008 e 2015, e campeã do GP São Paulo de 2014 e Luciane Ferreira, correndo nesta tempoara pela equipe argenina da Weber-Shimano Ladies Power vencedora em 2005 e 2007 e campeã do GP São Paulo de 2012 que entraram para tentar igualar as conquistas das tricampeãs Janildes Fernandes 1998/99/2000 e de Débora Gherhard/2006/09/10. No feminino a maior campeã ainda é Claudia Carceroni com 4 vitórias (1991/92/2002/04).
As garotas da Elite fizeram as três voltas rodando de forma compacta com a Memorial Girls, desfalcada de Ana Paula Polegatch que estava disputando o Giro Rosa na Itália, tentando comandar o pelotão. Para o sprint final, as ciclistas começaram os ataques logo ao sair do túnel, foi uma sessão de ataques e contra-ataques feitos no último quilometro, nos metros finais Luciene Ferreira tentou antecipar o pelotão, colocando-se à frente das Memorial Girls – Wellyda dos Santos, Thayná de Lima e Camila Coelho, porém quem soube aproveitar o trabalho das demais equipes foi Daniela Lionço, que soube atacar a ação das adversárias para saltar à frente do grupo e vencer a clássica 9 de Julho, após o segundo lugar no ano passado.
“Hoje de manha, o nosso técnico Francisco Manzo me disse: acredita no seu sprint, hoje você tem condições de fazer um bom resultado, você tem um sprint bom. Eu falei Manzo: você tem certeza, acho que estou bem para fazer uma outra coisa. E ele insistiu, me disse que acreditasse “ disse Daniela que também contou como foi a sua prova: “Tivemos que correr muito espertas, estávamos só em duas na equipe, a Shimano Ladies da Argentina que estava forte e a Memorial estavam em 6, a nossa corrida foi o tempo inteiro buscando, tentando neutralizar ataques, saltando na roda, não tivemos um momento para descansar ou tentar recuperar, tivemos que ficar a corrida inteira em cima e na hora que viemos para chegada foi questão de acreditar. Mas foi uma chegada nervosa”.
Não é sempre que um casal vence uma grande prova, Daniela e Joel conseguiram essa façanha na clássica mais tradicional do calendário brasileiro. Ao final a emoção estava estampada nos rostos. Joel declarou que chegou a ficar arrepiado ao saber que a esposa havia vencido a prova e confirmou que os dois estão felizes pois dão um sinal de que estão fazendo a coisa certa, trabalhando de forma séria e entrando sempre nas corridas de cabeça erguida. Porém, apesar do resultado nem tudo são flores no dia-a-sai do bi-campeão: Joel não sabe qual será o seu futuro para a próxima temporada, sua equipe a Green-Piracicaba está enfrentando problemas com um orçamento reduzido, a equipe está em busca de patrocinadores para manter a equipe competitiva. Em ano olímpico e após o cancelamento do Tour do Rio e da Volta do Paraná é hora de começar a pensar no futuro do esporte. A 9 de Julho tem a função de resgatar e recolocar o ciclista nas ruas o que é importante para a modalidade e para toda a história do ciclismo brasileiro. Ao que tudo indica a Fundação Cásper Líbero está animada com os resultados obtidos além de colocar a força da TV Gazeta fazendo reportagens e entradas ao vivo com alguns flashes da corrida, o que é um sinal positivo e deixa ciclistas e fãs do esporte animados quando ao futuro da mais tradicional clássica do ciclismo brasileiro, porém o esporte a pedal precisa de muitas outras provas como a 9 de Julho.
70ª Prova Ciclística 9 de Julho
Elite Masculino
1- Joel Prado Jr./Green-Piracicaba – 2h06m47
2- Bruno Tabanez/Osasco-Penks
3- Roberto da Silva/Funvic-Soul Cycles
4- Gideni Monteiro/ Memorial -Santos-Fupes
5- Cristian Egidio da Rosa/DataRo
Elite Feminino
1- Daniela Lionço/Funvic-Soul Cycles – 2h25m27s
2- Luciene Ferreira/Weber-Shimano-Ladies Latam – m.t.
3- Wellyda dos Santos/Memorial Girls-Santos-Fupes m.t. u23
4- Thayná Araújo de Lima/Memorial Girls-Santos-Fupes m.t.
5- Camila Coelho/ Memorial Girls-Santos-Fupes m.t.
Master Feminino
1- Cinara Costa/ACE – 2h15m56
Federados Masculino
Sub30- Guilherme Burger/Liga de Ciclismo Sorocabana – 2h23m31 (vencedor geral)
30/34 – Emerson Hernachi /Bardahl-Promax-Cajamar – 2h23m31
35/39 – Edgar Akira Tokko/Bardhal-Promax-Cajamar – 2h23m31
40/44 – Silvio Valesi – 2h23m32
45/49 – Rostan Piccoli – 2h23m34
50/54 – Martin Algorta/ECTaubaté – 2h23m34
55/59 –Milton Takahara/ADI-Indaiatuba – 2h23m45
Veterano – Ricardo Venturelli/Tarumã-Cherauto-Café Bambi – 2h27m01
Aspirantes Feminino
19/24 – Gabriele Bezerra/Pedal na Veia– 52m06s
25/29 – Gabriele Bezerra/Pelotão das Mina – 41m00
30/34 – Márcia de Camargo/Nexs – 41m06s
35/39 – Sheila Simões/ Alcance Team – 38m52s (vencedora geral)
40/44 – Karina Camargo/Velo48 – 41m02
45/49 – Vitória Maria Lopes/Pelotão das Mina – 41m16s
50/54 – Maria Vangela de Sousa/Ludão – 41m37s
55/59 – Mirian Kracochansky/Ciclofemini-Pelvic Center – 45m34s
60/+ – Maria Teresa D’Aprile/Saia Na Noite – 1h19m26s
Aspirantes Masculino
19/24 – Daniel Conti de Oliveira/Ciclo Ravena – 36m53 (vencedor Geral)
25/29 – Matheus Torquetti – 36m53
30/34 – Anderson Talaia/Clandestinos & Piratas – 36m55
35/39 – Hudson Pereira dos Santos/Peterturbo – 36m56
40/44 – Moisés Silva Gomes – 36m56
45/49 – Fábio Veloso/Ass Hernandes Quadri – 36m54
50/54 – Cleber Ricci Anderson/Anderson Bicicletas-Khelf-Cannondale – 36m56
55/59 – Bruno Caruso/Vélo48-Cannondale – 36m59
60/+ – Carlos Frederico Tejada/Race-Casa Fernandes de Pneus – 40m47